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terça-feira, 18 de outubro de 2011

Da Kitanda à Quitanda

-Foto por Beth Q.-

"Cercadas por montes de ovos, laranjas, bananas, mangas, batatas, galinhas, patos vivos e uma infinidade de outros gêneros, vendedoras negras com trajes vistosos, agachadas sobre os calcanhares, fritam peixes e bolinhos de feijão, preparam petiscos de carne-seca ou carne de porco nas panelas colocadas em pedras sobre lenha. Enquanto isso, uma pequena multidão de fregueses aguarda ansiosa para comprar e comer as delícias saídas do fogo. E ainda aproveita para se servir dos jarros e cabaças com bebidas fermentadas, extraídas do caule da palmeira de dendê, do milho ou do abacaxi.

Cenas como esta poderiam ocorrer nas ruas de Salvador ou do Rio de Janeiro séculos atrás. Mas antes de aportarem no Brasil, as “quitandas” eram um fenômeno tipicamente africano. Espalhados por todo o continente, esses espaços de troca ficaram conhecidos, na região centro-ocidental da África, e mais especificamente entre os povos mbundu, como kitanda."



-Foto por Beth Q.-


"A aparente confusão daquele agitado comércio urbano escondia uma atividade bastante organizada. As quitandeiras se dividiam conforme suas especialidades: havia mulheres que só vendiam peixe, outras que ofereciam apenas comidas prontas e as que se dedicavam aos chamados “produtos da terra”, como amuletos, pemba (argila branca usada em rituais religiosos), liamba (cânhamo) e macânha (tabaco). As peixeiras formavam uma espécie de cooperativa com profundos laços de solidariedade e conseguiam prestar auxílio às colegas menos afortunadas. Na época do parto, as mães podiam ficar um tempo com os filhos e só depois retornar ao trabalho. Assim como elas, havia outras associações por ramo de negócio, como as que reuniam as vendedoras de batata-doce (Akua-Mbonze), as de tabaco (Akua-Makanha) e as “coleiras”, que vendiam gengibre e cola – uma fruta com efeitos estimulantes consumida em todo o continente africano. Dependendo da origem étnica, elas se diferenciavam pelo colorido de seus adereços e roupas. Os tipos de tecidos usados também demarcavam as diferenças entre as quitandeiras mais ricas, proprietárias do negócio (mukwa) e suas funcionárias (mubadi). 


-Foto por Beth Q.-

"Os territórios das quitandeiras logo viraram pontos de referência nos centros urbanos. Em Salvador, no século XVIII, ficou conhecida a Grande Quitanda – que ocupava um belo prédio com o nome de Morgado de Mateus e era o centro da vida comercial da cidade. Até hoje, na Baixa dos Sapateiros, podem ser vistos os vestígios da Grande Quitanda. Em São Paulo, os tabuleiros enchiam a Rua da Quitanda Velha, enquanto no Rio, já no século XIX, a maioria das casas varejistas situava-se na Rua da Quitanda. No Mercado da Praia do Peixe ficavam as negras que vendiam angu, que seriam descritas pelo francês Jean-Baptiste Debret. "


Tanto em Angola como no Brasil, o mau cheiro e o barulho das quitandas passaram a ser vistos como incômodos a serem superados. Aos poucos, elas tiveram que deixar os largos, becos e travessas para se abrigar em espaços demarcados. Desde o século XVII, a Câmara de Luanda tentava regulamentar esse comércio, obrigando as quitandeiras a tirar licenças e cobrando multas das ilegais. No século XIX, foram erguidos prédios modernos para o funcionamento do pequeno comércio. "


Toda esta matéria pode ser lida neste site aqui.




Fiz estas fotos de uma pequena Quitanda aqui no bairro em que moro.  Sempre considerei este comércio bonito, atraente e de certa forma interessante, pois além da rica e tradicional  história que tem, sabemos que não é comum em todo nosso território e muitos turistas ficam admirados e atraídos pela beleza de nossas frutas e legumes assim expostos.  E, para quem é brasileiro e mora fora do país, um presente que trará saudade.


-Foto por Beth Q.-









17 comentários:

Celina Dutra disse...

Beth carioca querida,

As fotos são lindas. O texto já havia lido. Mas sabe que deu uma saudade danada das quitandeiras de Luanda, e gostaria de ouvir nesta hora (a hora delas) o canto das quitandeiras que vendiam peixes! Bom dia!
Girassóis nos seus dias. Beijos.

chica disse...

Adoro essas banquinhas, quitandas... E bela aula deste aqui! Lindas fotos também...beijos,chica

Isabel disse...

Beth, que quitanda mais bonitinha!
Já imaginava que essa palavra tinha origem africana. Por aqui isso seria uma mercearia ou uma frutaria, mas em moldes um pouco diferentes, claro :)
Bjs

Bia Jubiart disse...

Bom dia Beth!

É incrível a história e tradição de algo que faz parte do nosso cotidiano e as vezes passa desapercebido...

Vou mostrar o texto p/ o maridão, p/ matar a saudade de sua África...

Um dia especial p/ vc!

Beijooooooooooo

Misturação - Ana Karla disse...

Beth, as imagens dessa quitanda, estão um charme e vejo as frutas bem protegidas.
A história me acrescenta a sabedoria de mais uma cultura eterna.
Boa semana
Xeros

Beatriz disse...

ADORO quitandas Beth! Sempre quero comprar toas as frutas, de todas as cores e encher a casa!!!! pena que depois não consigo devorar nem a metade....Minha irmã que mora na Espanha disse que lá não tem a nossa variedade e quando aparece no mercado, o preço é exorbitante! Sorte a nossa, né!!!
Beijinhos
Bia
www.biaviagemambiental.blogspot.com

Lulú disse...

Olá Beth.
Bela postagem. Lembrou meu tempo de menina. Saudades.
Fotos maravilhosas.
Beijo
Maria Luiza (Lulú).

Calu Barros disse...

Betinha,
quanta riqueza há nas tradições mais simples.São muitas das vezes as que enraizam nossa memória afetiva, como essas das quitandas.Eu sabia da origem africana do termo e do tipo de comércio, mas só tive maiores conhecimentos quando li um post parecido, tempos atrás, lá na Celina e me encantei com tanta riqueza de detalhes e história que fazem desses costumes,um marco nos dois continentes.
Tua postagem veio somar de forma encantadora todas as histórias enfeitando nossos olhares com as fotos primorosas.
Perfeita união de sabor, saber e beleza.
Adorei!!
Bjos,
Calu

Liz - Como as Cerejas da Minha Janela... disse...

Ah,eu acho lindo esse tipo de quitanda! aqui em São Paulo tem muitas, principalmente nos bairros mais nobres, e elas enfeitam a cidade com a sua beleza, cor e delícias que expõe. Tenho uma perto de casa onde sempre compro Açaí. E eles colocam cadeiras e mesinhas no fim de semana, virando ponto de encontro obrigatório da moçada. É muito legal!

Adorei o post!! fotos lindas!!!
beijos com carinho
Liz

Roselia Bezerra disse...

Olá, querida
Goto demais de Hort Fruit...
Não tenho o hábito de quitandas por aqui... só quando morei fora...
Bjm de paz

Pitanga Doce disse...

Uma quitanda assim dá gosto. Tão organizadinha! Parece até que andou um vitrinista por lá!
Agora o nome "muderno" é horti-fruti, viu "bebê"? hehehe

http://saia-justa-georgia.blogspot.com/ disse...

Beth, muito interessante este teu post.

Eu adoro fazer compras em quitandas. Aqui na Alemanha existe mas só os estrangeiros oferecem este tipo de servico. Os alemaes nao têm uma quitanda.

Vc já leu o livro As historias das mulheres no Brasil?

É um livro fascinante. Eu o estou lendo e aprendendo tantas coisas maravilhosas.

Vou deixar o link aqui pra vc fazer uma pesquisa sobre o livro, pois tenho certeza que este livro é o teu tipo de leitura.

http://www.editoracontexto.com.br/produtos.asp?cod=232

O livro é rico em imagens e os textos sao maravilhosos. Nada enfadonho, numa linguagem altamente moderna.


Bjao

Beth/Lilás disse...

vALEU, gEORGIA!
vOU OLHAR AGORA MESMO.
BEIJINHOS
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Maria Luiza disse...

Beth, essa quitanda que você fotografou aí do seu bairro é limpíssima e tudo muuito organizado. As quitandas geralmente são e eram um amontoado de produtos, quase sem estética alguma. Essa do seu bairro está show em organização beleza, limpeza e frescor nos produtos!Vê-se logo. Tudo muito lindo como tudom o que escreves. Amei! Bjbjbj!!!

Toninho disse...

Uma belissima e culta postagem minha amiga, com esta historia das Kitandas com apogeu e o processo discriminatorio e explorador.Hoje elas ocupam lugares diversos e com a explosão do gosto pelo acarajé e abará, elas passaram a ter espaços definidos e regulamentados, mas ainda se espalham pela cidade com seus tabuleiros e toldos nesta cidade de Salvador.
Grato pela generosidade de tal post e nos indicar a referencia,que ja estive lá e vou me tornar leitor/pesquisador.
Meu carinho de sempre com respeito e admiração.
Um abração de paz e luz.
Bju.
Ainda bem que busco sempre me atualizar nas leituras dos amigos e não perdi esta,kkkk

Beth/Lilás disse...

Maria Luiza!

Também fico encantada com o modo como este homem cuida de sua 'quitanda' e das plantas que tem ali pela calçada.
São todas vistosas e bem arrumadinhas e enquanto eu fotografava, ele lá de dentro, escondido atrás do balcão me olhava. No final eu disse a ele que iria colocar as fotos na internet e fazer elogios. Quando lá voltar vou dar-lhe o link do meu blog para que ele veja os elogios de todos. Ele merece, pois é mais que um quitandeiro, tem alma de artista.
beijos a todos

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Paulo Rideaki disse...

Quer dizer que você tem uma outra aptidão? Mamãe Gaia é mesmo polivalente, além, de escrever super bem, sabe tirar fotos!
Saiba que as fotos foram tão bem tiradas que pude sentir o cheiro e o aroma das frutas e hortaliças, ao abrir este espaço relevante.
Mas mais do que a percepção dos aromas, estou muito feliz em ter adquirido mais este conhecimento.
Eu realmente não conhecia nada das origens da quitanda, além da agua na boca, estou mais culto a respeito!
Muito obrigado e parabéns pelo bom gosto na escolha do assunto a ser abordado neste teu maravilhoso espaço cultural!
Eu simplesmente , ADORO, BEIJOS E ABRAÇOS DO AMIGO!