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sexta-feira, 19 de setembro de 2014

A última chibatada.



O post da amiga Calu de hoje (vejam aqui) ajudou a tirar o meu do rascunho, pois o tema lá exposto, a música e as lembranças da mesma, veio ao encontro do que quero aqui apresentar a vocês.

Há dias eu queria falar sobre este tema, mas não sabia como começar, não queria falar o mesmo que já vi por aí pela rede, dando um cunho puramente histórico sobre um homem e o fato. Queria falar também sob a perspectiva da importância que muitas vezes, uma simples pessoa em sua simples vida, pode gerar um movimento enorme, abalando a  estrutura social e comportamental de um tempo, influenciando mudanças radicais e mais justas para o futuro.

Este é João Cândido Felisberto, também conhecido como "Almirante negro". Um herói pouco conhecido, que morreu na miséria e no esquecimento. Sua história foi um marco na Marinha Brasileira, pois os costumes da escravidão, os castigos e as chibatadas sobre os negros, ainda eram sentidos e praticados nos idos de 1889, quando o Brasil já era uma república, mas com resquícios preconceituosos sobre os marinheiros que, na sua maioria, eram negros e executavam trabalhos pesados nos navios da marinha nacional.
A Marinha funcionava como espécie de escola corretiva. E a correção da indisciplina dos marujos era feita por meio do corte da porção de alimento, prisão na solitária, castigo com a chibata, corte no salário, entre outras penalidades. Os oficiais ignoravam o decreto e aplicavam a pena em todos os seus domínios, isto é, em todos os navios da Marinha de Guerra brasileira 

Aconteceu, então, o estopim para uma grande revolta. No dia 21 de novembro, o marinheiro Marcelino Rodrigues Menezes recebeu a notícia: seria açoitado com 25 chibatadas. E o ritual teve início no convés do Minas Gerais, com a toda a tripulação de pano de fundo. Apesar dos apelos, as chibatadas não pararam no número 25, continuaram e continuaram. Menezes desmaiou. O açoite, no entanto, prosseguiu. Foram 250 chibatadas. Ao fim do tormento, o marinheiro foi “embrulhado” em suas vestes e levado para a enfermaria. A conspiração estava pronta. O comitê geral de marinheiros decidiu pelo sinal: a chamada da corneta. Na noite do dia 22 de novembro, a cidade do Rio de Janeiro, capital da República, estava na mira dos canhões, incluindo-se o Palácio do Catete, sede do governo.  E o líder desta revolta era ele, João Cândido, o comandante dos amotinados, e mensagens foram enviadas ao Palácio que diziam: "Não queremos a volta da chibata. Isso pedimos ao presidente da República, ao ministro da Marinha. Queremos resposta já e já. Caso não tenhamos, bombardearemos cidade e navios que não se revoltarem."


O movimento foi chamado A Revolta da Chibata e assim marcou a história deste ato de bravura, sangue e mortes, Você poderá conferir por aqui, mas o que eu quero mesmo é falar da música que talvez vocês não saibam, que quando foi feita, era justamente para homenagear este bravo marinheiro que ajudou a mudar a situação dentro dos navios brasileiros.

João Bosco e Aldir Blanc fizeram em 1970, o samba "O Mestre-Sala dos Mares" imortalizando João Cândido e a Revolta da Chibata.

O monumento a João Cândido está lá na Praça XV no centro do Rio, próximo ao cais da Baía de Guanabara, onde ficará para sempre "nas pedras pisadas do cais" a mensagem de coragem e liberdade do Almirante Negro e seus companheiros.

E pra quem não lembra da letra pode cantarolar junto com a Elis:

Há muito tempo nas águas da Guanabara
O dragão do mar reapareceu
Na figura de um bravo feiticeiro
A quem a história não esqueceu
Conhecido como o navegante negro
Tinha a dignidade de um mestre-sala
E ao acenar pelo mar na alegria das regatas
Foi saudado no porto pelas mocinhas francesas
Jovens polacas e por batalhões de mulatas

Rubras cascatas
Jorravam das costas dos santos entre cantos e chibatas
Inundando o coração do pessoal do porão
Que, a exemplo do feiticeiro, gritava então

Glória aos piratas
Às mulatas, às sereias

Glória à farofa
à cachaça, às baleias

Glória a todas as lutas inglórias
Que através da nossa história não esquecemos jamais

Salve o navegante negro
Que tem por monumento as pedras pisadas do cais

Mas salve
Salve o navegante negro
Que tem por monumento as pedras pisadas do cais

Mas faz muito tempo





11 comentários:

chica disse...

Beth, teus posts são verdadeiras aulas, mexem com a história, fazem bem! Esse mais um e a música, a calhar...

Gostei muito! bjs, ótimo e feliz fds! chica

Calu Barros disse...

Betinha,
que delícia ter um link aqui contigo \o/ a enlaçar os posts sobre os temas- dedicados em nosso vasto cancioneiro.
Sabia que eu introduzia a aula dobre escravatura com esta música?Pois sim, primeiro ouvíamos, líamos a letra e a discutíamos em classe, depois cantávamos a história nela contida e esmiuçávamos a partir dali todo o desenrolar desta página lamentável da nossa história.
Também sou fã de canções-tema para que se abram as mentes e as sensibilidades, e nossos inspirados compositores nos fornecem vasto e rico material.Depois te conto mais :D

Grata pelo carinho do compartilhamento.
Bom dia musical por aí.
Bjkas,
Calu

Ivone disse...

Lindíssima postagem, lembrado pela Elis foi o rever da história, aqui bem escrito também por você, pois é minha amiga, quantas coisas que pensamos saber e nem sequer podemos nos atrever a escrever sem medo de errar né mesmo?
Parabéns pelo belo trabalho, post que li com atenção, bem sabes que amo ler sobre tudo quanto é tema rico!
Abraços e tenhas um lindo fim de semana!

Maria Célia disse...

Ei Beth
Lendo seu excelente texto, à primeira vista o personagem me pareceu desconhecido, mas à medida que fui descendo, lembrei-me onde já tinha visto este fato ser retratado.
Ano passado, passou uma novela na Globo, Lado a Lado, no horário das 18h30, um dos personagens, Lázaro Ramos, viveu este momento tão importante na história do nosso país.
Gostei demais da sua postagem.
Um beijo.

Camille disse...

Que emoçao esse post. Lagrimas nos olhos mesmo. Blog é cultura em alguns "recintos" nobres. Não connhecia a história desse homem e nem esse preconceito com os marinheiros. Nem muito menos que essa linda canção conta essa história específica. Li um tanto de coisas de Gilberto Freire na faculdade de Sociologia, onde ele demonstrava que o negro, depois de ter sido escravo, e meio pária nessa sociedade besta, buscar nas forças armadas uma escalada nas forças armadas. Mas a preferencia é o exercito. A marinha era mais elitista e não sei bem se não aceitava negros, ou quem tivesse um nivel escolar mais baixo. Não tenho bem certeza, faz tempo que li essas coisas. Adorei o post, muito bem escrito, dosando informação e emoção. Bjoss e boa semana! Cam

Camille disse...

Beth voce esta com moderação de comentario? Se não, eu mesma escrevi e apaguei. Vou tentar reproduzir: não conhecia essa história e nem sabia que essa linda canção era originaria da biografia desse homem. Que bacana tudo isso. Como é bom saber um pouco mais do Brasil e seus inumeros personagens de grande valor.
Texto magnifico, que dosa muito bem a informaão com a emoção. Coisa que normalmente o jornalista não consegue fazer. É só a informação. Boa semana querida - nao consegui reproduzir o comentario longo, que falava de Gilberto Freire, deixa pra la. Excelente post. Bjos

Taia Assunção disse...

Brasil e seus célebres personagens, que mudaram a história e morreram esquecidos. Assim foi com dois ícones da Capoeira, Mestre Pastinha e Mestre Bimba, que muito nos interessa (marido e eu). 'Morre o homem fica fama', já dizia Ataulfo e Paulo Gesta. Beijos!

Rosamaria disse...

Lindo post, Beth! Gosto muito da música e sempre a ouvi, pois a Elis é minha cantora preferida e tenho os CDs dela, mas desconhecia a história do "Navegante Negro".
Sempre bom vir aqui!
Bjim, cosquirídia.

Lúcia Soares disse...

Gosto demais dessa música.
Não conhecia a história do marinheiro João Cândido e me emocionou.
Tanto tempo, né, Beth, e ainda se comentem essas barbaridades, mesmo que sem chibatadas. Ou, talvez, com um tipo pior de "chibata", que é a língua ferina.
Às vezes, dá vergonha demais ser dessa raça humana, que não reconhece seus pares.
Beijo e boa semana.

Marli Soares Borges disse...

Oi Beth,
Salve o navegante negro...
Gosto muito dessa música. Já conhecia a história do João Cândido, aliás, tem detalhes interessantíssimos nessa história... legal você ter trazido para cá. Mas como você falou na chibata, acabei lembrando de outra coisa: o modo de aplicação da tal pena. Eu que estudo bastante sobre esse assunto, fico besta só de imaginar até que ponto ia a crueldade, a insensibilidade humana. Eles escreviam folhas e folhas determinando como fazer para "bem aplicar a pena" ou seja, como fazer para doer mais, sem que o 'culpado' desmaie ou morra. E quando o carrasco (que geralmente era outro escravo também), matava ou fazia desmaiar a vítima, coitado dele, depois! Uma tristeza. Chega, vou parar. ---Quem gosta de saber sobre o passado, tem nas canções-tema um arsenal maravilhoso para se aprofundar. Sorry, falei demais. Foi seu ótimo post que me acordou!
Bjs
Marli
Blog da Marli

Beatriz disse...

É.....este é um fato triste que ficou marcado em nosso país...Mas a música é maravilhosa!!!!
Que bom ler essas palavras tão bem colocadas e relembrar um pouco a história...
Beijinhos Beth e uma boa semana!!!!

Bia
www.biaviagemambiental.blogspot.com