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quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

Vou de táxi IX



O calor era de fritar ovo no asfalto, portanto sair do ar condicionado do quarto, descer de elevador e chegar à portaria sem ter a certeza de que o táxi marcado para aquele horário já estava lá, era um risco e tanto para uma calorenta que nem eu, e nada interessante ficar ali à espera, pois o hall do edifício, sem ar condicionado, somente com um pequeno ventilador para o porteiro e que não ia achar nada legal ter que dividir comigo aquele seu espaço exíguo. Então, não era o melhor lugar naquela hora.
Mas dessa vez, não houve necessidade, pois ele veio logo me perguntando se eu havia chamado um táxi, porque a motorista já estava lá me aguardando. Feliz da vida, respondi que sim, sim, chamei. Dei tchauzinho para ele e procurei com os olhos a motorista.

Era uma motorista a condutora do meu táxi, e que simpatia! Ficamos logo amigas de infância e, enquanto eu me aboletava meio esbaforida no banco de trás, ela aumentava o ar condicionado sem nem mesmo eu pedir para isso, mas só mulher, neste caso, para entender a outra. Definitivamente, sentimos mais calor do que os homens. Santo ar condicionado, pensei eu! E fomos nós!

E ela disse a frase mais escutada por estes dias - Que calorão, heim!
Respondi com um sonoro "Barbaridade!"
E ela, toda animada, me perguntou: - Este 'barbaridade' é sinônimo de algum lugar, né?
Respondi: Ah não, isto é um hábito de linguagem que peguei do meu marido que morou por alguns anos em Porto Alegre.
Ela foi logo dizendo que era gaucha também, mas que já vivia no Rio há mais de 20 anos, talvez por isso seu sotaque já era mais brando.
E a conversa foi se alongando, ela olhando pelo retrovisor para mim, sorridente, desenvolvemos uma empatia quase que imediata. 
Eu disse a ela o quanto estava surpresa de ver uma taxista por ali, porque na verdade, eu só conheci mais uma que me levou ao aeroporto noutro dia. 

Eu lhe disse que admirava sua coragem, já que esta é uma profissão de algum risco aqui pelo estado.
Mas, ela, como todo taxista, me disse que aquela não era a sua profissão realmente e que só trabalhava de noite, porque de dia ela fazia outro tipo de trabalho, aliás bem mais interessante.
E antes mesmo que eu perguntasse o que era, ela veio logo se intitulando Numeróloga, Taróloga, grande entendedora de energias kármicas e de florais e que não era religiosa, mas seguia certos preceitos budistas.
Puxou imediatamente um papelzinho com suas habilidades profissionais, e me convidou para qualquer dia passar em sua casa para uma consulta. 
Eu ouvindo aquilo tudo, com a cabeça meio enrolada ainda sobre o que pensar deste inusitado encontro, só ouvindo, com um sorriso nos lábios, talvez para parecer interessada.
Daí ela me perguntou se eu acreditava nestas coisas.

Bem, veja bem, eu nem sei o que dizer, mas nunca procurei ninguém para estes serviços, então acho que sou meio cética, respondi-lhe, ainda com meu sorrisinho de simpatia.

Um sinal demorado foi o suficiente para ela me perguntar qual era a data do meu nascimento.

Quando o sinal abriu ela começou a dizer coisas a meu respeito, do tipo:  - Você é uma pessoa boa, mas muito reservada, não se abre fácil e tem um karma na família. Karma este mal resolvido. Seu ano passado foi muito ruim, você ficou doente (fiquei mesmo, mas fiquei na minha, não disse nada) e precisa fortalecer seus Chakras, transmutar o negativo, quem sabe invocando uma chama violeta e blá blá blá blá blá ... mas, pode ser porque você é meio chatinha, muito exigente. Respondi: sou mesmo!

É, pois é, sabe como é né, a vida tem dessas coisas e todo mundo tem problemas na família, de doença, disso e daquilo ... - lá fui eu dizendo para encurtar o papo, e já torcendo para não ter mais sinais fechados pela frente, a fim de chegar rapidinho na rodoviária. 

E, chegamos, ainda bem! 

Minha motorista, numeróloga, taróloga, adivinhadora e outros atributos, percebendo que já estávamos na entrada do meu destino, insistiu que eu entrasse em sua página no Facebook para entender melhor do assunto e, quem sabe, buscar ajuda com a força dos 7 raios com um ritual de fortalecimento para meu equilíbrio mental, emocional e espiritual.

Agradeci, paguei, dei mais um sorrisinho simpático, desejei-lhe bom feriado e saí pro calorão do dia.
Senti-me aliviada, livre e até contente, mesmo com a lufada quente na cara depois de sair do ar condicionado daquele táxi, que mais pareceu-me uma viagem insólita no tempo.

Ah caros amigos, pegar táxi no estado do Rio pode ser a solução, mas é sempre uma aventura!





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10 comentários:

chica disse...

Beth, que legal encontrares uma gaúcha taxista! Pena que falava demais e imagino, quase te deixou mais tonta do que o calorão lá fora!

E , certamente ele usa seus conhecimentos para perceber quem ela pode deixar entrar em seu carro. Só assim pra andar de táxi à noite, no Rio ou em qualquer lugar! beijos, lindo Carnaval e ou descanso nele! chica

Felisberto T. Nagata disse...

Olá, Beth...bem,num ponto é verdade, conversa com taxista rende sempre alguma história/aventura para contar ...eu simplesmente gosto de ficar quieto na viagem , pois nada me irrita mais que pessoas que me irritam, pensa que sabe tudo, de nós e não sabe nada e nos inclui na vala comum , que todos temos karmas iguais e avalia o fato de não falar muito, ao chakra da Garganta que não está aberto, deve ser isso...
Obrigado pela visita, Bom feriado, beijos!

Maria Célia disse...

Oi Beth
Apesar da taxista demonstrar ser muito simpática, o assunto principal da conversa me desagradaria muito, confesso, que tenho horror destes tarólogos, numerólogos, energia kármica e afins.
Numa situação como a sua eu ficaria muito incomodada, numa verdadeira saia justa, não gostaria de desagradá-la e muito menos render este tipo de papo.
Um beijo.

Wanderley Elian Lima disse...

Oi Beth
Pegar taxi é sempre uma aventura mesmo. Já me tornei amigo de infância de vários taxistas, como já detestei vários. É sempre um contrato de risco.
Bjux

Beatriz disse...

Oi Beth!
Só mesmo no Rio os taxistas em geral são tão extrovertidos assim, rs. Sempre que pego um táxi fico sabendo a história de vida inteira da pessoa, seus problemas, filhos que moram fora, os bicos de trabalho e por aí vai. Normalmente dou corda e converso sobre todos os assuntos, pois acho chato demais ficar num carro o maior tempão com alguém estranho que não abre a boca e ainda fica com cara marrada....no Rio isso é meio sinistro, rsrs

Beijinho pra lá de carioca!

Bia <°))))<

Lúcia Soares disse...

Beth, uma aventura mesmo. rs Sempre podemos topar com esses taxistas falantes, aqui em BH temos os muito e os pouco falantes. Eu gosto bem de bater um papo, mas esses dias entrei em um e "rezei" para o moço ser dos calados, e era. rs
Também não acredito nisso, ou acredito com reservas.
Beijo e boa semana.

Bia Jubiart disse...

Kkkkkkkkkkkkkkk, desculpe Beth, mas assisti a conversa em 3D. Só espero que quando vc lançar um livros com essas crônicas "Vou de Táxi", eu possa$$$$ ir para o lançamento, e conhecer o famoso Niterói e subi aquela maravilhosa serra com vc, e quando estiver perto de mim não escreva, vou desvendar a sua personalidade kkkkkkkkkk.
Amei pegar o táxi com as duas!
Bjosssss.

Calu Barros disse...

Ah Betinha,
tua corrida foi simplesmente inédita, pelo sim e pelo não, um papo até curioso e cheio de inspiração,rsrs
Serviu pra abrandar a atenção do calorão cruel que nos assola.

Bjkas, amiga,
Calu

Misturação - Ana Karla disse...

E que aventura, Beth!
Não é comum ver mulher taxista. Uma vez peguei uma motorista que era super calada e eu que falava pelos cotovelos.
kkkkkkkkkkkkkkkkkk
Xeros

Toninho disse...

Que legal vir hoje e encontrar um Vou de Táxi, sempre com uma historia interessante do cotidiano carioca, que se aplica a muitas cidades.

Meu terno abraço Beth.
Bjus