Eram os idos de setenta e poucos e a moça ouvia sempre aquela musiquinha "vesti azul e a sorte então mudou" e pensava que um dia iria ter o tal vestido azul, quem sabe a sorte mudaria e foi assim que fez, contrariando as novas tendências daquela época - a calça Lee, a novidade em jeans que era o must geral e todo mundo sonhava em usar uma daquelas, inclusive ela, mas queria um vestido azul, daqueles esvoaçantes como via na sessão da tarde nas atrizes de Hollywood, pela televisão de caixa grande e tela pequenina.
Naquele tempo era meio difícil achar um vestido pronto, então mandava-se fazer na costureira, aquele ser que, com mãos de fada, tirava nossas medidas e sobre um manequim de madeira que a grande maioria tinha em suas casas ou atêlies, ia moldando o vestido, enfiando alfinetes daqui e dali, um monte deles presos na boca e quem as observava no vai e vem de sua labuta, morria de medo dela se entalar com um deles. Por várias vezes, estas profissionais, chamavam as clientes para provas. E lá ia a jovem toda contente, pensando, desta vez já deve estar pronto o meu vestido azul.
O vestido azul cor do céu, rodado, transparente em crepe de seda com forro por baixo, tinha alcinhas e era acinturado e marcado por uma faixa do mesmo tecido, levava por cima do colo uma pelerine toda transparente, presa por um botão de strass nas costas, perfeito como ela sonhara. Ficou pronto para a festa de formatura do seu namoradinho militar, o primeiro deles.
Ele passou para pegá-la no horário combinado e junto com ele, no banco de trás do fusca mostarda, um amigo que também se formava no CPOR e aspirava ser um militar bem sucedido. Sonhos de uma época.
Quando parou em frente ao prédio e ela saiu pelo portão com o vestido azul longo e de salto alto prateado, ele e o amigo ficaram de queixos caídos. Estavam igualmente elegantes em seus uniformes militares, mas não esperavam uma jovem de vestido longo e preparada para matar, digo, para enfeitiçar quem dela olhasse mais que alguns minutos. Sentou-se rapidinho no banco do carona que a aguardava e puxou o restante do vestido para dentro do carro. Seguiram em frente para pegar a namoradinha do amigo.
No próximo prédio estava uma outra jovem, bonita também nos seus 18 anos de juventude, mas vestida simploriamente, com uma blusa estampada e uma calça jeans que ela julgava ser o ideal para uma noite como aquela. O susto ao ver a moça de vestido de baile sentada à frente ao lado do seu namorado, deixou-a completamente sem graça e muda, descobrindo a enorme gafe que cometera por não se inteirar corretamente da maneira que teria de se apresentar para aquela ocasião.
A moça do vestido azul percebeu o constrangimento da colega e lembrou-se imediatamente da écharpe prateada que sua mãe, um pouco antes de sair, fizera com que levasse por causa do frio da noite e ofereceu-lhe, num gesto amigável salvando-a naquele difícil momento para qualquer jovem mulher. E assim foram os quatro, entre sorrisos e falações, rumo ao sonho de uma noite de encanto.
Dança comigo? É claro, disse ela! E a orquestra de metais tocou a noite inteira todos os sucessos inesquecíveis e que marcaram para sempre aquela noite. E o vestido azul rodopiou feliz naqueles mágicos momentos ao som de ...
15 comentários:
"... when you hold my hands I understand the magic that you do..."
Lindo , Beth - e azul é a minha cor favorita - e eu amo o blues...
bjnhs
Adorei a historia, parece os anos dourados, aquela mini serie. E o vestido azul devia ser uma maravilha. Me lembro quando eu era pequena gostava tanto de um vestido novo, minha filha, igual. Depois vai mudando para a calça comprida, perdendo a graça dos vestidos.Voce conhece a outra historia do vestitinho azul que tudo fez mudar? Se nao conhece, um dia conto para voce. Beijos! Adorei seu comentario e te respondi tb.
Viajei aqui!! Rodopiei com a moça do conto.LINDO e que música!! Muito legal,Beth!! beijos,lindo dia! chica
oi Beth........
a moça do vestido azul me encantou pela sua delicadeza ao emprestar a echarpe.
que gracinha....
atitude que mostra a beleza interior...
bjs.
e a Gatinha Cici?
rs
Que linda volta no tempo, Beth... Um pouco antes dos anos setenta, mas igualmente linda, romântica, ao som dos Platters, Embora o vestido não fosse azul. Era quase... Era lilás.
Beijos e um lindo e azul dia para você.
Oi Beth!
Adoooro esta música! Que tempos mágicos! Lindo seu conto, vivenciei cada momento.rsss
Beijinhos!
Mininaducéu...vai escrever bem assim láááá na Conchinchina sÔ!Vivenciei cada linha como se tivesse acontecido comigo. Ainda ontem recebi um email de um amigo saudosista como eu rsrsrs onde Roberto Carlos e toda a turma da jovem guarda cantava "Jovens tardes de domingo":
Eu me lembro com saudade
O tempo que passou
O tempo passa tão depressa
Mas em mim deixou
Jovens tardes de domingo
Tantas alegrias
Velhos tempos
Belos dias
Canções usavam formas simples
Pra falar de amor
Carrões e gente numa festa
De sorriso e cor
Jovens tardes de domingo
Tantas alegrias
Velhos tempos
Belos dias...
MISERICÓRDIA Beth...assim eu morro de sôdades!
Beijuuss, amada, n.a.
Nossa, tbm viajei agora, Beth. Fiquei esperando pra saber quem era vc na história: a de roupinha simples ou a chicosamas generosa? Mas depois fiquei pensando: xxxiiiiiii, acho que o marido da Beth nunca foi militar ... oops!
a musica é mesmo linda. Quem nao gosta?
Oi Beth
Bela viagem ao passado, sonhos e danças colorindo seu belo conto.
bjs
Sonho azulado, noite estrelada, bailando nas nuvens...ah, doces tempos, priscas eras;inesquecíveis Betinha.
Vivi contigo esta deliciosa história em cada frase de tua narrativa empolgante, amiga.
Meu 1º vestido de baile também foi azul, feito por costureira,nos 1ºs anos 70.
Ô lembranças doces, menina-moça.
Bjkas,
Calu
Oi Beth
A música é super gostosa.
Delícia de história, consigo imaginar as cenas tão bem descritas por você.
A imagem da moça do vestido azul tá linda.
Beijo.
Beth, adorei a hist. sessao nostalgia!
Nao vivi este tempo mas me lembro da mini série anos dourados. Eu adorava ver os vestidos...
Ando meio sumidinha daqui em geral porque temos sol amiga e como o sol é tao pouco eu procuro viver lá fora no mundo mais real, pois este aqui me é muitas das vezes mais real do que o lá de fora. rs.
Bom fim de semana
Bjao
Beth,
Que encanto. Fiquei aqui imaginando você contando essa história. Com certeza, ficaria com outra ar de beleza.
Você podia pensar naquilo que eu disse.
Beijos mil
Only you, Beth.
Tive um vestido que me marcou, mas era azul turqueza e não era longo. E meu namoradinho também tinha feito CPOR. E me casei com ele.
Mas o vestido não foi pro baile, conheci-o depois de formado. rsrs
Velhos tempo, belos dias, como lembrou a Regina Rozenbaum.
Nossa, Beth
Que maravilhosa viagem de volta aos velhos tempos. Com o vestido azul minha sorte, nossa sorte então mudou.
Tudo parecia ter um colorido rosa de contos de fadas com vestidos de bolinhas vermelhas. Ignorávamos até a Ditadura, porque os domingos eram floridos com as canções da Jovem Guarda.
Bjs.
Postar um comentário