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quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Usos e costumes - recordação

Ser mocinha nos anos 60 era complicado,  devido aos preconceitos em torno da figura feminina e quase nada era exposto ou fácil de lidar para uma adolescente que sonhava com os Beatles e queria usar as saias curtíssimas da moda, as mini saias com botinhas inspiradas no filme Barbarella com Jane Fonda e incentivada no Brasil pela turma da Jovem Guarda com Wanderléa e outras meninas.

E aí, estava eu na sala de aula do colégio público do meu bairro, maravilhoso por sinal, com grande área construída e pátio arborizado para brincadeiras diversas na hora do recreio, assim como um enorme auditório  com cortina de veludo vermelho e poltronas verdes confortáveis, mas voltando à sala de aula, vemos a inspetora de nossa turma chegar à porta e anunciar que teria uma palestra no auditório às 15 horas somente para as meninas da turma.  Meninos não eram convidados nem bem vindos porque o assunto era somente voltado para as meninas moças e fazia parte de algum convênio do Ministério da Saúde para, em conjunto com a aula de Ciências, explicar e, principalmente, apresentar às jovens o sucesso do momento - o Absorvente Higiênico - uma novidade incrível e revolucionária para auxiliar e trazer conforto e liberdade de movimentos para as mulheres.  A professora de Ciências mostrava,  em slides, imagens do aparelho reprodutor feminino e o processo que ocorria nele todos os meses, consequentemente o que se chama menstruação. 

Recordo-me das nossas caras, meio envergonhadas, risinho contido, olhando umas para as outras e cheias de curiosidade ao mesmo tempo, pois tudo aquilo era maravilhoso, um mundo sendo aberto, rompendo silêncios de séculos e uma consciência de que o mundo estava avançando para todos nós.

Este dia tornou-se inesquecível para mim e imagino que tenha sido para muitas de minhas companheiras daquela época, pois além de conhecermos melhor sobre nós mesmas, fazer perguntas a respeito do assunto e que tirou algumas dúvidas, afinal nem todas as meninas tinham mães que conversavam abertamente sobre este assunto, talvez pelo ranço do machismo que ainda existia, vergonha ou das poucas informações que muitas mães tinham sobre este ou outros assuntos referentes a sexo e sexualidade.

Cada uma das meninas recebeu ao final da apresentação um pacote de Modess, o absorvente mais badalado e usado por muito tempo pelas mulheres nas décadas seguintes, tanto que ficou conhecido aqui no país,  como referência ao se referir a absorvente, ou seja, a difusão da marca foi tão forte que o nome viraria sinônimo do objeto como Coca é de refrigerante.  Mas os anúncios eram muito discretos, assim como não se usava falar a palavra 'menstruação' e sim 'aqueles dias'.  E algumas mulheres tinham vergonha de pedir o tal produto na farmácia, então passavam escrito discretamente num papelzinho para o balconista.  Coisa tosca, né!
Isso deve soar estranhamente para os dias atuais em que vemos mulheres conhecidas fazendo anúncio de absorventes higiênicos com a maior naturalidade como vi hoje,  em um stande luminoso de rua,  com a cantora Cláudia Leite.

Retornando à sala de aula, não sabíamos como esconder o tal pacotinho, sentíamos vergonha da chacota dos meninos que, espertamente,  já conheciam ou ouviram falar do tal produto e nos receberam com risadinhas e  piadinhas.  Meninos, blergh!!!!!

Lembrei-me de contar sobre esta minha estória e deste produto que revolucionou em muito a vida feminina, afinal poderíamos usar nossas mini saias da época sem medo de passar vexame, ter uma vida mais ativa e confortável.   E uma outra coisa também me fez recordar tudo isso,  foi quando vi este vídeo no you tube com a atriz Marília Pera, ainda bem jovem e em plena ditadura militar no Brasil, onde qualquer vocábulo ou frase que representasse sinônimo de liberdade, eram imediatamente censurados e o tal anúncio era do absorvente Sempre Livre, claro, censurado na época!  Absurdo!











23 comentários:

Anônimo disse...

Adorei o seu relato sobre essa descoberta e de como eram as coisas na sua época de escola.

Puxa, e censurar por que? Não vi nada demais ali. Absurdo mesmo! :s

Cris França disse...

Eu imagino desafio, mesmo nos dias de hoje, todo mundo diz que faz, como faz, mas tem muito adolescente sem cultura e conhecimento por aí.
Culpa dos pais omissos , da falta de diálogo e da cultura machista que ainda enfrentamos nos dias de hoje.
Um tema que rende muito
bjs querida

chica disse...

Vivi exatamente isso tudo.Que coisa estranha e hoje??? beijos,tudo de bom,chica

Heloísa Sérvulo da Cunha disse...

Beth,
Acho incrível sua capacidade em descobrir coisas tão interessantes. Como a Marília era novinha!
Acho que a turminha nova não consegue imaginar aqueles tempos, em que realmente a vergonha de pedir "Modess" nas farmácias era enorme. Não havia as gôndolas com os produtos, e o jeito era pedir no balcão, e quase sempre para um empregado homem, que era a maioria.
Ufa, ainda bem que isso passou.
bjs

Anônimo disse...

Ola,
Voce parece tao mocinha para ter vivido esse tempo da apresentaçao do absorvente higienico!
Eu lembro tambem de aulas constrangedoras , uma chamada "Programaçao de Saude" que o mesmo professor de Ciencias apresentava doenças venereas. Aquilo era brabo, ainda por cima era feio demais. Duvodo que algum garoto ou garota tenha saido dali pensando em um dia nao usar "camisinha".
Beijos,
Cam

Glorinha L de Lion disse...

Betita, eu já não tive essa sorte. Esse teu colégio devia ser bom mesmo ein? No meu tinha era umas freiras falando de Deus e Jesus ...eu ein...nunca deram aula sobre educação sexual...aprendi com as amigas, tudo deturpado. Ô época horrorosa aquela da nossa puberdade. Boas lembranças amiga, gostei muito desse texto, me fez recordar várias coisas daquele tempo de censura, pecado e hipocrisia. Beijos.

Luma Rosa disse...

Lembro quando fiquei mocinha e a amiga da minha irmão veio me mostrar o "modess" explicando como usava. Tinha duas pontas e sem adesivo. Ela explicou "Olha, essaa ponta maior fica para trás, viu?" e era rosinha! :) Imagino como deveria ser antes de existir os absorventes e como as mulheres faziam para lavar todas aquelas toalhinhas escondidas dos homens da casa. Não era à toa que ficavam nervosas, baita trabalheira!! Agora estão criando absorvente e fraldas ecológicas. Não acho que a mulher precise mais menstruar, mas tem uma corrente de mulheres que se sente mais mulher, menstruando! Vai entender! Um assunto, para discutirmos heim? Pois acham que não menstruar está sobrecarregado de sexismo. O que acha? Boa semana! Beijus,

Lu Souza Brito disse...

Oi Beth,

Vixe, as minhas irmãs que compravam para mim porque eu morria de vergonha de comprar, juro! Mas isso logo passou. Você falando disso eu me lembrei da primeira aula de educação sexual (isso era 1992)e eu tinha 10 anos. Era uma vergonha só ouvir a professora, mas também questionávamos bastante.
Agora a pergunta da Luma acima, como assim as mulheres nao querem menstruar? Eu não tenho nada contra, nao mesmo. Tirando o fato que atrapalha a vida sexual neste período... Quero ver mais sobre isso. É assunto polêmico, ahahahha.

Bordados e Retalhos disse...

Beth, lembro-me perfeitamente de uma palestra assim no colégio que eu estudava lá no Valqueire, chamado José Joaquim de Queiroz Júnior. Ainda está lá, lindo e imponente como na minha memória de infância. Mas seu post hoje me fez lembrar da palestra, do riso envergonhado... Como tempo descobri que palestras como essa não podem ser dadas somente para as meninas. Os meninos precisam respeitar e entender as meninas. E esse assunto discutido entre todos, ajudaria muito nossos adolescentes ou pelo menos os adolescentes que fomos naquela época.Lembro de uma propaganda do Sempre Livre em que alguém jogava um jato de tinta no absorvente para mostrar como ele não deixava vazar o líquido. Bom, o líquido era azul, mas a TV lá de casa era PB. Algumas amigas me diziam que saiam da sala nessa hora se o pai ou o irmão estivessem lá. Pode? Nunca tive essas bobeiras pq minha mãe sempre foi muito aberta com esse assunto. Bjs querida, adorei o post

pensandoemfamilia disse...

Olá
Tudo era misterioso e feio. Uma dificuldade para mãe explicar sobre o sangramento mensal e as toalhinhas, que horror! ter que lavá-las. Em nenhuma das escolas que frequentei houve palestras. Nesta época, morava no Rio, ou melhor, Guanabara.
Adorei ver o video da Marília, tão novinha...

ML disse...

Sua escola devia ser bem moderna, isso é que é qualidade de ensino.
Mas fico imaginando a cara das "gurias" voltando pra sala...
Ontem, me surpreendi com umas 2 meninas (tipo 8 10 anos) usando esmalte escuraço nas unhas dos pés!
Demais ou sinal dos tempos?

bjnhs

Leci Irene disse...

Mama mia! Eita memória! Como é bom a gente colocar isto tudo no papel! A gente acaba divertindo-se!!!!!!!

Teredecorando disse...

O tempo passa, o tempo voa...Que lindo!!!
REcordar é viver...Recordar coisas boas é viver mais ainda.
Tudo de bom
Amei...

Lúcia Soares disse...

Beth,
Também assisti a uma palestra assim, no meu grupo escolar.
Como tinha 2 irmãs mais velhas, sabia sobre a menstruação, mas não que se falasse sobre isso em casa...
Já usava os absorventes, mas como éramos muitas (4, com minha mãe), intercalávamos com as famosas toalhinhas. Prático e higiênico não era, mas achava mais seguro, pois eram maiores (mais volumosas também. Preferia para dormir).
Na adolescência e adulta jovem, não me preoucpava com a mestruação, mas depois dos filhos, fiquei com volume maior e passei a "odiar", verdadeiramente.
Que bom que passou! rsrrsrs
Bj

Kelly Kobor Dias disse...

Não canso de dizer o quanto amo a modernidade, não sei como faria para viver numa época dessas....adorei seu post, beijos

She disse...

Beth, querida, que barato de post, AMEI! E adorei poder assistir ao vídeo, tudo já mudou tanto, né? E ainda vai mudar muito mais...rsrs
Beijo, beijo! ;)

Wilma disse...

Beth, nem parece que foi ontem tudo isso!!! No meu colégio tinha um orientador educacional Hans para meninos e Estela para meninas para estes assuntos, era tão curioso. Nessas décadas poucas, a sociedade mudou muito e fico pensando, o que terá ainda que mudar daqui mais 5 décadas? Como saber se não estaremos mais aqui, buááááááá

Wilma disse...

Ah esqueci de dizer que a Marília Pera estava novinha e linda, ela é uma Dama como sempre, gosto muito dela, existe um texto do Nelsinho Mota dedicado a ela que gostaria tanto de reencontrá-lo pra ler. Inesquecível!!!

Bia disse...

Muito legal isso Beth!

Acho que as pessoas hoje em dia, nem se dão conta de quanto as coisas mudaram, de quanto as pessoas tiveram que lutar para chegar onde estão... e que coisas bobas de hoje, foram conquistadas com muito suor.

E olha, se o seu Daniel foi metade do que Alvinho é, boa sorte Beth! Pq minha mãe só falta arrancar os cabelos por causa dele!

bjs

Ivana disse...

Bethinha, que loucura, né? Pensar que hoje usar absorvente é tão normal. Já tem até absorvente interno!! Uhu!!
E eu, muito boba que era, lembro que morria de vergonha de comprar absorvente pra mim, acreditas? Só faltava me enterrar! :P
Beijos!

Ana disse...

Passei por todas estas dificuldades, também...
Que coisa mais sem cabimento... Ainda bem que tudo moudou e viva o OB!

Rosamaria disse...

Xi, Beth, no meu tempo ainda era bem pior! Nem dá pra começar a contar.
Uma freira dizia para tomarmos banho antes de confessar, pq se tocar era pecado. Pode? Que doença!!!!
Bjim, cosquirídia.

Unknown disse...

Que coisa mesmo né? Você foi contando e fiquei imaginando a cena, consegui até ouvir as risadinhas das meninas na palestra... rs. Eu me lembro do meu primeiro absorvente e me lembro de como também me senti envergonhada...rs. Minha primeira menstruação aconteceu justamente no dia do aniversário da minha mãe e ela disse que foi um presente para ela ver que fiquei mocinha... ti lindo! rs


beijos