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sexta-feira, 13 de julho de 2012

Cabeças, imaginação, sonhos ...



Vira e mexe tenho um livro do escritor Rubem Alves nas mãos, qualquer um dele é excelente para você carregar a consultórios médicos ou algum lugar em que tenha que se demorar aguardando, pois tem sempre pequenas estórias que fazem a gente viajar com ele, e quando li o texto abaixo fiquei curiosa para saber que quadro era aquele que ele citava, fui procurar no Google. Então lembrei-me que o vi de perto no Museu do Prado e que fiquei bastante tempo olhando todos aqueles detalhes, intrigada, pensando como o artista, em 1504,  pintou uma obra tão complexa, impregnada de detalhes e símbolos; peixes, romãs, ratos, figuras masculinas e femininas nuas, instrumentos futuristas, jardim do éden, inferno, tudo parecendo tão louco, um painel que prega nosso olhar nos mil e um detalhes para descobrir e pensar, em meio a dezenas de pessoas curiosas, admiradas e fascinadas como eu. Uma sensação que só o surrealismo é capaz de transmitir. Um quadro para se ater demoradamente, sem pressa do espectador. Bosch, um maluco beleza da era medieval.

The Garden of Earthly Delights by Bosch High Resolution.jpg
Jardim das Delícias - Hyeronimus Bosch - Museu do Prado


Ideias Fortes (por Rubem Alves)


Nos tempos em que eu praticava a feitiçaria chamada psicanálise, estava atendendo uma paciente e ela disse:
"É, eu tenho ideia fraca ..."
Num tom de brincadeira, interferi:
"Alto lá!  Nesta sala somente eu tenho ideias fracas ..."
Ela ficou espantada e não entendeu.
Aí eu expliquei: "Eu penso as mesmas coisas doidas que você pensa ...".
Levantei-me e a chamei para ir ver um quadro de Hyeronimus Bosch, Jardim das Delícias.  É uma loucura completa.  Cenas inimagináveis, infernais.  De onde Bosch tirou aquelas coisas medonhas?  De dentro de sua própria cabeça.  Quer dizer: a cabeça de Bosch era um hospício.  Mas ele não era louco.  Era um artista, pintor.  Ele não era um louco porque suas ideias eram 'fracas'.  Ele sabia que as ideia não eram coisas.  Só existiam na sua cabeça.  Agora, se ele pensasse que suas ideias eram realidade, então ele seria doido.
"Eu penso as mesmas coisas estranhas que você", continuei.  "Mas sei que são só pensamentos, nuvens brancas levadas por uma brisa.  Sou dono deles.  E com eles eu faço literatura da mesma forma como Bosch fez pintura surrealista.  Mas os seus pensamentos são fortes.  As nuvens brancas se transformam em nuvens negras, e chove, com trovões e relâmpagos, e você fica toda molhada.  Você não é dona deles.
Eles são mais fortes que você ... Você fica 'possuída' por eles ..."



Se quiser conhecer detalhes sobre esta incrível obra, veja aqui.










17 comentários:

Michelle Siqueira disse...

Oi, Beth.

Foi uma associação sobre ideia fantástica que o Rubem Alves fez. E o quadro... acho que eu passaria horas olhando pra tudo isso!

Ontem mesmo uma amiga perguntou sobre meu blogue e eu a aconselhei não ler aquilo porque não fazia conexão com a pessoa que ela conhece pessoalmente, que era só minhoca da minha cabeça. Mas foi justamente o que ela disse que ainda não conhecia... É, deve fazer bem compartilhar as minhocas.

Um abraço,

Michelle

Inaie disse...

Esse cara é demais.E é amigo do meu sogro, então tive o prazer de conhece-lo. Um verdadeiro privilégio.

Cucla disse...

Olá querida, não o conheço, mas vou procurar saber, adorei saber que mais alguém acha que o "Pensamento nos possui".
Compartilhei-te em minha fan page...
Obrigado.

Calu Barros disse...

Betinha,
as analogias do mestre Rubem são sempre primorosas, e esta não foge à regra em seu entremeado das imagens sonhadas e reais.
Acredite em minha palavra de honra ao afirmar que passei muitos minutos diante desta obra querendo descobrir a grafia do pintor, aliás, ela é tida como a 1ª pintura surrealista categorizada.
As formas e cenas prendem nosso olhar e nossa imaginação.
Adorei tua postagem( isto não é novidade).
Bjkas mil,
Calu

Toninho disse...

O Rubem é mesmo um escitor fantastico e sempre cabe uma reflexão diferente em seus escritos.Aqui ele usa um quandro para uma de suas belas viagens.Interessante esta postagem pela riqueza de informações.Grato Beth pela partilha da informação.O grande lance da vida é mesmo esta emoção que sentimos e compartilhamos.
Um belo fim de semana a voce e estou feliz pela volta do Me and you.
Meu carinhoso abraço mineiro de flor.
Bjo amiga.

MARILENE disse...

Ele tem uma forma de se manifestar bem clara, o que torna encantadora a leitura de seus escritos. Sou uma grande admiradora do escritor.
Eu a encontrei na Calu e segui o caminho (rs). Bjs.

pensandoemfamilia disse...

Como vc já sabe também tenho uma grande admiraçãopelos escritos do Rubem Alves e está associação foi magnifica.
Como é dificil captarmos o sentido do surrealismo, mas expressa sempre muita emoção.
bjs

Elisa T. Campos disse...

Beth

Adorei esta postagem. Rubem Alves faz parte no cotidiano da leitura.Também fiz uma postagem com um trecho dele sobre haicais.
A sua indicação sobre o que representa
o quadro aliado ao texto de Rubem Alves me encantou.

Um lindo domingo para você.
Bjs

Lúcia Soares disse...

Beth, não entendo de arte,mas entendo de Rubem Alves e gosto do que ele disse sobre a imaginação. Mas do quadro, não gosto nem um pouquinho.
Bom domingo!

Unknown disse...

poxa que quadros interessantes...
eu poderia ficar horas olhando para eles...
bjsss

Regina Rozenbaum disse...

Não conheço ninguém que não a-do-re esse senhor e suas crônicas. Seus livros infantis já usei muito no trabalho com as crianças. As crônicas tênis X frescobol e a se é bom ou se é mal só o futuro dirá com casais...e assim vou me "apropriando" dessa sabedoria ímpar e provocando bem mais que reflexões.
Beijuuss, Beth amada, n.a.

chica disse...

Ele é o máximo,adoro e esse quadro tanto fala, tanto se pode ver! obrigado pelo carinho,beijos praianos,chica

Camille disse...

Oi Beth querida,
Que interessante esse moçoo o Rubens Alves. Nao sabia que é psicanalista. Gosto muito dos quadros de Bosch( nao sei se é assim que escreve), especialmete o Jardim das Delicias.
Nao sabia que estava tao "a mao" no museu do Prado. Pensava que estivesse em um lugar mais distante para mim pelo menos, na Belgica. Enfim, tou por fora do que vai em cada museu. Mas adoro o quadro. Achei muito interessante a associaçao que voce fez no post.
Bjao

Leila Brasil disse...

Não me ocorreu lembranças de leitura , mas seu post moveu desejos de ler algo do Escritor. Saudades de Você e seus escritos "detonadores" de coisas boas. Beijocas

ML disse...

O "doido" era talentosíssimo, não?
E detalhista, fantástico!

A crônica é ótima!

bjnhs

Rafaele Domingues disse...

Ótimo post. Tenha uma boa noite

Luciana disse...

Incriveis, o quadro e o texto. Adorei. Näo conhecia nenhum dos dois. Obrigada por dividir aqui com a gente.

Beijo