.....................................................................................................................................................................Porque não só vives no mundo, mas o mundo vive em ti. .....................................................................................................

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Conhecendo nossos poetas




O apanhador de desperdícios


Uso a palavra para compor meus silêncios.
Não gosto das palavras
fatigadas de informar.
Dou mais respeito
às que vivem de barriga no chão
tipo água, pedra, sapo.
Entendo bem o sotaque das águas.
Dou respeito às coisas desimportantes e aos seres desimportantes.
Prezo insetos mais que aviões.
Prezo a velocidade
das tartarugas mais que a dos mísseis.
Tenho em mim esse atraso de nascença.
Eu fui aparelhado
para gostar de passarinhos.
Tenho abundância de ser feliz por isso.
Meu quintal é maior do que o mundo.
Sou um apanhador de desperdícios:
Amo os restos,
como as boas moscas.
Queria que a minha voz tivesse um formato de canto.
Porque eu não sou da informática:
eu sou da invencionática.
Só uso a palavra para compor meus silêncios.

Manoel de Barros



Biografia

Manoel de Barros nasceu no Beco da Marinha, beira do Rio Cuiabá em 1916. Mudou-se para Corumbá, onde se fixou de tal forma que chegou a ser considerado corumbaense. Atualmente mora em Campo Grande. É advogado, fazendeiro e poeta. Escreveu seu primeiro poema aos 19 anos, mas sua revelação poética ocorreu aos 13 anos de idade quando ainda estudava no Colégio São José dos Irmãos Maristas, Rio de Janeiro. Autor de várias obras pelas quais recebeu prêmios como o "Prêmio Orlando Dantas" em 1960, conferido pela Academia Brasileira de Letras ao livro "Compêndio para Uso dos Pássaros". Em 1969 recebeu o Prêmio da Fundação Cultural do Distrito Federal pela obra "Gramática Expositiva do Chão" e, em 1997 o "Livro Sobre Nada" recebeu um prêmio de âmbito nacional.

Perfil
Cronologicamente pertence à geração de 45. Poeta moderno no que se refere ao trato com a linguagem. Avesso à repetição de formas e ao uso de expressões surradas, ao lugar comum e ao chavão. Mutilador da realidade e pesquisador de expressões e significados verbais. Temática regionalista indo além do valor documental para fixar-se no mundo mágico das coisas banais retiradas do cotidiano. Inventa a natureza através de sua linguagem, transfigurando o mundo que o cerca. Alma e coração abertos a dor universal. Tematiza o Pantanal, universalizando-o. A natureza é sua maior inspiração, o Pantanal é o de sua poesia.








15 comentários:

Astrid Annabelle disse...

Ai que lindo Beth!!!
Poesia e imagem!
Adorei de coração.
Parabéns!
Li e vi seu post anterior...espetacular!
Isso aqui é um luxo só!
Beijo gostoso querida.
Astrid Annabelle

Nilce disse...

Uma verdadeira exaltação ao natural da vida, ao belo. Adorei Beth.
Obrigada por compartilhar.

Bjs no coração!

Nilce

cucchiaiopieno.com.br disse...

Que lindo! Nao o conhecia. Obrigada por compartilhar.
Um grande abraço
Léia

cucchiaiopieno.com.br disse...

Que lindo! Nao o conhecia. Obrigada por compartilhar.
Um grande abraço
Léia

Manuela Freitas disse...

Olá querida Beth,
Este post vem mesmo na sequência do anterior e está em grande intimidade com a tua filosofia de vida.
Já li alguma coisa de Manoel de Barros, mas pouco, tenho que aprofundar mais e com o teu incentivo em o referires vou lá a breve prazo.
Beijinhos,
Manú

Lúcia Soares disse...

Beth, ele deve ser calmo demais.
Com a serenidde que retratou no poema deve ter levado sua vida, razão pela qual ainda está aqui, firme e forte (espero!).
Muito lindo o poema.
Beijo!

pensandoemfamilia disse...

Oi querida
Amei, maravilhoso.
Hoje fiz menção ao seu post de óntem que também considerei excelente.
Poesia, poetas maravilhosos, palavras ditas do sentir.
bjs

Élys disse...

Boa idéia: Conhecendo nossos Poetas
Uma bonita poesia.
Não poderia ser diferente com essa biografia!...

lolipop disse...

OI BETH!
Mais uma excelente referência que lhe fico devendo!
Uma apologia da simplicidade, que tem ecos do gosto Japonês pelo haiku...
Bonito mesmo!
CARINHOSSSSSS
PS Obrigada pelos links...vou espreitar á noite!

Anônimo disse...

Minha amiga Beth, tb é cultura, e das boas, amei!

Unknown disse...

Simplesmente belo.

Beijinhos meus.

Caca disse...

Esse aí eu nem chamo de grande, Beth; é gigantesco mesmo! Adoro esse cara.

"Nasci para administar o à toa
o em vão
o inútil.
Pertenço de fazer imagens
Opero por semelhanças
retiro semelhança de pessoas com árvores
de pessoas com rãs
de pessoas com pedras
etc, etc, etc."
(do LIVRO SOBRE NADA)

Abração. Paz ebem.

Maria Santos disse...

Esse eu não conhecia que eu lembre pelo menos, gostei m uito, sobre apreciar as coisas simples da vida nela contém o segredo da felicidade.
bjs

Gisa disse...

Oi lindona, passei pra dar um bjka e o que encontro ? Manoel de Barros, você fez uma ótima escolha.

... se todos tivessem o mesmo olhar não é Betinha ?

bjs e saudades

orvalho do ceu disse...

Oi, minha amiga Beth
Agradeço a vc por permitir esse encontro saudável...
Os poetas consagrados ou "não" merecem nossa admiração(e leitura)
Obrigada pela partilha
Bjs