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terça-feira, 12 de março de 2013

. . . plantar e colher com as mãos . . .



Semana passada fui ao Rio para uma consulta médica. Fui de 'frescão', um ônibus aqui conhecido por ser do porte desses interestaduais, com ar condicionado, poltronas maiores e mais confortáveis, música ambiente e alguns até com televisão para a gente ir se distraindo.
Sentei-me ao lado de uma mulher que estava na janela, sorri pra ela e ela pra mim e fomos assim até atravessarmos a imensa ponte Rio-Niterói que separa as duas cidades.

Assim que o ônibus entrou na Avenida Rodrigues Alves, já deu pra sentir que ia ser moroso dali pra frente, pois o tráfego e obras loucas que este governo e prefeitura andam fazendo, ou maquiando, em nossa cidade para os tais eventos que estão por vir, já começam a prejudicar a vida do cidadão que precisa circular por estas complicadas vias superlotadas.

O calor que me esperava do lado de fora do ônibus era insuportável, um verdadeiro caldeirão de deixar as roupas coladas ao corpo e por esta e outras razões eu nem estava ligando muito para sair dali daquele fresquinho do ar condicionado, eu tinha um bom lastro de tempo para minha consulta. Espichei o olho e fiquei olhando a confusão do lado de fora juntamente com a passageira da janelinha.

E o ônibus não andava, do lado de fora confusão de automóveis, caminhões e ônibus, sem contar os aloprados de moto que se engalfinham com toda esta  malha automotiva de um grande centro urbano.

A mulher ao meu lado começou a puxar conversa e, por ser ela educada, respondi e acabei engatando um papo que ajudou a passar o tempo e a lentidão do trânsito.

Ela me disse que sentia saudade da sua cidadezinha perdida no mapa lá nas Minas Gerais e que já morava há tanto tempo aqui no Rio que nem lembrava mais do cheiro bom da roça em que viveu com seus pais, trabalhadores rurais, cuidavam e tiravam dali seu sustento e de toda a família. Não consigo mais lembrar-me o nome da tal cidadezinha, ela me garantiu que nem aparece nos mapas de tão pequena que é, mas que tinha uma vida tão tranquila, tão boa, a comida direta da terra, frangos que os pais criavam, fresquinhos, sem hormônios, tudo alimentado com o próprio produto da terra como, milho, tomate, abóbora, batata doce, verduras e, tanto as pessoas quanto os animais passavam bem e não ficavam doentes.
E, daí, falamos o quanto as pessoas hoje estão doentes, como tem farmácias e drogarias pelas cidades, enquanto na roça comia-se de tudo, até mesmo com banha de porco, manteiga fresca e outras coisas que agora não são mais corretas para serem ingeridas, e em contrapartida comemos tudo industrializado, empacotado, cheios de hormônios ou pesticidas.

O êxodo rural, este fenômeno que se deu em grandes proporções em nosso país desde o séc.XIX até o XX e que ainda hoje acontece, em pequena escala, justamente porque nossos governos não se interessaram em criar uma política de desenvolvimento e infraestrutura das zonas rurais, itens de grande importância, como: escolas, hospitais, estradas e boas moradias, resultou, infelizmente, no que estamos assistindo, este inchaço em nossas grandes capitais, a dificuldade de locomoção e a violência que assusta e paralisa.
A mulher me contou também uma triste face do que ocorre hoje por lá na sua cidadezinha, pois muitos jovens que não encontram emprego em outras cidades maiores, também não querem voltar para o campo, não querem ter a vida como a de seus pais ou porque acham que não ganham muito ou porque aspiram, idealizam, uma vida melhor do que aquela, mas caem na desgraça da droga, da bebida e nada de bom produzem, ficam alijados completamente da sociedade e sem esperança de futuro. Alguns, entretanto, por seus pais possuirem benefícios do estado como bolsa família, nada fazem na vida, nem trabalham, nem estudam,- nem e nem, outro fenômeno que está ocorrendo no país e que no programa da Fátima Bernardes de hoje foi abordado.
Minha companheira de viagem disse-me ter uma esperança num grande ideal que ela e o marido veem acalentando, que é retornarem assim que ele se aposentar e morar num sitiozinho daquela cidade, revivendo seu passado de calmaria e boa vida.
Espiando pela janela aquela confusão toda, como se os carros e as pessoas travassem um combate ferrenho debaixo daquele calorão de março, eu pensei - Como seria bom um êxodo ao contrário, com as pessoas retornando ao campo e tudo florescendo juntamente com este ser humano, cansado e saturado de tanto estresse nestas megalópoles!




O post de hoje se entrelaça com o da amiga Calu que fala dos problemas atuais que o Rio vem enfrentando nestes tempos pré-Olimpíadas. Leiam aqui.

-Imagens Pinterest-




16 comentários:

Wanderley Elian Lima disse...

Olá Beth
Aqui em BH também está um verdadeiro inferno com essas malditas obras. Obras+calor+trânsito= loucura. Ninguém merece nem aguenta isso, mas 3 vezes por ano vou pra roça para curtir, silêncio+comidinha+amigos verdadeiros= felicidade.
Bjux

Taia Assunção disse...

Se Deus quiser, em cinco anos, vamos fazer isso...morar numa cidade pequena, com praia, melhorar nossa qualidade de vida. É só o tempo da molecada se formar...rsrsrsrs. Beijocas!

chica disse...

Beth,

Enquanto te lia, lembrei da Calu e agora ao final vejo que falas nisso.

Que pena mesmo o que acontece nas nossas cidades tão deixadas de lado pelas autoridades e tu falas bem, apenas MAQUIAM as coisas e querem inaugurar à toque de caixa, para mostra serviço...

E bom esse papo com a parceira de "frescão". As suas lembranças de vida, lindas! Apenas diria para ela o que digo pra todos.

Os sonhos para depois de se aposentar, quando chega a hora, são bem diferentes e tantas vezes( como o nosso) não pode ser vivido!.

Mas, como temos capacidade de adaptação,vamos que vamos, e sendo felizes, tentando sempre ser, por aqui mesmo!


beijos,lindo dia! chica

Teredecorando disse...

Olá Beth,
Eu sei muito bem disso, pois tenho primos que saíram da roça para encontrar melhorias na cidade grande. Hoje, quase não tem ninguém nas fazendas por lá.
Muitos chegam expectativas de dar tudo certo, mas acabam deparando com o desemprego e sempre ficam esperançosos que vai melhorar. Eu já vi reportagens de pessoas que moram nas ruas devido a isso. E não voltam para o campo, pois mesmo morando nas ruas eles conseguem algo aqui e ali. E assim, o formigueiro cresce gerando confusões e estresse.
É triste!!!
Beijos mil

Selma Helena. disse...

Oi Beth!

Promulgou anos meu avô morou num engenho de cana de açúcar e a coisa melhor que havia eram as frutas e legumes frescos, colhidos na hora.

Lembro da minha avó gritando da cozinha: " Ô menino! Pega carambola lá no pé pra fazer o suco!" E aí a gente corria pra colher carambola.

Dias felizes...

Beijos

Selma

Calu Barros disse...

Minha querida,
te agradeço a delicadeza do link.São todos estes fatos que tão bem apontou que nos fazem querer "uma casa no campo".
A realidade ingrata com que convivemos dia-a-dia em nossas megalópolis nos acabrunha, nos constrange e muitas das vezes nos paralisa ante a busca por nossos direitos, mas isto não pode continuar assim.Que a mobilização aconteça.Que a militância se faça através dos diferentes meios de visibilidade da nossa indignação ante esta omissão larápia de mais de um século.
Teu texto alongou precisamente o assunto que inicei.Valeu, amiga!
Bjkas,
Calu

Bia Jubiart disse...

Bom dia amiga!

A luta aqui no interior é sensibilizar e cria geração de renda local, para evitar o deslocamento p/ os grandes centros e evitarmos no futuro termos cidadãos saudosistas como essa senhora, aguardando o futuro para se sentir plenamente feliz.
Beth, tem te visitado, claro correndo sem deixar comentário, amei aquele post de lugar inesquecível, fiquei babando e sonhando, quem sabe...

Amiga tenha um dia luz!

Bjooooo

R. R. Barcellos disse...

A sadia relação homem-terra involuiu para a nefasta relação homem-concreto...

Abraços.

Regina Rozenbaum disse...

Percebo um mundo de gente com esse sonho de "eu quero uma casa no campo" e quando chega a tal hora propícia não vão. Já estão tão acostumados com as loucuras das cidades grandes que enlouqueceriam, de verdade, numa cidadezinha pacata...isso se ainda existir algum lugarejo que o Homem não tenha invadido com seu furor pós-modernista destruidor.
Beijuuss Bethita
P.S: de maquiagem em obras públicas Beagá é séria candidata ao 1ºlugar!!!

Márcia Cobar disse...

Muito interessante a sua postagem, Betinha!
Nossas metrópoles estão tão abarrotadas de gente... E a infra não acompanha o fluxo de habitantes. É uma falta de preparo que dá dó.
Quando estudei na Alemanha presenciei uma discussão muito interessante sobre os subsídios que os governos europeus dão aos seus agricultores.
O palestrante nos explicou que existe uma questão estratégica e demográfica em manter o agricultor cultivando sua terra. Porque o agricultor que ganha bem no interior da França não vai querer se mudar para Paris, que já está entrando nos limites do planejamento demográfico ideal. É muito mais interessante para o Governo francês subsidiar aquele agricultor do interior, mesmo pagando alto por sua produção, mantendo-o no campo, gerando renda pulverizada no país, a provocar um êxodo de mão de obra pouco qualificada para centros urbanos.
Agora pense Betinha: os governos mais evoluídos programam estratégias para manter o homem no campo...
E aqui? o que fazem os nossos governantes em prol da agricultura?
Querida, tô corridinha mas sempre que posso venho aqui no seu cantinho!
Delícia participar da blogagem coletiva!
Beijos!!!
Márcia

Maria Célia disse...

Ei Bety
Este desejo que você fala que muitas pessoas acalentam de voltar às origens, ou mesmo quem nunca viveu no campo fazer este retorno, poderia ser muito bom enquanto as pessoas estivessem mais novas e saudáveis. Chega um tempo na vida de todo ser humano, que fica inviável morar fora de um centro grande ou próximo a um; a saúde já não permite ficar longe de hospitais, médicos, assistência dos filhos.
Deparamos com casos assim diariamente.
Beijo

Nina disse...

Beth, desde que moro na Alemanha, tenho decidido em mim que nunca mais quero morar numa metrópole. A Alemanha e um país grande com cidades pequenas (as maiores cidades possuem no máximo 3 milhoes de habitantes ou algo um pouco mais que isso e 3 milhoes ja é mt, demais pra mim). Mas mesmo nessas cidades, o país consegue levar uma vida boa e tranquila. A cidade que vivo tem 200 mil de habitantes e acho perfeito, porque ser pequena na medida certa, tranquila e ter tudo o que precisamos e um pouquinho do que nao precisamos.

Se morasse no Brasl viveria certamente, com a cabeca que tenho hoje, no interior. Nao consigo mais viver num lugar tao estressante, com esse transito louco, onde passamos mais tempo dentro dos carros do que ao ar livre, onde pra nos divertir, somos obrigados a ir a shoppings. Nao amiga,isso nao é pra mim mesmo!
A tua viznha de janelinha ta´corretissima. Acho sensacional que vc pode ir pra serra e curtir aquela beleza de paisagem que vc tem, de alguma forma isso te ajuda a encarar a big city :-)

Lúcia Soares disse...

Beth, viver uma vida tranquila, sem o caos urbano é sonho de muita gente. Nós temos o sítio, bem perto de BH, já cercado de cidades em expansão, chegando lá por perto. Embora não goste dessa confusão de cidade grande, como trânsito e violência, não gostaria de morar no campo, sou absolutamente da cidade. Pena que tenhamos que passar por tantos contratempos.
Beijo!

ML disse...

Beth: nessa sua crônica maravilhosa, os pontos que mais chamaram minha atenção foram: os motocliclistas "aloprados" (realmente, como eles perturbam o trânsito - resolveram legislar nesta terra sem lei) e "bolsa família, nada fazem na vida, nem trabalham, nem estudam,- nem e nem,..." - pão e circo ao povo. Que artimanha maquiavélica, não?
De resto, o Rio, até o "evento" vai sofrer muito - e falta um bocado. Pobre dos contribuintes que não se locomovem de...helicóptero!

bjnhs

Priscila Ferreira disse...

Você sempre têm uma história para contar quando sai de casa, isso é muito divertido!

Tadinha da moça, sair de um lugar calmo e ir direto para o Rio, quem sabe ela não consiga encontrar outra calmaria!
beijos dinda!

Cristina Pavani disse...

Oi Beth!
Talvez a reversão realmente aconteça a longo prazo, pois a taxa de natalidade está abaixo do índice de reposição aqui no Brasil (aos poucos, vamos diminuindo o caos super populacional).
Gostei do "papo".
abraço ainda caipira.