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terça-feira, 15 de janeiro de 2013

A volta da que não foi



Ah como é bom pedalar uma bicicleta, o vento no rosto, nos cabelos, uma sensação de liberdade e de tudo posso sobre duas rodas!  Eu tinha uma dessas, rosa assim, com uma cestinha branca na frente, uma Caloi Ceci, zero marchas.  Eu morava num bairro, tipo condomínio, numa cidade praiana e para me exercitar pós nascimento do filhote, ganhei uma, num aniversário qualquer de minha vida.

Quando era criança, menina de uns 10 anos, louca pra ter uma só minha, pedi emprestada a do meu vizinho Wilsinho que era daqueles garotos bonzinhos e que vivia brincando junto às meninas, então era fácil trocar com ele qualquer brinquedo meu pela sua possante bike, bem mais alta que qualquer um de nós daquela turminha onde morávamos.  A gente se revezava para dar 3 voltas na vila que tinha umas 10 casas e era fechada com um portão de ferro, mas pra nós parecia um circuito de Fórmula 1. A turminha da vila, composta mais de meninas que meninos, brincava junta e trocava brinquedos também, mas a bike do Wilsinho era o nosso maior objeto de desejo, quase ninguém tinha uma daquelas naqueles tempos.
  
E aí chegou a minha vez de montar aquela poderosa preta e prata. Meio desengonçada, consegui subir e meus pés ficavam boiando no ar, mas eu queria tanto pedalar aquilo e tentei uma, duas, três vezes ... consegui me equilibrar então, e fui de supetão, dando pedaladas vigorosas para mantê-la reta, mas ela rebolava e eu também, mas já na segunda volta eu consegui me aprumar melhor e depois na terceira, perfeita e confiante, mas aí já era hora de passar para outra da fila.  Foi assim por muitas vezes naquelas tardes de verão carioca, quentes, mas muito menos quentes do que são hoje em dia e a garotada brincava até altas horas na vila, enquanto seus pais nos afazeres diários, as mães em casa e os pais nos seus serviços.

Mas, tinha aquela velha, a tal "Bruxa do 71", que nem era tão velha assim, tinha lá seus 60 anos, mas era o terror dos meninos da vila, pois furava bolas que caiam para dentro de seu terreno ou sentava-se para tomar
a fresca todas as tardinhas do lado de fora de sua casa, bem na curva onde a gente gostava de fazer a volta com a 'nossa' querida bike platinada.

E foi aí que eu me traumatizei, nunca mais peguei na bike do Wilsinho, só voltando a fazer muito mais tarde quando ganhei a Ceci rosinha e recomecei a pedalar pelo meu bairro praiano, tranquilo e totalmente favorável a este tipo de prazer para ficar em forma pós parto.

Ah sim! Como eu fiquei traumatizada com a bicicleta do Wilsinho? 
A Bruxa do 71, ou melhor Dona Emília, sentou-se como de costume numa daquelas tardes, feitas pra nós, meninada cheia de brilho nos olhos e cabeças de vento, querendo o mundo e o mundo estava ali, naquela vila cheia de brinquedos e uma bike novinha se revezando entre nós. 
Sentei-me com a dificuldade de sempre sobre o selim preto, endireitei-me, segurei firme o guidom, empinei-a e fui embora. 
Fiz a volta lá no final da vila, driblei a dona Emília instalada em sua cadeira de couro e parti para a segunda volta feliz da vida, mas na terceira, tchibum!  Dona Emília foi pro espaço, a bike também e eu, bem, eu saí correndo, desesperada e me tranquei no banheiro de casa, morrendo de medo do meu pai que estava pra chegar e iria saber da minha estripulia e, com certeza, iria me dar um castigo daqueles.
Esperei, sentada no vaso, claro, até ouvir a voz da Dona Emília reclamando com meu pai, logo na sua chegada do trabalho tendo que enfrentar a fera falando e ameaçando, pedindo que ele me punisse severamente. Ele a ouviu o tempo todo, ela falou de seu bico de papagaio que a incomodava todos os dias e que agora depois da minha batida em sua cadeira estava bem pior.
Pronto, tô frita, pensei eu!
Mas, meu pai que sempre foi muito justo e severo também conosco, surpreendeu-me naquela noite, pois fechou a porta, apagou as luzes, bateu na porta do banheiro e falou baixinho "Pode sair minha filha, não tenha medo."
Ele me abraçou e começamos a rir baixinho também, porque todo mundo achava a mulher muito chata e maldosa, minha inabilidade com a bicicleta foi meio que uma vingança coletiva. A meninada da vila estava vingada, mas eu nunca mais quis saber de bicicleta em toda minha infância. No dia seguinte eu não apareci na vila para ela pensar que eu estava de castigo.

Agora bicicleta só la na academia, para me trazer alguns benefícios cardiovasculares, fortalecer minhas perninhas e ajudar a perder uns pesinhos que carrego e me incomodam.

Hoje percebi enquanto dirigia ao lado de uma ciclovia, o quanto é perigoso andar de bicicletas nessas ruas lotadas de carros, onde ninguém está preocupado com a segurança do ingênuo ou romântico ciclista brasileiro que insiste em circular nestas pseudo-ciclovias construídas em espaço limitado para o dito cujo pedalar bem junto daqueles que passam sem o mínimo respeito.

Ideias legais pra cultivar na sua bike.
via






15 comentários:

ML disse...

Adorei a história, Beth, hilária, acho que nunca cruzei com uma Dona Emília na infância - sorte ; > )
MAs bikes são perigosas mesmo, pra quem anda e pra quem passa do lado, de carro ou a pé.
Na Lagoa e ciclovias, elas atropelam os pedestres, no trânsito a gente no volante reza pra não esbarrar nelas. Enfim, bicicleta é lindo, não polui, etc, mas não adianta pintar ciclovia na rua, tem de ter organização. E disso, o Br é carente pra caramba!

bjnhsssssssssss

Inaie disse...

E a bicicleta do wilsinho?

chica disse...

rsssssssssssss.

Que legal! E essa bruxa do 71?

Que saco!! Sempre existe uma dessas nas nossas vidas. Gente mal amada!

Andei bastante de bici, mas só após 9 anos de casada, ganhei a minha. Era maravilhoso e tinha liberdade na cidade. Hoje, nem pensar!! Ciclovias faltam e as que tem, nada de segurança pois as bruxas do 71 foram substituídas pelos bandidos que te roubam tudo por lá!


Conheço Petrópolis, muito estive aí.

Minha mãe adorava e lembro bem do museu e suas pantufas pra entrar.Ainda é assim?

beijos praianos,chica

Cristina Pavani disse...

Beth, a segurança é fato. Pedalo todo sábado, domingo e feriado com Esposo.
Mesmo aqui, saímos antes das seis para evitar trânsito.
Na roça é uma delícia: cada estradinha, paisagem fofa, só que em janeiro é só brejo!
Beijo paulistinha.

Dani dutch disse...

web-mãe, aprendi a andar de bicicleta, em dezembro de 2011. Aindo pelos diques, mas quando é pra andar na cidade, me dá aquele friozinho na barriga.
Ainda preciso praticar mais.
bjuss

UBIRAJARA COSTA JR disse...

Linda história, Beth!... Doces tempos onde sempre havia uma "bruxa" pronta para estragar a alegria da garotada...

Beijos

Regina Rozenbaum disse...

Ah Beth tive tb uma Ceci! Por aqui minha dificuldade não era com Bruxas e sim com as ladeiras (por toda a cidade) que nunca consegui fazer como os meninos: pedalar em pé. Então tinha que descer dela, e sair empurrando rsrs. Ultimamente instalaram em alguns trechos daqui ciclovias, que euzinha e mais um montão de gente somos contra. Essa não é uma cidade para tal e nem tanto ciclistas há. O trânsito, que já é infernal, ficou um horror com o estreitamento das ruas para beneficiar os ciclistas (que nunca vejo um sequer!). Já em cidades planas, litorâneas, e onde o uso é cotidiano é uma solução e tanto né?!
Beijuuss

AUDENI OU Dona Mocinha disse...

Oi Beth, vim agradecer sua visita ao DONA MOCINHA DO BRASIL, volte sempre.

Não sei andar de bicicleta, mas imagino que seja muito bom, sensação de liberdade sem falar de fazer bem ao corpo.
Me preocupa é andar de bicicleta no trânsito, principalmente no caótico de São Paulo!


Beijos e ótima semana a vc.


Audeni

Calu Barros disse...

Betinha malasartes,

a meninada da vila deve tê-la coroado "rainha do pedal";a intrépida ciclista que espantou a Bruxa do 71.
Lembrei contigo dos nossos verões de brincadeiras na travessa de casa com a garotada amiga.Tempo pra lá de bom.
Também tive uma Ceci-rosa, claro.Ah, e a tradição continua: Ana Clara aprendeu a andar sem rodinhas e vai ganhar uma bicicleta nova, feito a Ceci da foto, porque ela ama a cor rosa.È mais uma pro nosso time ciclista.

Penso como vc acerca das pseudo-ciclovias da cidade.Quando pego a Fróes isto é visível.

Vamos pedalar que é a pedida do momento.
Bjos,
Calu

pensandoemfamilia disse...

Oi Beth
Eu semprei sonhava em ter uma bicicleta e quando meu pai me deu, aos 8 anos, no Natal, foi uma felicidade só. Sempre gostei muito e quando fui para o interior usava-a com frequência. Aqui, em Niterói não tenho coragem, mas sempre que vou para uma localidade onde posso desfrutar deste meio de locomoção e exercício adoro.
Já coloquei algumas fotos do Chile ,dá uma olhadinha. Vai gostar.

Maria Célia disse...

Ei Bety
Adorei suas aventuras na bike do wilsinho, o episódio com a bruxa do 71, pareceu-me bem divertido, hoje, passados tantos anos, imagino na época sua apreensão, medo de ser castigada; ainda bem que seu pai foi compreensivo e soube entender seu drama.
Sou apaixonada por bicicleta, aqui na minha cidade ando pra baixo e pra cima, faço compras, vou ao sacolão, ao açougue, à casa da minha mãe, adoro este meio de locomoção.
Beijo e muito obrigada pelo carinho deixado no bloguinho.

Toninho disse...

Quantas estripulias minha amiga!
Ate vi voce toda desengonçada na primeira experiencia com a bike grande,kkk.
Belas lembranças para sua cronica.
Lindas ideias para ornamentação com as bikes.
Critica perfeita da falta de sensibilidade para com a pratica do pedalar nas grandes cidades, aqui é um terror a pista e os acidentes acontecem seja de pedestre ou motoristas desatentos, pois elas ficam bem proximas das pistas dos veiculos.Perigo a vista sempre.
Gostei amiga.
Um carinhoso abraço mineiro.
Bjo.

Márcia Cobar disse...

Betinha, energia é coisa séria!
Sei que pode parecer maldade, mas Dona Emilia mereceu o tombo. Imagino que você tenha se tornado, mesmo que a contragosto, uma pequena heroína por ter dado uma sova na velhinha... ha ha ha.
Bela a atitude do seu pai em te acolher no medo e te dizer: não tenha medo... Isso é tão importante... E que bom você ter resgatado as pedaladas, mesmo que muito tempo depois...
Concordo contigo: corajosos os ciclistas brasileiros...
Beijos
Márcia

Lúcia Soares disse...

Então, Beth, ler muito e escrever em seu blog está fazendo de vc uma excelente cronista! Adorei sua história, muito bem escrita.
Nunca tive uma bicicleta, nunca aprendi a andar. (não se precisava ter uma, os amigos que a tinham, certamente emprestaria).
Os tempos eram de crianças mais amáveis, né? E que podiam brincar em grupos, nas ruas.
Adorei!
Beijo!

Teredecorando disse...

Olá Beth,
Nossa, fiquei aqui empolgada com a história. Como a nossa infância foi tão diferente da atual...Brincadeiras mil...
Pena que você não aproveita para dar umas boas pedaladas. Bruxas estão soltas por ai, aqui e acolá.kkkk...
Eu estou achando gostoso andar de bike por ai. Vou para academia e quando o Tainan está aqui, passeamos na ciclovia. Coloquei uma cadeirinha na garupa e vamos nós.
Agora, o que não combina e ter patins e skates na ciclovia. Aqui em Vitória, no momento, estão implantando isso, pois os pedestres estão reclamando da mulecada. Agora, como fica os ciclistas nessa situação??? Ai ai ai...