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segunda-feira, 13 de outubro de 2014

Sob a Pasárgada de Bandeira

Christian Schloe

Num dia 13 de outubro morria o grande poeta Manuel Bandeira, e 28 anos depois sua poesia parnasiana ainda é reverenciada por muitos como eu, que gosta de ler à noite para relaxar.
Então, peguei  um dos seus livros mais celebrados e folheei, percebi que ele era bastante melancólico, talvez por conta da sua doença desenganada pela medicina, a tuberculose, algo mortal naquela época. Os traços de melancolia em suas poesias eram nitidamente notados, algo como um certo escapismo ou fuga para a realidade em que estava mergulhado. 

"Vou-me embora pra Pasárgada 
Aqui eu não sou feliz 
Lá a existência é uma aventura 
De tal modo inconseqüente 
Que Joana a Louca de Espanha 
Rainha e falsa demente 
Vem a ser contraparente 
Da nora que nunca tive ..."


E foi então que notei que ando meio assim, nostálgica, sentindo um estranhamento diante da vida, um medo de que tudo que aprendi e que achava que era certo, pode ser agora exatamente o contrário, que eu esteja com ideias e ideais ultrapassados, pois de tanto ouvir falar e ler diferentes discursos, chego a pensar que eu possa estar redondamente enganada.  Ou, não, sei lá!

"– Não quero mais saber 
[do lirismo que não é libertação.
 "


Manuel Bandeira morreu em 1986, mas não de tuberculose, pois se tratara na Suiça, e sim de problemas gástricos.  Aos 82 anos, o poeta despediu-se da vida e foi para sua Pasárgada eterna, viveu muito mais do que esperara, viu e participou de mudanças significativas do século XX. 

E, assim, pensando na possibilidade de muita vida ainda pela frente, me ocorreu que é tudo besteira, as coisas passam, posso ficar melancólica hoje, mas amanhã eu reajo, porque sei que é assim que devemos nos comportar diante das adversidades. E o poeta me responde nas entrelinhas de sua poesia eterna:

"Uns tomam éter, outros cocaína. Eu já tomei tristeza, hoje tomo alegria."

Mas para que tanto sofrimento,
se nos céus há o lento
deslizar da noite.

Mas para que tanto sofrimento,
se lá fora o vento
é um canto da noite?

Mas para que tanto sofrimento,
se agora, ao relento.
cheira a flor da noite.

Mas para que tanto sofrimento,
se meu pensamento
é livre na noite?

Manuel Bandeira 


— Alô, iniludível!
O meu dia foi bom, pode a noite descer.
(A noite com os seus sortilégios.)
Encontrará lavrado o campo, a casa limpa,
A mesa posta,
Com cada coisa em seu lugar.

Manuel Bandeira










12 comentários:

Toninho disse...

Que legal lembrar desta poesia do desespero de Bandeira que muitos cantam se entender a inspiração.O que é muito comum né?
Basta lembrar de Apesar de voce de Chico Buarque.
Mas Beth a vida tem estas subidas em estradas de pedregulhos, mas na frente sempre tem um caminho florido e perfumado que desembocar num lindo lago azul. É assim que alimento minha mente.
Diria minha mãe:minha fia isto passa.
Uma bela semana de paz e muita luz em seus dias.
Meu abraço mineiro de flor.
Bju de paz,

Dra. Cristiane Grande Jimenez Marino disse...

Oi Beth,

Que lindo post!
Muito bonita a sua reflexão sobre os diferentes momentos da vida, sobre as oscilações de nosso humor e de nosso pensamento.
Você escolheu outro autor maravilhoso que é exemplo de resiliência, Manuel Bandeira teve também uma vida muito sofrida e no entanto escreveu poemas maravilhosos e que nos dão força como esse que você colocou no final.
Bjs querida

Dra. Cristiane Grande Jimenez Marino disse...

Percebi que não estava te seguindo, já corrigi essa falha.
Bjs

chica disse...

Que linda lembrança e homenagem a esse grande poeta, por vezes tão esquecido. Lindo teu post com tuas palavras entremeadas às poesias. E realmente ainda bem que temos essa capacidade de se chega a tristeza, logo depois a alegria volta e melhoramos!

Tomar alegria é bem melhor( como ele diz! bjs, linda semana, tudo de bom! chica

Ives disse...

Como é bom tomar alegria dos versos de um grande poeta! abraços

pensandoemfamilia disse...

Oi Beth querida
Não sei se em sintonia, mas escrevi no blog sobre as dores da vida. Não na forma poética que fez, mas dentro de um realismo que a vida nos coloca. Porém, uma coisa é certa, só sofremos porque somos humanos viventes. Tudo passa...
Também gosto muito deste escritor.
Bjs,

Regina Rozenbaum disse...

Obriagada pelo seu carinho Bethita. Te respondi lá, mas te digo aqui: há dias assim...com mais questionamentos, meio cinzento por dentro. Creio serem tão fundamentais quanto os coloridos. Oportunidade ímpar de auto-conhecimento. Viagem interna!
Beijuuss nocê

Calu Barros disse...

Pelos versos embandeirados, o poeta risca na cadência o ritmo dos dias, suas nuances, suas surpresas, suas melancolias.
Importa sempre ressaltar a esperança dos olhos duma criança.
Passa o tempo/passa hora...renovar, reacender, reviver.

Lindo post, Betinha.
Uma bela tarde aí.
Bjos,
Calu

Maria Célia disse...

Ei Beth
É sempre tão bom vir aqui, encontramos tanta beleza em forma de frases que acabam num texto tão encantador.
Você é muito boa com as palavras, sabe conjugar suas ideias com poetas, escritores, fazendo uma mistura e terminando em algo fabuloso, como este texto.
Um beijo.

MARILENE disse...

Você fez uma bela postagem, mesclando as palavras do poeta com as suas. Penso que a melancolia dele, transparente nos versos, não se justificava, totalmente, pelo mal físico. Há escritores que brilham nesse caminho, independente do próprio e real sentir.
Há instantes em que o nublado nos envolve e nos vemos procurando a luz. Em outros, a claridade é tamanha que sentimos falta de privacidade. É a vida, com suas voltas, interferindo em nosso íntimo. Bjs.

Lúcia Soares disse...

Ainda bem que ele não foi pra Pasárgada, onde, talvez, perdesse a inspiração...rs
Viver não é simples, mas é isso mesmo, um dia com alegria, o outro com nostalgia, mas sempre acreditando.
Embora nosso momento seja delicado, não podemos perder a esperança.
Dias melhores virão e, quem sabe, a gente só passeie em Pasárgada.
Beijo, Beth.

Roselia Bezerra disse...

Olá, querida Beth
No final do dia, já um pouco cansada, venho aqui me alegrar os olhos por bela leitura e dizer-lhe que também eu, como Bandeira, já tive tristeza e, hoje, tenho alegria...
Isso me satisfez muito ao ler...
Bjm fraterno