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terça-feira, 3 de maio de 2011

Tanta coisa pra se desvendar

(Urban Sketchers)


"Se você não sabe para onde está indo, qualquer caminho serve."
(William Shakespeare) 

Faz tempo que eu não sei como é andar sem destino, sem lenço nem documento, sem hora de partir ou chegar, sem medo de andar por caminhos desconhecidos, sair por aí fazendo o que me desse na telha.  

Já fiz coisas assim em algum tempo da vida. Certa vez queria saber onde era o ponto final de um ônibus que pegava sempre no bairro em que eu morava, mas não sabia de onde ele vinha. Os ônibus do Rio naquela época tinham um letreiro bem em cima que diziam o local de saída e chegada. Assim, por exemplo: Méier-Campo Grande ou Lins-Laranjeiras ou Engenho Novo-Copacabana,  e por aí afora.
Resolvi então saber onde ficava um tal lugar chamado Marechal Hermes e peguei um ônibus que fazia a linha Méier-Marechal.  
Nossa, como era longe aquele tal de Marechal Hermes!
Mas quando a gente é jovem e não tem compromisso, tudo é divertido e permitido. Olhando pela janela do ônibus  pode-se descobrir coisas incríveis, casas diferentes, gente diferente, vidas que passam como num filmezinho por aquela fresta de janela.  

Hoje parece um museu guardado em minha mente, mas gosto de remexer estes guardados, pois isso me faz ter a sensação de que vivi e fui jovem realmente, querendo descobrir e explorar as coisas novas na vida.

Ah, sim!   Querem saber o que eu vi lá em Marechal Hermes, não é?

Bem, pra dizer a verdade não vi nada, porque não saltei do ônibus, continuei dentro dele e paguei a passagem de volta pro Méier, afinal eu era uma exploradora muito pouco ousada e no fundo, fiquei meio preocupada em estar tantos quilômetros longe de casa e sem meus pais saberem de nada.  Naquele tempo não havia telefones celulares para eles monitorarem a gente, então minha consciência dizia que eu não devia me arriscar tanto e que deveria retornar, afinal eu tinha apenas meus 15 anos. Mas, à noite fiquei pensando na minha aventura solitária e no gostinho bom da irreverência e descompromisso.

Hoje, eu bem poderia fazer uma coisa dessas, afinal quem manda no meu nariz sou eu, mas cadê a coragem para entrar num ônibus e ver o que tem lá no final dele, como é o bairro naquele trajeto de linha ou como são as pessoas de lá.  A gente leva tudo tão a sério quando envelhece, não tem coragem de ousar fazer caminhos diferentes, mudar rotas, sentir a vida sem compromissos, sem tempo e sem medo.

Tanta coisa pra se desvendar, como diz o maravilhoso Lenine na música abaixo.




24 comentários:

Luciana disse...

Beth, eu também tive uma 'aventura' como esta sua do ônibus. Quando fui morar em Natal eu não conhecia quase nada, mas sabia que a cidade era grande. Daí ficava olhando o nome dos bairros nos ônibus, na verdade eu nem pegava ônibus pois somente ia de casa para escola e como era perto eu ia a pé mesmo. Então vi um ônibus com o nome 'Cidade Nova', daí levei o nome ao pé da letra e achei que era uma cidade nova, toda moderna. Um dia chamei minha irmã e a mulher que morava no apartamento de baixo para irmos fazer esta exploracão na cidade nova. Menina, era um bairro pobre e segundo o motorista do ônibus era perigoso por lá. Nem chegamos a descer do ônibus e nem tinha nada pra ver mesmo, só casas residenciais, ruas onde esgotos escorriam. O motorista disse pra gente ficar no ônibus aguardando a saída de volta pra cidade. Depois disso a minha curiosidade não foi tanta. Aqui tem um ônibus de dois andares em uma única linha, näo sei pra onde ele vai, mas sempre penso em pegar somente por causa dos dois andares, kkk Sou matuta:)

Beijo

Rafeiro Perfumado disse...

É um pensamento bonito, mas perigoso, nos tempos que correm, pois caminhar por certas zonas pode ser o nosso último destino.

Beijoca!

chica disse...

E como temos coisas a desvendar...Só falta a coragem,tão necessária! um lindo dia e te li no outro blog.Legal! beijos,chica

lolipop disse...

Ah Beth, esse texto bonito, trouxe-me o eco das palavras de Rubem Alves que eu escolhi para a minha apresentação no EmQuantos...

"Tolo é aquele que tendo defendido tese sobre barcos e mapas, não sonha com horizontes, não planeja viagens, não imagina portos. Anda sempre em terra firme por causa dos naufrágios."

Devo a si a descoberta destas linhas...

Bem haja...mil ternurasssssssss

Márcia Cobar disse...

Beth, a "veieira" deixa a gente mais cautelosa com o tempo, com as escolhas, com os caminhos. É uma pena que o preço da maturidade às vezes seja cobrado às custas da espontaneidade.
Bjs
Márcia

Glorinha L de Lion disse...

Também eu quando menina e jovem não tinha medo de ousar...era até destemida demais, por vezes irresponsável até...fico pensando em que lugar guardei aquela menina que um dia fui. Um pequeno pedaço dela já me serviria hj. Com a idade perdemos a ousadia. Acho que vem daí a minha apimentada forma de ver o mundo, as pessoas e a vida. Mas faz-me falta a pimenta do viver...beijos,

pensandoemfamilia disse...

Beth
Suua reflexão é excelente, mais há sempre momentopara se ousar. Aquela adolescente está dentro de vc. Voar é preciso....
Hojefiz um trechinho que pode ter muito a ver com suas reflexões....
É muito bom quando arriscamos, mesmo que sejam pequenas coisas, pois cresce dentro de nós o desejo de ousar mais e mais...
bjs

disse...

Olá Beth!! Muito obrigada pela mensagem, pelo carinho. É isso que me mantém em pé. Suas postagens são daquelas que temos vontade de ler, reler e continuar lendo de tão bom. Escolhes a dedo o que publicar e o carinho com que fazes isso, sentimos daqui. Bjoss

Heloísa Sérvulo da Cunha disse...

Beth,
Só mesmo a juventude para arriscar, o que muitas vezes leva a descobertas interessantes e importantes.
Com a maturidade completa, o que se quer é fugir de riscos. Isso não afasta, contudo, a busca de novos caminhos, mas a busca é feita com planejamento e cuidado.
Beijos.

gabriela disse...

Passei para te deixar um abraço com saúdade bjs

UBIRAJARA COSTA JR disse...

Quando eu me casei, fui morar em BH (meu marido era de lá) e vez por outra costumávamos fazer isso, ele e eu. tomávamos um bonde (naquele tempo ainda havia bondes pela cidade) ou mesmo um ônibus e íamos de um lugar ao outro, pois ele queria que eu conhecesse a cidade toda. Íamos de mãos dadas, só alegria, desvendando pequenos segredos (rs...) de BH. Momentos simples, mas maravilhosos... Saudade!...
Adorei seu texto.
Beijos

Calu Barros disse...

Betinha, que bos lembrança cv nos trouxe e ainda com fundo musical...
Tenho saudades daquela ousadia que me era quase institiva.
Dava um friozinho na barriga, mas isso não nos detinha. Èramos jovens, destemidas,curiosas. Meninas super-poderosas!!
E ainda o somos, só precisamos nos lançar em boas aventuras.
Que tal?

Obs: Obrigada pela lindas palavras lá no fractais.Vc é um docinho!
Bjo grande.
Calu

Pitanga Doce disse...

"A gente leva tudo tão a sério quando envelhece, não tem coragem de ousar fazer caminhos diferentes, mudar rotas, sentir a vida sem compromissos, sem tempo e sem medo".

Deixa eu ficar caladinha ou ainda vou escandalizar a malta. hehehe

Beijos Beth. Que mudança de clima hein?

Valéria disse...

Oi Beth!
Quando eu penso que existe tanta coisa para se desvendar fico assustada! Meu prazo de validade já não é tão grande e eu sinto uma fome de ver, ler, comer, viajar... Estes livros que publicam agora, as 1000 isso, 1000 aquilo para fazer antes de morrer me dã aflição.rsss
Beijão

Ana Paula Soldi disse...

Eu lembro que quando tinhamos aulas vagas, saia com um grupo de amigas a dar voltas, e uma vez fomos a um lugar super longe e meio perigoso, gracas a Deus nunca aconteceu nada e minha mae nunca ficou sabendo, mais hoje em dia eu tenho hora pra tudo e seria difícil sair por ahí, bem que eu gostaria, ;)

beijos

Teredecorando disse...

Beth, minha amiga,
Sabe que eu fazia isso pegando o bondinho de Sta. Teresa? Tudo bem que era perto, mas adorava me aventurar. Fazia como você. Não descia e voltava no mesmo bondinho.rsrs...Ah!!! Boas lembranças!
Acho que não nos aventuramos mais nos dias de hoje devido a violência. Pelo menos eu penso assim. Além disso, temos outras responsabilidades e compromissos, né??? Só nós sabemos... Seu HD (memória) está repleto de coisas lindas. Acho que você deveria escrever um livro sobre suas recordações. Acho delicioso ler seus "causos". Que leitura boa.
Bjs mil

São disse...

Ora viva!

Partilho consigo aventuras desse tipo. Só que o faço ainda hoje, sabe?

Com cuidado, controlando a situação...mas faço, rrss

Amei o post e ter vindo aqui.

Um abraço grato pela visita, que espero repita.

Paloma disse...

Beth, apesar do avanço do anos, ainda ousamos grandes aventuras se houver uma razão muito forte.

Lúcia Soares disse...

É, Beth. A juventude nos deixa mais corajosas, sem dúvida.
E também, hoje em dia não podemos mesmo nos arriscar a sair por aí, sem destino.
Mas o gostinho da sua aventura seguiu pela vida, deixando-a se elmbrar de uma fase boa que viveu, onde preocupações e medos eram relativos.
Beijo!

Lu Souza Brito disse...

Ihh Beth, eu sempre fui bem medrosa. Mas sabe que morando proximo a capital, a gente aprende que tem que saber andar por qualquer buraco, então me enfio nos trens e metros aqui e fico contente sempre que descubro um lugar novo. Não tem como ter medo de sair por ai (ainda mais para quem nao tem carro). Mas acho sempre uma aventura!

E sim, a cautela chega com a idade, e como diz minha mae, com a chegada dos filhos isso piora muito, kkkkk.
Beijos

Dani dutch disse...

Web-mãe, tá aí uma coisa que nunca fiz, acho que a minha loucura foi a de vir pra cá com a cara e a coragem. bjuss

ML disse...

Imagina, hoje em dia a gente quer mais é saltar o mais rápido possível do ônibus. Tava caminhando outro dia quando vi uns 3 "pivetes" entrando pela porta traseira, empurrando quem descia: aparentemente, tinham roubado alguém na praia. Fiquei com pena de quem estava dentro e não percebeu o perigo.

bjnhs

Jo Turquezza disse...

Oi Beth! Uma das coisas que mais prezo na vida é a liberdade!
Mas com um pouquinho mais de idade, vemos mais perigos em tudo (e realmente existem). Então às vezes não podemos dar asas à imaginação e aos "pés". Pena mesmo!
Beijos.

http://saia-justa-georgia.blogspot.com/ disse...

Beth, eu acho que vc faz muito bem em nao fazer esse tipo de aventura, até porque minha amiga os tempos sao outros. Conhecia marechal Hermes porque morei em Nova Iguacu e para ir ao Centro do Rio eu precisava viajar todos esses bairros. A viagem durava 2 horas ou mais.

Bjao e bom fim de semana