(Botero-pintor Colombiano)
(Cidade de Bogotá)
Esta linda cidade que hoje se apresenta arrumada e protegida como nunca é a nova Bogotá.
Há três anos meu marido esteve por lá a trabalho e o que viu impressionou-o enormemente, já que a mesma sofreu por décadas o massacre dos narcotraficantes que infernizaram sua população como agora é visto aqui no estado do Rio de Janeiro. Mas, hoje, mesmo a Colombia sendo considerada o maior produtor mundial de cocaína, com 800 toneladas anuais, e um dos principais fornecedores de heroína, com sete toneladas, sua capital, Bogotá, está fortemente protegida por militares ostensivamente preparados e equipados, oferecendo paz e liberdade às pessoas para que possam locomover-se tranquilamente a qualquer hora do dia ou da noite.
E o que foi que ele viu e sentiu por lá?
- Policiais estão sempre presentes em qualquer lado que você olha. Até mesmo em frente aos prédios residenciais.
(Prédio residencial guardado)
- Blitz para verificação de documentos em dia de motoristas ou motociclistas.
Como as motos eram os veículos mais utilizados para sequestros ou pequenos delitos, podiam se esquivar do
trânsito, hoje são obrigados, todos, sem exceção, desde à pequena moto à grande Harley Davidson que seus
ocupantes, carona e piloto, tenham uma sinalização de número de cadastro afixadas nas costas.
Se alguém trafegar sem a mesma ou se não pertencer à pessoa cadastrada, a prisão é imediata.
Com isso, ninguém transita mais de forma não identificada pela cidade, coisa que marginal vagabundo deixou de
fazer.
- Cães - milhares e milhares, tanto nas guardas oficiais como nas particulares, farejando carros ou pessoas
que entram em Shoppings, lojas ou prédios. Eles farejam não só cocaína como também artefatos explosivos.
Detalhe: a grande maioria, mais de 90% da raça, é de Retrivier Labrador. Tanto que quando meu marido chegou
por lá ficou admirado com a beleza dos vira-latas soltos nas ruas, mas que na verdade são vira-latas oriundos de
cruzamentos com cães belíssimos de grande porte.
- Não percebeu mendicância nem crianças em sinais pedindo ou esmolando.
- Hoje, a maior criminalidade exercida é o chamado sequestro-relâmpago, porque a idéia é sequestrar, tirar logo
uma parcela de dinheiro e devolver a pessoa. As empresas colocam sempre algum guarda-costas
para proteção de seus funcionários estrangeiros quando estão lá em visita.
Estas e outras medidas, geraram um clima de confiança e tranquilidade na população que aceitou estas condições para reaver sua liberdade. Deu certo lá e porque não daria aqui?
Ao meu ver, hoje, o Rio de Janeiro necessita de medidas como estas, de forte impacto, pragmáticas, de sufocamento e extermínio dos traficantes que dominam a cidade e não deixam seu povo viver tranquilo, desfrutando toda a beleza que nos cerca, assim como a alegria e 'savoir faire' carioca, que sempre foi a nossa maior característica e orgulho.
Alguém poderá me dizer: Mas uma cidade tão linda, de praias que sugerem turismo e ar livre, cheia de militares e cães farejando, não vai ficar bem, não combina! E eu respondo que é o mesmo que chegar para uma moça bonita e dizer que ela tire os óculos, pois ficará mais sexy ou linda, porém o que adianta se não conseguirá ver com clareza.
O Rio é bonito, todos sabemos, não há como negar, mas quase ninguém usufrui de suas florestas, de seus parques, de suas praças. À noite então, quem tem coragem de andar a pé numa orla? Só em novelas do Manoel Carlos que uma mulher anda de madrugada pelas areias da praia de Copacabana ou do Leblon.
As operações feitas nestes dias infernais e que estão sendo mostradas pela televisão exaustivamente para todo o mundo, não terão efeito de combate definitivo já que não é uma ação sistematizada, dentro de um programa e sim, algo esporádico, talvez político para mostrar que suas UPPs são fantásticas e que trarão a paz total às comunidades e ao resto da cidade. Não adiantará em nada somente a aplicação de força se não entrarem em conjunto nestes lugares, levando primeiramente socorro psicológico às vítimas, educação para os jovens que estão ligados, como recrutas cegos, endeusando aqueles que eles consideram seus ídolos, no caso, os malditos traficantes. Tudo isso porque o Poder Público os esqueceu há décadas e o resto da sociedade alijou-os do processo de crescimento, fingindo que não estava vendo ou ouvindo suas vozes, quando num certo momento, há anos atrás, começou a ser veiculada esta música "Tá dominado, tá tudo dominado".
Na tal Pirâmide de Maslow estão vários degraus abaixo.
Outro ponto que ninguém toca, nem a própria mídia; o tráfico existe para atender seus clientes. Então, estes clientes não vão ser bloqueados? Ou os culpados são somente os narcotraficantes? Essa história toda existe porque alguém compra e, por conseguinte, financiam. Quem são estes? A grande maioria de classe média e alta com poder aquisitivo que banca tudo isto, este fluxo contínuo. Mas, aí o buraco é mais embaixo. Porque dar tiro em bandidinho de morro é fácil, são infelizes, são invisíveis, sem nome para a sociedade. Agora, o comprador de cocaína pode ser um engravatado, um global, artista consagrado, lindo de morrer que todos amam e veneram.
E nesse movimento todo ainda não assistimos nada, comentado neste sentido. Grande passo poderia dar a nossa esfera jurídica de forma a conceber uma proposta que contribuisse de forma a responsabilizar esses consumidores que neste ciclo fomentam o caos que passamos.
Eu quero cachorros farejadores nas ruas, guardas em todas as esquinas, soluções para o caos urbano, educação para o povo e a minha cidade de volta.
Eu quero voltar a ser carioca. Ufa!
-------/------
O texto abaixo é do excelente comentário que o amigo ManDrag deixou-me e que considero de suma importância para arrematar meus pensamentos aqui deixados.
... O Rio é muito mais que Copacabana, Ipanema, o Pão de Açucar e o Redentor. O Rio não é uma cidade bonita. Quando chego ao Rio de Janeiro vejo a cidade num todo, com aqueles infindáveis bairros feios e paupérrimos, de barracos sem reboco amontoados como vespeiros. O Carnaval do Rio é a maior falácia que já vi, em que se exporta para o mundo inteiro uma falsa imagem dum Brasil de liberdade e igualdade. Onde está essa liberdade e igualdade? Basta olhar para qualquer favela ou bairro de periferia para entender que este é um país com várias liberdades e diferentes igualdades. Um Brasil em que uns são mais brasileiros que outros. ...
Concordo plenamente com suas palavras, em especial este trecho, pois o que é belo no Rio é a junção de sua natureza que se espalha entre o mar, rios, montanhas, florestas e bairros unidos. No entanto, hoje, o que se vê é uma cidade transformada e embolada de prédios ricos e sub-moradias no seu entorno, mas as imagens que são transmitidas para todos aqui dentro e lá fora, sempre é do Redentor e suas praias. O Rio é muito mais que isso.