.....................................................................................................................................................................Porque não só vives no mundo, mas o mundo vive em ti. .....................................................................................................

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Roda mundo, roda gigante





Gira o mundo, pessoas aqui e acolá, convivência cada vez mais difícil nas grandes cidades e tolerância zero que alguns adotam, seja para se proteger ou para se impor, sem consideração com o próximo e numa arrogância como se fosse o único ser humano a existir na face da terra.

Ontem, ao voltarmos pra casa de um jantar com amigos, havia um caminhão enorme de lixo, na contra-mão, quase em frente ao meu prédio, retirando os sacos que os porteiros colocam para serem retirados  à noite no bairro.  Percebemos um carro parado à nossa frente e meu filho se colocou atrás do mesmo, com calma e educação aguardando o motorista e os garis fazerem seus serviços. De repente, um carro grande, uma pick up, preta de vidros igualmente pretos e fechados, colou na traseira do nosso carro e piscava insistentemente, sinalizando que queria rapidez ou entrar logo no prédio ali à direita.  Pedimos ao filho para dar passagem ao vizinho apressadinho e mal educado que não poderia, como nós, aguardar a operação do lixeiro, e assim deixamos ele passar com empáfia e entrar no seu prédio, quase arranhando a grade de entrada do mesmo.  Menos de 1 minuto depois, o caminhão de lixo saiu do local que estava e deu-nos passagem.  Nosso prédio era um mais na frente do tal vizinho.

Não entendo como alguém possa se comportar de forma tão mal educada e insensata, querendo levar vantagem em tudo e sobrepondo-se às outras pessoas.  A cada dia cresce o número de pessoas agindo assim e sempre escondidas atrás de vidros pretos de seus carros.  Esta é uma atitude muito comum nos bairros de classe média de nossas grandes cidades e tudo isso cansa, leva-nos a questionar se vale mesmo a pena ter este convívio diário tão desgastante ou se a vida no campo é mais humana e menos predatória.

O texto abaixo, já deixei aqui uma vez, mas acho que vale a pena fazer uma releitura de como seria esse homem/mulher cordial, vizinhos perfeitos, cidadãos do futuro, habitantes impecáveis de um mundo apinhado e tolerante.



(Por Adília Belloti - jornalista-editora do IG)



Vamos ver…

- dizer por favor, muito obrigado/a, com licença, básico
- respeitar filas, à pé, de bicicleta, de carro
- ser generoso com os sorrisos
- e muito econômico nas críticas
- saber quando oferecer ajuda
- e quando manter distância
conhecer o mundo o suficiente para apreciar seus múltiplos aspectos
- e tolerar conviver com seres diferentes de si mesmo

não deve se intimidar com costumes exóticos, ao contrário, encontrar o vizinho tailandês caçando grilos ao entardecer para fritá-los no jantar deveria no máximo provocar nesse ser cordial um sorriso de cumplicidade e, eventualmente, com graça e elegância, ele poderia oferecer uma lanterna

- precisa dominar a arte de conversar, sobre o tempo, economia, política, futebol e até religião sem perder a expressão afável e, sobretudo, jamais, nestas situações, ameaçar seu interlocutor com a possibilidade de, a qualquer momento, transformar-se num missionário furioso
- e saber ouvir é fundamental, numa proporção de, digamos, três perguntas realmente interessadas sobre o outro, para cada minuto de conversa sobre si mesmo

- manter sua vida privada, privada, o que pode parecer óbvio, mas não é, algumas pessoas insistem em compartilhar suas preferências e hábitos mais íntimos, incluindo nessa longa lista de coisas para fazer apenas entre quatro paredes, singelezas, como coçar-se e arrotar, só para dar dois exemplos banais

- evitar compartilhar com os vizinhos seus gostos musicais também é bom preceito, mas compreender que existem festas para as quais não somos convidados e elas podem acontecer bem do lado da nossa janela também é…
exercitar o olhar direto, amistoso, ao cruzar com outros seres humanos, ousar um cumprimento: bom dia, boa tarde, boa noite! Ser gentil não é obrigação apenas dos políticos…
entender que a rua, o bairro, a cidade não são exatamente “seus”, são de todos, agora, o seu cachorro, ele é só seu… (isso, aliás, vale para todo o seu lixo e para o seu carro quando ele está parado na frente da garagem do outro ou em um lugar proibido, por exemplo)

agradecer, sempre e pedir desculpas, quando for o caso, o outro nem ligou? O ser cordial sabe que a maior parte das vezes em que somos de fato cordiais não é por causa do outro, é para alimentar uma sensação gostosa de que afinal estamos longe das selvas…

Tudo isso porque, você sabe, não basta escolher o prefeito e o vereador, você, e cada um de nós, precisa começar já a escolher o tipo de cidadão que gostaria de ser."




quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Eu ouço seus sotaques (parte II)



(Este post foi escrito em fevereiro de 2009 e reedito agora com novos personagens)


Uma das coisas que admiro no Brasil é a capacidade, desde a época do Império, inclusive mérito de D.Pedro II, de mantermos uma só língua falada neste imenso território continental. É a nossa Língua Portuguesa.
Sabemos que tem países aí fora pequeninos e com uma variedade de línguas ou dialetos impressionantes, como é o caso da Espanha, onde fala-se pelo menos 4 línguas: o castelhano, gallego, euskara e catalão.
A Índia, então nem se fala, ou melhor, falam mais de 400 idiomas e dialetos. Uma loucura!


No Brasil, apesar de todo este gigantismo, a gente consegue falar a mesma língua e isso é maravilhoso, mostra o quanto somos irmanados e um povo não-bélico. Provavelmente pela nossa pouca idade, apenas 500 anos.

Mas, os sotaques às vezes soam como dialetos de tão distintos que são.

Aqui pelo blog passam diversos sotaques, só que não são ouvidos, apenas lidos nos comentários deixados todos os dias. Mas, fico imaginando como seria ouvir aquilo que por exemplo, a Renata Lopes Costa, linda gauchinha, escreve nos seus posts carregados de um palavreado a que ela chama de 'bagual', próprio lá debaixo, do sul do país. Confiram neste post super criativo e simpático que ela escreveu. Vejam a diferença da linguagem e tentem imaginá-la com seu sotaque gaúcho pomposo e bonito. 
Incluo também aAna em Lavras, Flávia em São Gabriel e o amigo James em Santa Catarina. 
 Sem contar a querida e inquieta Chica que é outra gauchona carregada dos sotaques.  Bahh, mas lá é tri legaaal neehmm!
 
Posso imaginar também as outras amigas, como a Lucianaque mora na Noruega, mas é do Rio Grande do Norte e tem o sotaque aberto e alegre dos nordestinos. A Renatinha em Boston, mas que é de Goiás e fala nos diminutivos como os 'mineirins'. Lembrando também da Lúcia Soares que é mineira de 'Belrizonte' e o Cacá que é 'bom dimais sô"!  E Ana Karla e sua mãe Lulú que devem ter um lindo sotaque de Olinda, terra do frevo e maracatu, com vogais abertas bem pér-nambucano. Adoooro!

Sem esquecer da Laura na França, resmungando do 'frio danado sô que tá fazeno', mineirinha não gosta disso não, uai!  E a Nilce em Piên no Paraná, será que fala que nem aquela de Pato Branco da televisão?!

Tem também a Barbrinha que é paulistinha e arrasta nos éres e é muito linda falando ao telefone.  A Somnia que morou na Suécia, mas que continua com os rrrs paulistanos de interiorrrrr deve dar um toque bem russo ao sueco que esteve aprendendo. Paulistinhas também são as bonitas Luciana e Heloísa santista da gema e Silvia Masc.  Já conferi pessoalmente os sotaques das três e não esquecerei jamais suas vozes. 


Até mesmo uma carioca como eu, que fala meio cantando e carrega nos chiados, mas que mora há anos nos Estados Unidos e insiste em dizer que não tem português com sotaque, como é o caso da Lucinha. Duvido!  Deve 'enrolar' a língua de vez em quando! haha
A Geórgia, carioquíssima, mesmo morando na Alemanha há anos guarda seu sotaque intacto, pude comprovar isso ao telefone noutro dia.


E o amigo brasileiro que mora no Japão, visita a tantos todos os dias, desconfio até que tenha um clone, mas é paulistano, será que já fala com sotaque de japa? Queria tanto ouvir o querido Alexandre, saber, como dizia o Pequeno Príncipe, qual será a cor de sua voz?


Fazer comidas gostosas com pitadas brasileiras na Itália deve deixar um charme o sotaque da linda amiga Léia que casou-se com um italiano e o fez amar também nossa terra.

Existe até uma indiazinha, misturada com alemão e que escreve que é uma beleza, mas não consigo imaginar como será morar na Alemanha e ter filhos e marido alemães com uma alma repleta de memórias amazonenses - ahhhhh Nina, queria muito saber como é o seu sotaque nestes anos todos aí tão longe!

As meninas capixabas Giovana e Terezinha que já conheço pessoalmente e têm um sotaque bonito com ssss bem colocados, embora Terezinha seja carioca, mas de tanto morar longe, foi pegando um bocadinho de sotaque daqui e dali.

Não poderia deixar de falar dos meus queridos amigos lusitanos. Alguns que já conheço pessoalmente como o Rui em Coimbra, a Manuela no elegante Porto, fico a imaginar como será sua voz com o lindo sotaque português.  Tem também o poeta Manuel que mora em Antuérpia, mas pelo que leio todos os dias, não perdeu nada de sua luso descendência e vive a sonhar com a vida do outro lado do mar.  E Bombom a querida Fátima que me deixa comentários lindos e escreve tão bem a nossa língua mãe.  Adoro todos estes amigos portugas, são verdadeiramente encantadores e saibam que quando os leio, minha cabeça passa para o 'modo lusitano' e leio com sotaque de português, faço questão, acho muito bonito.

E aqueles que nasceram em África, como o moçambicano ManDrag e já deve ter uma mistura de pernambucano com português, como será seu sotaque?!  E a amiga Lolipop que mistura português angolano com japonês e mora em Portugal, uma bela salada de sotaques. rssssssss

Bem, o fato é que a Renata, gauchinha, motivou-me a escrever esse post e dizer a todos vocês que quando eu os leio em seus blogs ou nos comentários que aqui deixam, tento ler com o sotaque de vocês, assim me sinto como se estivesse ouvindo-os pessoalmente, num bate papo com os mais variados sotaques deste nosso querido idioma.

Então, para todos vocês, deixo aqui uma mensagem com sotaque bem carioca: "Xentiiii, eu amo vocêiiiissss!
















terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Mim, Cara-Pálida?!

 Warner Baxter (1889 - 1951), na garupa de um cavalo rodeado por Índios Pele Vermelha e Mexicanos durante a gravação de um de seus filmes. Estados Unidos, aproximadamente 1930


Houve um tempo de sessões da tarde na televisão, assistidas pelas crianças e alguns pais que não perdiam seriados que ficaram marcados na memória e ao relembrarmos atualmente, trazem aquela sensação boa de dias longos, descanso após o almoço, lanche da tarde após o filme, das trilhas sonoras que cantarolávamos e  que chegam à lembrança de repente, como a que tive hoje ao ver esta antiga foto dos tempos do 'faroeste' americano. 

Os índios pele vermelhas eram os vilões, sempre.  O mocinho, o homem branco, em cima de seu veloz cavalo, um lindo alazão, matava, exterminava, pulverizava, todos os malditos nativos daquelas imensas pradarias cheias de búfalos selvagens que cruzassem seus caminhos.  Caminhos esses que levavam à expansão dos territórios com a marca do cara-pálida.

[O cinema  influenciou sobremaneira  a opinião dos povos.  Começando pelos índios americanos muito mauzinhos, depois vieram os alemães nazistas e cruéis; os russos comunistas que comiam criancinhas; os chineses que eram idiotas, riam à toa e se igualavam aos índios;  depois os japoneses kamikazes e robóticos, após Pearl Harbour e que agora são bonzinhos, ricos e aliados; os italianos mafiosos; os hispânicos traficantes e domésticos e agora, por último, o terror na forma de narigões e lenços árabes.]                                               
                                       
Mas, voltando ao tema faroeste, quantos bons filmes naquela época!  Bonanza, Rin tim tim, filmes do John Wayne, James West, Laramie,  e o charmoso Bat Masterson, o qual a trilha sonora me veio nitidamente hoje à tarde.
Lembram disso? 

No velho Oeste ele nasceu,
E entre bravos se criou,
Seu nome lenda se tornou,
Bat Masterson, Bat Masterson.
É o mais famoso dos heróis,
Que o velho oeste conheceu,
Fez do seu nome uma canção,
Bat Masterson, Bat Masterson.





Se quiser relembrar a musiquinha é só acessar este link aqui.


























O amor é primo da morte e da morte vencedor



Conversando com minha amiga Glorinha de Leon esta noite, fiquei entusiasmada com uma estória que ela me contou (depois ela conta pra você) e que me fez sentir saudades de ler Drumond.  Aproveitando a semana dos namorados que se comemora em outros países, deixo a poesia do mestre abaixo.


As sem-razões do amor






Eu te amo porque te amo.
Não precisas ser amante,
e nem sempre sabê-lo.
Eu te amo porque te amo.
Amor é estado de graça
e com amor não se paga.
Amor é dado de graça,
é semeado no vento,
na cachoeira, no elipse.





Amor foge a dicionários
e a regulamentos vários.
Eu te amo porque não amo
bastante ou demais a mim.
Porque amor não se troca,
não se conjuga nem se ama.











Porque amor é amor a nada,
feliz e forte em si mesmo.
Amor é primo da morte,
e da morte vencedor,
por mais que o matem (e matam)
a cada instante de amor.






Carlos Drummond de Andrade
(1902-1987)











(Imagens daqui)



segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Daquilo que eu sei



Este foi mais um domingo de verão tórrido por aqui, e para quem não pode ir para uma praia, nem mesmo para o fresquinho da montanha, o jeito foi ligar o ar condicionado, o computador, espalhar livros em volta, tv e vídeos, abastecer o copo a toda hora com água gelada e curtir sem reclamar, pois tem gente em situação bem pior por aí.

Meu marido está com o braço esquerdo recém operado e ainda nem tirou os pontos, ficamos  no mesmo cômodo para fazer estas coisas juntos e vez ou outra eu lia um trecho do meu livro amado de Rubem Alves sorvido em gotas homeopáticas para não acabar logo. Gosto tanto que me detenho em cada capítulo pensando sobre cada assunto. Um escritor como ele, completo, faz muitas observações filosóficas a respeito de coisas da vida que a gente nem observa tanto, mas sua visão holística ajuda-nos a pensar a respeito, refletir e fazer questionamentos pessoais.  Como por exemplo: "Faça uma lista de coisas que você usa e não sabe como funcionam, como são feitas."

Rubem Alves diz: "Quem sabe mais?  Os primitivos de seis mil anos atrás, índios, matutos da roça, ou nós, que vivemos hoje?  As tecnologias antigas eram simples.  Basta olhar para um monjolo, um carro de bois, um pilão, um fogão de lenha, a comida, para saber como são feitos.  Os 'primitivos' eram educados aprendendo a fazer as coisas necessárias para sua vida.  Mesmo os relógios, dos antigos, com engrenagens e corda, tecnologia muito mais avançada, se a gente os desmontar, compreende como são feitos.  Saber uma coisa é saber como ela é feita.  Hoje nós temos infinitamente mais objetos que os antigos.  Usamos esses objetos, mas nossa ignorância sobre a forma como são feitos é total.  Sabendo como uma coisa é feita podemos construí-la de novo, se ela ficar velha, ou consertá-la, se ela enguiçar.  Um menininho da cidade, visitando pela primeira vez uma fazenda, e vendo as vacas serem ordenhadas, o leite espumante saindo de suas tetas, recusou-se a bebê-lo, com nojo, e disse chorando para o pai.  "Pai, não quero beber leite de bicho. Quero beber leite de saquinho".   Uma coisa tão simples como o leite: ele não sabia de onde vinha.  Coisas que uso no meu dia-a-da mas nada sei sobre como são feitas: relógio, computador, televisão, elevador, microondas, telefone, mais misterioso ainda, o telefone celular, os remédios, caneta Bic, semáforos, sopa de saquinho, tecidos, portas automáticas, as máquinas de banco onde se tira dinheiro (elas nunca erram na contagem das notas?), bichinho virtual (você se lembra deles?), brinquedos eletrônicos, aviões, tênis, chicletes ..."

Estas perguntas, ele, o autor, faz às suas netinhas para quem dedicou este livro "Quando eu era menino", mas percebam que servem para nós também, adultos, que usamos tudo tão fácil e displicentemente, como um  simples toque ao acionar um condicionador de ar nos dias quentes ou ligar uma lâmpada quando entramos em algum ambiente escuro.

Tenho visto frequentemente em blogs ou na vida real, pessoas dizendo que não saberiam viver sem esta ou aquela tecnologia dos dias de hoje, mas deixo aqui outro tipo de questionamento: Quais são as coisas sem as quais você passaria muito bem?

Rubem Alves faz também uma comparação entre os que têm muita coisa e não saberiam sobreviver a uma catástrofe natural e os índios de uma tribo perdida na Amazônia. Por exemplo, imaginem só, se um asteróide gigante, se um desses se chocasse com a Terra.  Todos os homens morreram.  Felizmente morreram só os homens e não os animais.  Todos os homens, menos os moradores da cidade de São Paulo e os índios de uma tribo da Amazônia.  Que grupo terá mais chances de sobreviver nesta situação?  Os moradores de São Paulo ou os índios da tribo?

Bem, diante do pouco que sei sobre as coisas, digo mesmo que sobreviveriam os índios, porque eles sabem fazer as coisas necessárias para sobreviver e nós não sabemos.