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quarta-feira, 14 de maio de 2014

Há 126 anos, uma lei ... e como está hoje?


 -Raimundo Santos Bida-

Aos 13 de maio de 1888 a Princesa Isabel sancionou uma lei que pôs fim à escravidão em nosso país - a Lei Áurea. 
Seu ato será sempre lembrado e comemorado pela importância do primeiro passo para a liberdade e igualdade aos homens, mulheres e crianças negros em nossa sociedade. 
Mas, será que esta lei foi o suficiente para acabar com os problemas do homem negro?
Não. Estes problemas perpetuam-se até os nossos dias, em que a intolerância e a falta de humanidade continuam a cometer injustiças, entravando a inserção e justa divisão dos direitos para todos.
Esta data é mais do que uma celebração, serve para refletirmos diante dos estigmas que vemos acontecer ainda hoje em nosso país. 

"Foi assim que chegamos ao 13 de maio de 1888, quando negros de todo o País – pelo menos nas regiões atingidas pelo telégrafo – puderam comemorar com euforia a liberdade recém-adquirida, apenas para acordar no dia 14 com a enorme ressaca produzida por uma dúvida atroz: o que fazer com esse tipo de liberdade? Para muitos, a resposta seria permanecer nas mesmas fazendas, realizando o mesmo trabalho, agora sob piores condições: não sendo mais um investimento, e sem qualquer proteção na esfera das leis, o negro agora era livre para escolher a ponte sob a qual preferia morrer. Sem terras para cultivar e enfrentando no mercado de trabalho a competição dos imigrantes europeus, em geral subsidiados por seus países de origem e incentivados pelo Governo brasileiro, preocupado em branquear física e culturalmente a nossa população, os brasileiros descendentes de africanos entraram numa nova etapa de sua via crucis. De escravos passaram a favelados, meninos de rua, vítimas preferenciais da violência policial, discriminados nas esferas da justiça e do mercado de trabalho, invisibilizados nos meios de comunicação, negados nos seus valores, na sua religião e na sua cultura. Cidadãos de uma curiosa “democracia racial” em que ocupam, predominantemente, lugar de destaque em todas as estatísticas que mapeiam a miséria e a destituição."

-Raimundo Santos Bida-

"Depois de séculos de sequestros, escravidão e assassinatos, o que se viu nos anos pós-abolição foi a formação e o desenvolvimento de um país que negou e ainda nega à população negra condições mínimas de integração e participação na riqueza.


Sem terra, sem empregos, sem educação, sem saúde, sem teto, sem representação. Sequer a mais liberal das reformas, a agrária, fora possível no país das capitanias hereditárias. Vamos olhar para o campo e observar as fileiras ou os acampamentos de Sem Terra, maioria negras e negros; Vamos buscar na memória os rostos de quem conforma o pelotão que estremece São Paulo na justa luta por moradia capitaneada pelos movimentos de Sem-Teto nos dias de hoje: negras e negros! Bora olhar para as filas dos hospitais, para os que esperam exames e tratamentos, para os analfabetos ou para as crianças em idade escolar que estão fora da escola. Vamos olhar para a população carcerária e suas condições de existência. Vamos olhar para as vítimas de violência policial, para os números de desaparecimentos e homicídios. Vamos olhar para os dependentes do bolsa-família ou da previdência social. Vamos olhar para a pobreza. De fato, ela atinge a todos. Mas a proporção de negros nas condições narradas aqui, tem sido desproporcionais e pouco se alterou desde 1888.


O dia seguinte, a década seguinte, os 126 anos seguintes ao fim da escravidão não foram suficientes para nos livrar de uma herança racista, reafirmada cotidianamente pelos descendentes dos colonizadores que sempre dirigiram o Brasil. Estes mantém a posse do latifúndio, hoje rebatizado agronegócio. Mantém o domínio dos grandes meios de comunicação, são donos das grandes empresas, bancos, conglomerados educacionais-empresariais, além de dirigir politicamente as maiores Igrejas. Com isso, garantem a supremacia política e a representação eleitoral de maneira a manter intocáveis seus interesses."







11 comentários:

chica disse...

Que belo post e um convite à reflexão.Acredito que ainda persiste um resquício dessa escravidão, um pouco mais contida e velada, mas presente! beijos,lindo dia,chica

Calu Barros disse...

Sem desmerecer a importância desta lei, sabemos bem o quanto ela foi insuficiente para garantir de fato uma abolição completa desta população tão sofrida.A liberdade não teve amplitude e nem proporcionou os direitos de cidadania; vemos ainda hoje essa incrível falha.
Bjkas, amiga.
Calu

Bandys disse...

Ola,
Deviam respeitar mais essa lei, e acho que não o fazem

Obrigada pela palavras la no felis.
Gostei muito do seu blog.

Beijos

Célia disse...

Nossas leis no papel são uma maravilha, mas na prática não funcionam mesmo. Trabalho escravo, servil, convivência subordinada, assédios, intolerâncias diversas... isso tudo denota o grau de acorrentados que somos e estamos em pleno século XXI.
Abraço.

Bianca disse...

Muito bom o seu post, estávamos comentando sobre isso esses dias na escola em que trabalho, ainda existe muito preconceito com o negro nos dias de hoje e o fim da escravidão não significou liberdade para eles.
Beijos

Ives disse...

Há muitas formas de escravidão. As piores são aquelas quase invisíveis, com laços em nossos passos, que regram os ensinamentos nas escolas e ditam os valores futuros! abraços

Taia Assunção disse...

Oi, Beth...obrigada pelo carinho, lá no blog. Ainda temos um longo caminho pela frente, mas creio que devagar a vida vai melhorando. Meu marido é afrodescendente, ralou bastante nessa vida...nunca nos imaginamos tendo as oportunidades que estamos tendo. Acho que a educação é o diferencial e também a auto estima, os pais tens papel fundamental nesse quesito. Fico admirada dos meus sogros terem formado quatro filhos em boas instituições públicas. Beijos!

Teredecorando disse...

Olá Beth,
Claro que muita coisa, mesmo lenta, mudou nesses 126 anos, mas ao ver um negro chorando na TV devido ao preconceito sofrido é de cortar o coração.
O preconceito, sendo ele qualquer que seja não é nada agradável e humano.
Beijos mil


Marli Soares Borges disse...

Liberdade, liberdade, abre as asas sobre nós! Ainda precisamos cantar muito essa canção Beth! Ninguém, nenhum de nós, a raça humana ainda não está livre da escravidão. A modernidade trouxe consigo outros tipos de escravidão que nos atingem, a todos, indistintamente.
Bjs
Marli

Toninho disse...

Uma Lei que bem se sabe foi forçada, por isso mesmo mal aplicada sem nenhuma regra, que acabou colocando no ostracismo os que dela se beneficiaram, um abandono na realidade das responsabilidades dos senhores. Há uma relação dela com a atual situação dos presidiários libertos. Por isso após estudos a data se tornou sem importância ocupando seu lugar a morte de Zumbi dos Palmares.
Seu texto é muito bom para um Start de reflexão sobre a questão de preconceito e racismo ainda existente e que vai perdurar por muitos e muitos anos. Falhou a Historia, os governos e a sociedade que absorveu concepções preconceituosas ao longo tempo e as fazendo perpetuarem para as novas gerações. Isto vai calhar com o que Mandela disse, quando afirmava, que ninguém nascia com preconceitos e que estes eram ensinados.
Parabéns Beth por uma postagem critica sobre o comportamento diante de uma coisa tão repugnante que ainda está inserida no seio da humanidade.

Uma linda semana com meu terno abraço de muita paz e luz em sua vida e de sua família.
Bjo de paz amiga.

Lúcia Soares disse...

Beth, apaixone-se por este livro:
"O Castelo de Papel", da historiadora Mary del Priore.
Conta os momentos anteriores à assinatura da Lei Áurea. gesto nem um pouco heróico da nossa princesa.
Acredito que libertar os negros e não lhes dar condição de trabalho e instrução, fez do ato algo inconsequente.
Gostei do comentário da Natália, também acho que os que querem encontram seu lugar ao sol. Pode ser difícil, mas não podemos viver com grilhões invisíveis.
Beijo.