-T.Yamashita-
Eu não sou nem um pouco supersticiosa. Se um gato preto atravessar a minha frente, não tô nem aí, nem ligo se passar debaixo de uma escada ou se o dia é uma sexta-feira 13, pois para mim essas coisas são folclore mesmo e nem me abalam.
Na semana passada sonhei que tinha um gato e que estava toda feliz com o novo amiguinho da casa. Cheguei a contar pro marido que não me deu força, porque ele diz não gostar de gatos, só de cães. Depois contei o sonho para uma grande amiga que possui muitos gatos em sua casa e admira muito a inteligência e astúcia desses animaizinhos domésticos.
No entanto, ela não me incentivou a ter um gato no apartamento, só se eu colocasse telas nas varandas e isso é completamente fora de questão aqui em casa, afinal já não temos crianças no dia a dia e telas dão ainda mais impressão de estarmos engaiolados. Sem as telas, os felinos costumam sofrer acidentes terríveis, levando-os inclusive à mortes inesperadas e dolorosas para os donos, já que o gato, curioso como ele só, vai sempre atrás daquilo que move. E se ele vê uma borboleta, por exemplo, pode correr atrás dela e jogar-se do 13o. andar como é o caso por aqui.
Fiquei desolada, mas aceitei o fato como encerrado, pois não ia querer ver um bichinho estatelado lá em baixo no prédio.
Neste final de semana, estava em minha casa lá na serra e abri o portão para tirar o carro. Uma vizinha que não via há tempos, aproximou-se do portão e fiquei lá conversando com ela, matando as saudades. O portão completamente escancarado. De repente, desceu a rua correndo como um raio, e entrou no meu jardim, bem à nossa frente, um gatinho igualzinho a este aí em cima.
Meus olhos foram atrás do bichano e falei para minha amiga que aquilo era pra lá de estranho, porque eu sonhei com um gatinho e estava louca para ter um assim, pequenino ainda, por volta de uns dois meses, e ele entra assim na minha casa e na minha vida, como se fosse um presente que eu pedi ao universo que me atendeu imediatamente.
Chamei com as mãos o bichinho e ele veio ao meu encontro, roçando nas minhas pernas e encostando a cabecinha nas minhas mãos, como se me acariciasse e dissesse - estou aqui, cheguei!
Fechei o portão correndo e levei-o para a garagem. Coloquei um pouco de leite num potinho e dei a ele que tomou sofregamente, parecia bem faminto, o que denotava claramente que não comia por algum tempo e estava bem magrinho.
Isso só me fez constatar que não tinha dono também, talvez um filhote de gata de rua, ou seja, um vira-latinha pedindo para ter dono. E eu, claro, já era sua dona desde aquele instante.
Para encerrar, digo-lhes que o marido, mesmo dizendo que não queria saber do bicho, saiu e comprou argila para a caixinha de asseio, ração Cat Show, remédio para pulgas e ainda verificou o sexo do bichinho, que é menina.
Sim, minha menina felina, passou a chamar-se Cici, apelido para Aparecida, já que apareceu assim, de repente e tão maravilhosamente em minha vida. Ela corre em minha direção quando me vê e quando a acaricio, faz um barulhinho engraçado e que descobri agora que é o famoso ronron de gratidão.
Tô feliz e Cici também, afinal está morando na área de lazer da casa e tem um jardim florido para descobrir todos os dias.
O ronron do gatinho
O gato é uma maquininha
que a natureza inventou;
tem pêlo, bigode, unhas
e dentro tem um motor.
Mas um motor diferente
desses que tem nos bonecos
porque o motor do gato
não é um motor elétrico.
É um motor afetivo
que bate em seu coração
por isso faz ronron
para mostrar gratidão.
No passado se dizia
que esse ronron tão doce
era causa de alergia
pra quem sofria de tosse.
Tudo bobagem, despeito,
calúnias contra o bichinho:
esse ronron em seu peito
não é doença - é carinho.
Ferreira Gullar