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sexta-feira, 18 de setembro de 2015

"Ó o leeeeeeite!"


Na busca por textos que incentivem a vida e a forma mais leve de levar a mesma, deparei-me com esta beleza de crônica abaixo que me inspirou nesta dia, depois de uma torrente de emoções e de insatisfações que todo o ser humano pode sentir no decorrer da vida, mas que não pode se estabelecer como normalidade. Muitas vezes os caminhos são tortos, mas a chegada é certa e esmorecer ... jamais!
Como a autora bem diz "Por isso você tem que aprender a confiar. A relaxar. A tolerar as demoras. A não criar expectativas." 
Ela tem razão, vejam só!




"Em meados dos anos 80, lá em Minas, o costume era comprar leite na porta de casa, trazido pela carroça do leiteiro, que vinha gritando "Ó o lêeeeeite!!!".

 Minha mãe corria porta afora e o leite _ fresquinho, gorduroso e integral_ era despejado na leiteira para nosso consumo. Porém, era um leite impuro, não pasteurizado, e necessitava ser fervido antes de consumir.

 No início, minha mãe tinha um ritual no mínimo interessante para esse evento: Colocava o leite na fervura e saía de perto.
 Literalmente esquecia.
 Simplesmente I.g.n.o.r.a.v.a.

 É claro que o leite fervia, subia canecão acima e despencava fogão abaixo. Eu era criança, e quando via a conclusão do projeto, gritava: "Mãe!!! O leite ferveu!!! Tá secaaaannndo..." e ela vinha correndo, apavorada, soltando frases do tipo "Seja tudo pelo amor de Deus..." e desandava a limpar o fogão, o canecão, e ver o que sobrou do leite_ pra tudo se repetir no dia seguinte, tradicionalmente.

 Até hoje não entendo o porquê desta técnica. Parecia combinado, tamanha precisão com que ocorria. 
 Mais tarde, ela mudou de estratégia. Eu já era maiorzinha e podia ficar perto do fogo. Assim, ficava ao lado do fogão, de olho no leite esquentando_ pra desligar assim que a espuma subisse, impedindo que transbordasse. Foi assim que aprendi uma grande lição:

 O leite só ferve quando você sai de perto.

 Não adianta ficar sentada ao lado do fogão, fingir que não está ligando; até pegar um livro pra se distrair. É batata: ele não ferve. Parece existir um radar sinalizador capaz de dotar o leite de perspicácia e estratégia. Porque também não basta se afastar fingindo que não está nem aí. O leite percebe que é só uma estratégia. E só vai ferver ( e transbordar) se você esquecer DE FATO.

 A vida gosta de surpresas e obedece à "lei do leite que transborda": Aquilo que você espera acontecer não vai acontecer enquanto você continuar esperando.

 Antigamente o sofrimento era ficar em casa aguardando o telefone tocar. Não tocava. Então, pra disfarçar, a gente saía, fingia que não estava nem aí (no fundo estava), até deixava alguém de plantão. Também não tocava. Porém, quando realmente nos desligávamos, a coisa fluía, o leite fervia, a vida caminhava.

 Hoje, ninguém fica em casa por um telefonema, mas piorou. Tem email, msn, facebook, whatsapp, e por aí vai. O celular sempre à mão, a neurose andando com você pra todo canto. E o leite não ferve...

 Acontece também de você se esmerar na aparência com esperança de esbarrar no grande amor, na fulana que te desprezou, no canalha que te quer como amiga. Então ajeita o cabelo, dá um jeito pra maquiagem parecer linda e casual, capricha no perfume... e com isso faz as chances de encontrá-lo(a) na esquina despencarem. Esqueça baby. O grande amor, a fulaninha ou o canalha estão predestinados a cruzarem seu caminho nos dias de cabelo ruim, roupa esquisita e vegetal no cantinho do sorriso.

 Do mesmo modo, se quiser engravidar, pare de desejar. Não contabilize seu período fértil e desista de armar estratégias pro destino. Continue praticando esportes radicais, indo à balada, correndo maratonas. Na hora que ignorar de verdade, dará positivo.

 A vida _como o leite_ não está nem aí pra sua pressa, pro seu momento, pra sua decisão. Por isso você tem que aprender a confiar. A relaxar. A tolerar as demoras. A não criar expectativas. A fazer como minha mãe: I.g.n.o.r.a.r...

 E lembre-se: Tem gente que prefere ser lagarta a borboleta. Sem paciência com os ciclos, destrói seu casulo antes do tempo e não aprende a voar..."
                                                                                                                             FABÍOLA SIMÕES-blog de crônicas













12 comentários:

chica disse...

Beth, que maravilhosa crônica e lição nela contida! Adorei e temos que aprender essa lição... bjs, lindo fds!chica

Ana Paula disse...

Acho que até senti o cheirinho que fica na caneca, no fogão com o leite derramado!
Uma bela lição de paciência, de não querer comandar o que não nos cabe.
Beijo!

Dra. Cristiane Grande Jimenez Marino disse...

Oi Beth, amei a crônica, também adoro o blog da Fabíola Simões!
Queremos controlar tudo, mas a vida nos dá uma rasteira...
Bjs e ótimo final de semana

Toninho disse...

Se lá em Minas uai, a gente entende muito deste trem de leite ferver e derramar pelo fogão. E que trabalheira para limpar a leiteira e o fogão, pois parece que a escuma é plastica. Os olhos realmente não evitam o derrame.
Mas Beth, que beleza de texto e analogia para acordar em nós esta importância da não pressa, de não atropelar o que o tempo se assenhora. Caldo quente e mingau nos ensina o que é ser paciente.
Você sempre feliz nas suas escolhas de texto e partilha.

Lindo seja seu fim de semana cá em baixo ou lá em cima.
Meu carinhoso abraço de toda paz querida amiga.
Bju de paz.

E por falar no leiteiro das Gerais, você já leu o poema a morte do leiteiro(Drummond)?

Socorro Melo disse...


Oi, Beth!

Que texto interessante, Beth! Pois não é que é assim mesmo... Ai, lá em casa era a mesma coisa com o leite. E também já fiquei incubida de vigiar, e por azar, sempre me esquecia, o leite fervia, derramava e eu levava a maior bronca. Tudo que a crônica relata é verdade. E a vida só é tão bela porque não podemos controlá-la, se pudéssemos, tinha graça nenhuma, já se tinha adulterado, rsrs

Beijos, amiga!
Socorro Melo

Maria Célia disse...

Ei Beth
Uma belezura esta crônica, quanto ensinamento e verdade contidos nela.
Não temos paciência para esperar nada, vivemos correndo, querendo que tudo aconteça num estalar de dedos.
Bacana demais.
Beijos, querida.

Bianca disse...

Adorei o texto e a comparação, realmente é assim, as coisas só acontecem quando menos esperamos.
Beijos
Bluebell Bee

pensandoemfamilia disse...

Excelente crônica e muito boa sua reflexão. bjs

Tina Bau Couto disse...

Amei e vou levar lá pra meu varal
A propósito outro dia ouvi uma maravilhosa definição de crianças peraltas:
São como leite
Se a gente tira o olho
Fervem

Calu Barros disse...

Ah, como gosto de me demorar aqui, minha amiga.
Tenho nas mãos o perfume destas flores, nos olhos a beleza do conjunto, no espírito a tônica das palavras tão lindamente e positivamente arrumadas neste papo entre amigas.

Obrigada por mais este momento!
Bjos, lindona.
Calu

chica disse...

Beth, voltei p´ra agradecer teu carinho por lá! Senti aqui! lindo e querido e faz tão bem! bjs, chica

Lúcia Soares disse...

Lembro-me demais desse leite que vinha na porta de casa. Nós mesmos, os filhos, buscávamos para a mamãe. E quanto leite derramado limpei no fogão! rs
No entanto, muito bons tempos. Realmente, não adianta ter pressa, tudo acontece a seu tempo.
Beijo, Beth.