Quando eu leio o que Manoel de Barros deixou-nos sobre a vida simples, a vida sem tantos envolvimentos e implicações, a sua busca pela conexão com a natureza, paro e penso -
Não tem sido assim os meus dias. Eu me distanciei da poesia um pouquinho e o mundo intenso de emoções e vibrações, às vezes negativas, me envolveu por completo.
Na tentativa de resgatar esses laços poéticos manoelinos, e a ligação com os seres da natureza, li e reli este lindo poema abaixo, que deixo para marcar este momento de mea culpa e felicidade por enxergar e consertar isto ainda em tempo.
Uso a palavra para compor meus silêncios.
Não gosto das palavras fatigadas de informar.
Dou mais respeito as que vivem de barriga no chão tipo: água, pedra, sapo.
Entendo bem o sotaque das águas.
Dou respeito às coisas desimportantes e aos seres desimportantes.
Prezo insetos mais que aviões.
Prezo a velocidade das tartarugas mais que as dos mísseis.
Tenho em mim um atraso de nascença.
Eu fui aparelhado para gostar de passarinhos.
Tenho abundância de ser feliz por isso.
Meu quintal é maior do que o mundo.
Sou um apanhador de desperdícios.
Ao os restos como as boas moscas.
Queria que a minha voz tivesse um formato de canto.
Porque eu não sou da informática: eu sou da invencionática.
Só uso a palavra para compor meus silêncios.
"Poeta do simples e da delicadeza, adota a autenticidade dos defeitos, em vez de aceitar o polimento do senso comum"
Foto: Reprodução Vida Simples
Foto: Reprodução Vida Simples
15 comentários:
Beth, que lindo post e que bom quando nos damos conta que estamos nos afastando da poesia e simplicidade da vida, enveredando nas asperezas apenas, nas durezas que nela existem também!
bjs, tudo de bom,chica
Nossa...que lindo, quanta sabedoria nas palavras dele! Parabéns por nos dar de presente este lindo texto!!
Bom dia Beth!
Beijos
CamomilaRosa
Beth, foi aqui nos blogs que conheci Manoel. Em toda minha vida escolar, nenhum verso sequer, nenhuma menção.
A cada encontro aleatório com a poesia singela dele, mais eu me encantava até ter em minhas mãos um de seus livros.
Sinto muitas vezes o mesmo que você sobre esse afastamento das palavras de barriga no chão. Correrias, cotidianos, notícias devastadoras... Mas, como bem colocou, ainda há tempo. Vou agora tratar de me esforçar!
Beijo!
Três Vivas ao mágico das palavras emolduradas na clara poesia que brota da simplicidade esfuziante da natureza e encontra ressonância melodiosa em cada coração fatigado de cruezas, como tem estados os nossos nestes dias tão nebulosos.
Belo e refrigerante mergulho nas ternuras manoelinas.
Obrigada amiga, por este momento mágico.
Bjkas mil,
Calu
Olá Beth, estou voltando de férias e vim conferir as novidades. Adorei esta seleção de textos do Manoel de Barros, um de meus poetas preferidos junto com Adelia Prado.
Grande abraço
Olá, querida Beth
A exemplo do autor, tenho usado as palavras par exprimir meus silêncios (e muitos) e têm me dado novo rumo à vida...
Bjm fraternal
Beth querida, boa tarde
Só tomei conhecimento da existência desse poeta espetacular após sua morte e foi através de um blog, não me lembro qual.
Procurei me informar sobre ele e fiquei encantada com a simplicidade, com a beleza das palavras do Manoel de Barros.
Fantástico o texto que você escolheu.
Belezura de postagem.
Beijo pra você.
É Beth amiga, não podemos deixar que o lado cruel da vida nos afaste da magia, do poético, do lado bom que a natureza em si nos transmite.
Estamos em sintonia com os poemas deste poeta maravilhoso com nossos blogs, nesta semana.
bjs
Lindo Beth.
A simplicidade é sempre maior.
Passando pra ver as novidades.
Xero
Olá Beth
Não conhecia esse poema. Me identifiquei tanto com ele que qualquer dia vou postá-lo em meu blog.
Bjux
Oi, Alfazema!
Manoel de Barros carregou sempre consigo esse "atraso de nascença" que caracteriza muitos interioranos.
A virada de século vem nos "plastificando" mais e mais. Tudo em nossa volta é industrializado - até a galinha que vivia fofocando "casamiga" e arejando nosso terreiro...
Oi Beth, também sou fã da singeleza deste poeta que nos deixou órfãos! A maneira como ele lidava com a natureza em forma de palavras é coisa rara hoje em dia! As gotas da chuva, o canto de um pássaro, o barulho do vento, tudo fica muito mais importante que qualquer outra coisa neste mundo!!!
beijinhos mil!
Bia <°))))<
Sempre há tempo para essa reconexão com a gente. Estamos muito sintonizadas amiga...além da beringela, a minha postagem de hoje traz esse tipo de reflexão. Menos conexão virtual e mais olho no olho rsrs.
Beijuuss amaaada
Sem mais. Também sou muito como ele, do simples, do lúdico, dos pés no chão.
Beijo, Beth.
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