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terça-feira, 14 de agosto de 2012

Recordar é viver


Eu sei que é clichê, mas repito, o tempo não pára, não pára não!  A constatação disso é que olhando na folhinha o aniversário de algumas amigas, lembrei que parece que foi ontem que festejamos mais uma primavera, com almoço, bolo, abraços e beijos.  Estamos ficando velhinhos, mas veja bem, eu disse
estamos, porque se você clicar neste link AQUI ouvirá, isso mesmo, ouvirá, que algum destes sons que pertencem hoje ao passado, também já passou em sua vida, já que por aqui só tem pessoas nascidas no
outro século, mesmo as mais novinhas.

Ah, que saudade da minha máquina de escrever antiga!  Meu pai comprou uma assim para que eu pudesse ir treinando como datilógrafa. Depois foi a IBM com esfera de impressão que podia-se tirar e botar outra com letrinhas diferentes.

(IBM elétrica)
Ontem, enquanto esperava minha vez num consultório médico, li com satisfação o texto abaixo de
Danuza Leão que trago para vocês num complemento a estes sons do passado.
Ainda bem que temos um passado para recordar, isso é maravilhoso!



"Encarar o passado não é fácil, e sessões de nostaIgia costumam terminar mal"

   O que fazer dos velhos discos, aqueles que você guardou porque achou que eram importantes - e que trazem, cada um deles, lembranças de momentos vibrantes, como paixões que pareciam de filme francês ou dores de cotovelo inesquecíveis? Naquele tempo tudo era festa, até os sofrimentos por amor. Mas, voltando aos discos: ouvir, nunca mais, pois o toca-discos (esse móvel? objeto?) já pertence à pré-história. Mas eles estão lá, na estante, e é preciso ter nervos de aço, sem sangue nas veias e sem coração, para se desfazer deles. Como nem o porteiro, que sempre resolve esse tipo de problema, tem toca-discos, só mesmo a lata de lixo, que tristeza! Além dos discos, tem as fitas e, além das fitas, os CDs, que depois do iPod fazem parte de um passado remoto.
   Quanto maior a quantidade, maior o problema; encarar o passado não é fácil, e sessões de nostalgia costumam terminar mal. Algumas fotos trazem lembranças alegres de tempos felizes que nunca mais. E "nunca mais" são duas palavras difíceis de aceitar - tratem elas de um homem ou de coisas muito mais sérias, como o cigarro que você deixou e que também nunca mais.
   Se num dia de chuva der aquela vontade de puxar uma tristeza, pense na noite de ontem, em que você não fez nada de extraordinário além de ver um filme na televisão comendo uma pizza; pois fique sabendo que até esse momento banal faz parte do "nunca mais". E, se quiser ficar ainda pior, nada como abrir a caixa das fotos: vai ter um belo dia pela frente, e não diga que eu não avisei.
     O que fazer, afinal, desse monte de coisas que é nossa vida - aliás, foi nossa vida? Se tiver coragem, jogue tudo em um saco de lixo, leve para o sítio e prepare uma bela fogueira. Mas quem consegue? Quem sabe você fica aliviada, leve, achando que se livrou do passado, que a partir dali é só o presente e o futuro. Mas não tenha tanta certeza assim; quem somos nós se não temos passado?
   A gente acaba empurrando com a barriga e adiando - quem sabe um dia desses, com um amigo para ajudar, tomando um uísque e ouvindo Roberto Carlos. E ainda tem mais: além dos discos, fitas e fotos, tem os recortes de jornais e revistas.
  Não é fácil jogar fora o recorte com seu nome publicado pela primeira vez num jornal. Aquela página amarela arrasa, mas lembra o que você sentiu quando viu sua primeira foto numa revista? A vida é mesmo curiosa: tudo o que se guarda é para lembrar, e tem uma hora em que só se quer esquecer, vai entender. E tem as cartas, ai, meu Deus. As de amor, assim como as fotos desse tempo, é de praxe que sejam rasgadas logo que o namoro acaba - e reze para que as que você escreveu tenham sido destruídas, pois, se alguma viesse parar em suas mãos, seria caso de morrer, tal a vergonha.
    A natureza humana é espantosa; como as pessoas são diferentes umas das outras. Penso, com inveja, nas que vão às festas do tipo "parece que foi ontem" e nas que se encontram uma vez por ano com as amigas do colégio para falar do passado. E nas famílias que se reúnem aos domingos para almoçar e, depois.olham fotos de viagem, fitas de vídeo feitas nas férias, comentam sorrindo como os netos cresceram e, depois, vão dormir sem nem precisar tomar tranquilizante, na mais completa paz.
    Elas não sabem quanto são felizes.

   (Danuza Leão – Revista CLAUDIA, agosto de 2012.)





24 comentários:

Bombom disse...

Olá Betita! Hoje vim visitar-te (tenho andado muito preguiçosa) e gostei muito de ler o teu texto. Como sou sexagenária e quase a passar de prazo para a década seguinte, entendi bem as tuas palavras, he,he! Tu falas da velha máquina de escrever e recordaste-me o velho "caixote" de tirar fotografias a preto e branco...Hoje ultrapassado pela máquina digital e pela fotocopiadora com que se fazem as fotos em nossa própria casa.
O texto da Danuza também está muito pertinente: quem não tem em casa um monte de discos e fitas antigas que nunca mais se vão poder ouvir? E é difícil separarmo-nos das nossas recordações! Eu já deitei muita coisa fora, mas guardo algumas que ainda não consegui descartar.
Ah, mas sou das que dormem descansadas sem comprimidos, porque isso nunca me tirou o sono! Bjs. Bombom

Palavras Vagabundas disse...

Grande texto da Danuza. Parodiando o poeta: Meninos eu vivi!
bjs e boa semana
Jussara

Yasmine Lemos disse...

Caramba que belo texto... a máquina lembrou meu pai ele tinha uma bem parecida.
Tempo,tempo,tempo ,implacável.
beijo querida Beth

Cristina Pavani disse...

Maravilhosa tarde Beth!
Não me apego tanto a objetos para recordar o passado, sei que o principal sempre estará na memória.
Coisas antigas não devem ser abandonadas simplesmente, se possível deveríamos doar a museus (locais ideais, em momentos ideais para se pagar e curtir o ontem).
Meus subsunçores se misturarão ao vivido hoje e irão me moldando, forjando...
Um abraço,
Cri.

Valéria disse...

Oi Beth!
Recordar é ter consciencia do nosso próprio viver. Costumo dizer que poder relembrar os momentos que forjaram a nossa trajetória de vida é mais forte que nós e não o fazemos apenas por puro saudosismo, mas por uma questão de identidade, elas são nossas lembranças, somos todas elas juntas, elas são a nossa vida, nosso eu.
Beijinhos!

Pitanga Doce disse...

Betinha, volto logo mais pra te responder, tá bem? Tô no trabalho e só dei uma espiada. Danuza Leão sabe tuuudo.

Heloísa Sérvulo da Cunha disse...

Beth,
Só você para encontrar e partilhar essas coisas tão interessantes.
Esses sons antigos são demais.
E o texto da Danuza está muito bom.
Beijo.

Márcia Cobar disse...

Ah tempo danado!
Gosto de um pequeno poema de Mario Lago que diz assim:

"Eu fiz um acordo com o tempo. Nem eu fujo dele nem ele me persegue. Um dia a gente se encontra."

Mas quando é que a gente se encontra com o tempo, Betinha? Quando ele acaba? Quando as ultimas horas da vida chegarem e, se tivermos tempo (ele de novo) e a chance para refletir, refletirmos que não fizemos bom uso da vida?
Tempo... Quanto tempo?
Bjim
Márcia

Priscila Ferreira disse...

De vez em quando pego os dvds, que antes eram as fitas cassetes que meu pais filmava e assisto, eu adoro! e o álbum de bebê, têm foto sua lá! eu adoro recordar, mesmo que não tenha tempo de ter conhecido as máquinas e escrever e vinil! mas pensar até em brinquedos, ou datas e afins! beijos dinda! aparece no skype!!

Mari Hart disse...

Noossa! E a postagem se prolonga pelos comentários, cada um mais bacana do que o outro!

Lindo post querida, e obrigada por compartilhar as palavras de Danuza, eu ainda não tinha lido! =)

Super beijos e obrigada pelo apoio de sempre! ;]

Toninho disse...

Curiosidade mata minha querida amiga.Pra que fui clicar no link,kkk,poxa eu sou antes daquelas coisas(tralhas) que vi ali.
Mas envelhecer-se é uma arte e temos todo este intervalo para pular e cantar de alegria.
Bela postagem minha amiga da gema.
Um abração.
Bjo.

Pitanga Doce disse...

Beth, quem tem mais de 40 e não tem disco de vinil? E é mesmo dificil se desfazer deles.

Quanto aos "antigamentes" de Danuza, certíssima! Quando é que nossas mães ou tias tomavam calmantes? Havia as reuniões de familia e ate discutiam e tal, mas "lavavam toda a roupa" e na segunda tinha ficado tudo no passado.

O passado já é a manhã de hoje. De tal forma que a esta hora já nem se sabe ao certo se foi hoje mesmo ou ontem. De qualque forma, sempre dói. Ou porque foi ruim e deixou marcas, ou porque foi bom e não volta nunca mais, como diz Danuza.

Beijos Beth e que o presente nos chegue e nos faça feliz.

Pitanga Doce disse...

Ai desculpa! Quase fiz outro post! Falei demais!

Maria Célia disse...

Oi Beth
Deliciei-me com o som de alguns daqueles objetos, veio-me à lembrança certas pessoas e determinados locais impossíveis de apagar da memória.
O texto da Danuza é bárbaro, e é isto mesmo que acontece na nossa vida.
Beijo

Lúcia Soares disse...

Eu gosto de ver fotos, tenho cartas de amor (do meu marido), tenho fitas cassetes (já passei algumas para DVD), tenho LP's só lamento não ter fotos da minha infância.
Também durmo tranquila e serena, falar do tempo passado não me incomoda. (as partes boas, claro!).
Adoro Danuza, ela escreve como se estivesse num bate-papo.
Beijo!

CamomilaRosaeAlecrim disse...

Adorei o texto e adoro ver e recordar o passado!
Bjs e te desejo uma ótima noite!
CamomilaRosa

Maria Luiza disse...

Querida Beth, que satisfação sua visita! Adorei suas palavras tão afetuosas! Este post seu está um arraso, pois veio para vibrar mesmo! Fui fazer datilografia e matava aula para ir na matinê. Aprendi foi nadiquinha de nada.Estou aqui usando os indicadores e só, pode? Os sons são saudosos! Eu tenho o telefone preto e funciona, se eu ligar. Valeu!!! Grande abraço e beijos!

chica disse...

Texto muito legal da Danuza e lembrei da minha máquina também...beijos,lindo dia!chica

pensandoemfamilia disse...

Não temos como abandonar as nossas vivências(histórias) o que podemos é trazer mais para lembranças momentos bons e nutri o que ainda é possível, sem paralisarmos no tempo.
Adorei a crônica.
bjs

Pedrita disse...

é bom ter saudades pq significa q vivemos intensamente. acho q só me preocupo se as saudades são muito antigas e tenho pouca saudade recente. beijos, pedrita

Teredecorando disse...

O tempo não para. Assim já dizia o Cazuza.
Com tantas mudanças pelo Brasil afora, eu dei todos os meus discos de vinil. As fitas? Nem me lembro o que aconteceu. Acho que tiveram o mesmo fim.
Sabe, não sou de guardar muitas coisas. Sou desapegada.
Nossa, quando eu trabalhava em um escritório no Rio, usava a máquina Olivetti - Elétrica - Achava o máximo...Digitava rápido demais... Um belo dia meu chefe chegou com a IBM... UAU!!! Era o máximo dos máximos. Ainda mais que ela já tinha a fitinha para correções. Fiquei mais animada ainda quando soube que podia trocar as esferas.kkkkk... Cara, confesso que foi um marco. Amei demais!!!
Recordar é viver...Viver é amar.
Beijos mil

ML disse...

Eu gosto muito dos livros da Danusa Leão. Ela é "meio" anti verde (tem pena de usar a pele alheia, não, até "ontem", pelo menos), mas a mulher sabe esrever. Prende a atenção, é mega coloquial, escreve como quem "bate um papo" bom.
Quanto à máquina de escrever, acho que é um belo objeto pra se colocar na decoração. Vintage, como as "vitrolas". Quem tiver que se orgulhe e coloque nun lugar de destaque.

bjnhs

Calu Barros disse...

Betinha,
como conheço este som( o da máquina de escrever, desde as antigas, até as elétricas) que casou perfeitamente como texto da Danuza.
Eu sou do time dos seres históricos, aqueles e aquelas que não conseguem se desvencilhar dos objetos-lembranças sem rasgar o coração e quando descubro que perdi algum durante as mudanças de casa que já fiz, lamento a cada recordação.
Desfaço-me de roupas, objetos de uso que podem ser úteis aos outros, mas discos(CDs/DvDs)certos livros,recortes interessantes, cartões de cumprimentos e fotos...ai, não consigo e nem me esforço,rsrsrs.
Muitos bjos,
Calu

Lulú disse...


Olá Beth
Passei para deixar um abraço, após longo tempo cuidando da saude.
Gostei do texto da Danuza. Eu não sou muito de guardar coisas, nem de comprar, compro somente o que uso e meu marido é o contrário, já pensou no contraste? é uma confusão. Guardar coisas dá trabalho aos parentes quando morremos.
Beijos
Maria Luiza (Lulú)