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terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Nosso sentido de cortesia


Que o Brasil é um país rico sabemos há tempos e que tem um grande potencial com a força do seu povo, também.  Pena que este mesmo povo, sempre foi subestimado, espoliado, relegado a sub-empregos e até mesmo escravizados, desde os tempos da colônia, como ainda agora em alguns locais longínquos, onde o poder público fica também distante.

Mas, aqui mesmo, na cidade conhecida por 'maravilhosa' sentimos ainda um povo explorado, vivendo mal e ganhando pior ainda, locomovendo-se apertados em conduções sujas e superlotadas, trabalhando além dos limites, não deixando de ser ainda uma exploração do ser humano em pleno século XXI.  

Ainda ontem, ouvi a conversa entre o empacotador do supermercado e a mocinha do caixa, primeiro falando sobre a virada do ano que foram ver nas praias aqui do litoral.  Sim, este pessoal mesmo com dificuldades financeiras ainda encontra tempo para distrair suas cabeças, mesmo que na volta e lá mesmo, sofram com as intempéries e com o desconforto físico, mas vão e falam daquilo de uma forma feliz.
Em seguida a esta pequena descrição do que foram os seus Reveillons, começaram a reclamar da canseira que sentiam por estes dias, dizendo ele que não aguentava mais aquele supermercado porque trabalhavam no mínimo 12 horas por dia e isso o deixava exausto e sem tempo para a vida.
Eu ouvia, enquanto passava minhas compras, e pensava sobre como deve ser difícil a vida para essas pessoas.

Despedi-me do rapaz que empacotou e levou para mim as compras no carro, dando uma gorjeta e desejando que seu ano seja melhor, com uma oportunidade boa de emprego mais justo.

Dali fui para a Rede Hortifruti daqui do bairro que, inclusive já lhes falei aqui e é mesmo um local muito bem arranjado, moderno, com excelentes produtos e um pessoal com cara de mais feliz e atencioso.
Parei ao lado de um desses que arrumava um stand de maçãs e perguntei-lhe onde tinha uma pia para lavar as mãos ou se tinham aquele álcool em gel, pois sou daquelas que não consegue ficar com as mãos sujas e preciso lavá-las quando termino as escolhas dos legumes e frutas.
Mas o rapaz ao qual me referi, não encarou-me, de cabeça semi-baixa, disse-me que não sabia pois era novo ali e aquele era seu primeiro dia. Mas, chamou imediatamente um colega que passava e pediu-o que me informasse.  O rapaz mostrou-me prontamente, apontando para o local onde ficavam os novos toilettes, agradeci e voltei-me para o rapaz tímido que eu havia perguntado anteriormente.  Disse a ele, com carinho claro, que eu havia aprendido onde ficava o tal lugar. Mas e ele, perguntei-lhe, aprendeu onde ficava para indicar
a alguma próxima pessoa que o indagasse?  De olhos baixos e fazendo seu serviço, ficou um pouco aturdido comigo que voltei a lhe dirigir a palavra.  O sujeito era mesmo super tímido. Então, expliquei-lhe que, sendo ele novo ali naquele trabalho, importante seria que não deixasse de aprender tudo sobre o local onde trabalhava e que não se restringisse apenas à colocação de frutas nos stands, que aproveitasse para aprender mais, para assim poder interagir melhor com o público que o cerca.  Ali, naquele bairro, moram muitas pessoas idosas ou aposentadas que gostam de conversar, perguntar, pedir sempre alguma coisa e, a maioria, é simpática ou falante.
Ele concordou com a cabeça e, meio tonto, procurou o local e apontou-o com as mãos, demonstrando que tinha aprendido sim. Sentindo seu sotaque diferente e um jeito também muito diferente dos demais rapazes que trabalham no comércio daqui, perguntei-lhe de onde era. Disse-me que era recém chegado de Mato Grosso e que estava encontrando muita dificuldade para trabalhar com o público, pois nem todos eram assim como eu, com jeitinho,  que se refere a pessoas como ele com clareza e respeito.


Realmente as pessoas não percebem isso. Não percebem que aquele trabalhador simples, fazendo um trabalho comum de repor os produtos num stand, merece ser tratado com gentileza ou um sorriso para que sua auto estima se eleve e ele tenha prazer em trabalhar ali e dar o melhor de si, mesmo que seu trabalho seja o mais simples da vida.

Eu disse-lhe que não era dificil, que ele já havia conseguido um grande feito, que era a colocação dele naquele estabelecimento que é sempre bem selecionado, ali só entra funcionário indicado por um ou outro do mesmo local, por isso a qualidade nos serviços apresentados.  Portanto, que ele fizesse de tudo para aprender o que se passa à sua volta, não se ativesse apenas às bancas de bananas ou maçãs, tentasse se sociabilizar através de um bom trabalho e atendimento público.  Ele concordou com a cabeça e um olhar meio triste de quem vem de longe para uma cidade grande, sentindo-se um peixe fora dágua com gente que fala rápido e tão diferente, um público tão misto como o nosso, às vezes simpático, outras muito mal educados, sem consideração pelo pobre trabalhador.

Na saída, outro rapazinho, daqui mesmo do estado, mais extrovertido, arrumou as compras na minha super bag que levo para as frutas e legumes (não aceite plásticos), e foi comigo até o carro super falante, dizendo que o ano novo ia ser bom e que tem muita gente nova chegando para trabalhar ali, gente que está vindo de lugares como o Mato Grosso ou regiões que não tem empregos suficientes e que são eles, realmente tímidos, mas que logo, cariocas descolados,  iriam enturmá-los e ajudá-los na difícil tarefa de lidar e entender o público.

Dei tchauzinho pro rapaz matogrossense, já com um sorriso nos lábios, e desejei-lhe um feliz ano novo e que não esquecesse de meu papinho rápido com ele por ali, em frente à banca de maçãs, pois na outra semana eu estarei por lá de novo para fazer mais perguntas a ele, quero tentar tirá-lo desta situação de receio por se sentir incapaz para trabalhar por aqui, afinal isto não é tão impossível assim para nenhum ser humano.  O que ele precisa mesmo é de auto confiança e um olhar mais amplo para aprender que pode ir mais longe e se soltar.  E eu acho mesmo que isso pode se encaixar para todos nós, em nossas inseguranças diante do novo, das dificuldades que a vida e o trabalho nos apresentem.  

Se a Terra se tornar inóspita à presença humana, será unicamente porque nós perdemos o nosso sentido de cortesia para com ela e os seus habitantes. 
(Thomas Berry)





18 comentários:

Glorinha L de Lion disse...

Isso aí Betita! "Se todos fossem iguais à vc...que maravilha viver..."hehe Gentileza gera gentileza mesmo! Muito legal seu post e sua experiência. No dia a dia acabamos passando batidos por essas pessoas, sem lhes prestar atenção...Sou incapaz de maltratar algum empregado ou qq pessoa, mas tem gente grosseira demais com quem acha que só existe para serví-los. Como tem arrogantes nessa vida!Devias arrumar um emprego no setor de RH do Horti Fruti! beijos,

Unknown disse...

Estou de volta e venho desejar um ano novo pleno de prosperidade ,paz e amor.

Beijo.

Lúcia Soares disse...

Beth, você é um amor de pessoa, verdadeiramente.
Acompanhe mesmo a vida do rapaz, já que vai lá toda semana. Isso será muito importante para ele.
E tomara que essa turminha de colegas de trabalho seja "do bem" e também o ensinem a se virar legal, a perder um pouco a timidez e melhorar a vida.
Beijo!

Anônimo disse...

Mas como tem gente mal educada né, assim como vc, infelizmente são poucos ainda, eu trabalhei mtos anos com o publico e sei como é, na verdade hj em dia tem sido dificil dos dois lados, quem atende e quem é atendido...mas sejamos positivos, a nova geração mudará tudo isso, to fazendo minha parte rsrss
bjs
Seu cantinho ta lindo!

Kelly Kobor Dias disse...

Gentileza com todos esse deve ser nosso lema, ninguém é melhor que ninguém, e não há necessidade de tratar mau as pessoas pelo cargo ou função que ocupam né?
beijos

Lu Souza Brito disse...

Oi Beth,

Eu trabalho direto com atendimento ao público e apesar de extrovertida e falante, ás vezes algumas pessoas com seu ar de superioridade e falta de educação fazem com que eu me sinta mesmo um peixe fora dágua, um ser invisível, um lixo mesmo. Mas são minoria. Acho que as pessoas precisam respeitar as outras em qualquer profissão. E isso que vc fez de dar a dica a ele foi muito bacana.
Gosto também de elogiar as pessoas pelo bom atendimento, sorrio, olho nos olhos, agradeço. Isso é tão bom receber, afetividade, receptividade, por que não fazer o mesmo não é?

lolipop disse...

Olá Beth!
Achei o seu post uma magnífica lição, dada com aquele jeito despretencioso, gentil, sábio e calmo, que eu encontro sempre aqui.
Infelizmente nem todos são como vc, senão, aposto que haveria muito mais lojas bonitas, empregados simpáticos e sorridentes e um mundo sem plásticos e com gente mais feliz...
Beijos carinhosos...

Unknown disse...

Beth
quando vejo atitudes como essa que você teve fico muito emocionada.
Talvez você tenha feito diferença na vida daquele jovem timido.
Até hoje tenho guardado no coração as palavras das pessoas que me ajudaram na rua, pessoas desconhecidas, que me estenderam a mão, me deram um sorriso, me trouxeram um copo de água, pessoas que olharam meus filhos nos momentos que eu passava mal.
É de uma grandeza infinita esta atitude.
Porque gera vida, gera esperança, cuidado e atenção.
querida, que muita energia positiva e paz estejam com você, viu
beijinho

Astrid Annabelle disse...

Beth querida!
Bonita atitude teve com o rapaz.Tenho certeza que fez a diferença na vida dele naquele dia!
Muito bacana!
Um beijo gostoso de ubachuvatorrencialsemparar!!!!rsssss
Astrid Annabelle

P.S. Li os outros posts e estão ótimos...seu blog está lindo!

Nina disse...

OOhh Betita como diz Glorinha, é verdade, se houvesse mais gente como vc, as coisas seriam diferentes pra mt gente. Só de ler teus textos a gente já percebe que és fora de série, menina. Tao bonitinho o texto, fiquei vendo todas as cenas... acho que vc fez o rapaz ganhar o dia. Levantou a cabeca dele e o astral, que maravilha!

Tomara que ele semana que vem, possa estar mais corajoso, mas nao audacioso, como alguns. E vc d. Beth, é uma linda mesmo.

Um bj querida, e um lindo ano novo pra ti e pra família.

Maria Célia disse...

Oi Beth
Muito bonita sua atitude, se o rapazinho da banca de maçãs, encontrasse umas 5 Beths por dia, com certeza ele deslancharia pra melhor.
Parabéns por fazer diferença neste mundo tão preconceituoso e desumano.
Bjo

Isadora disse...

Beth, excelente o post e mais ainda a sua atitude. Sim, todos merecem ser tratados com respeito e consideração não importando o trabalho ou a posição. Isso chama-se educação.
Que para o rapaz tenha ficado a valiosa dica.
Um beijo

cucchiaiopieno.com.br disse...

Querida Beth
Tens um coração enorme, és uma pessoa admirável, iluminada!
Um grande abraço
Léia

pensandoemfamilia disse...

Muito bom que vc relate esta sua experiência, na qual a sensibilidade pode detectar no outro sua dificuldade. Algumas vezes, julgamos apressadamente as atitudes alheias e deixamos de contribuir para melhorar a nossa relação humana e mesmo ajudar alguém. Ando bastante assustada, nas ruas, quando alguém se dirige inesperadamente a mim...e posso ter falhado na minha humanidade...

Somnia Carvalho disse...

Lilla,

curiosa a coincidencia de nossos pensamentos esses dias... andei pensando e sentindo o mesmo, talvez por conta de que nestas festas as discrepancias entre as classes fiquem ainda mais acentudadas... beijao pra voce que sabe como tratar e ver valor em todo mundo

Anônimo disse...

amore,
te mandei eum email, vc recebeu??
=beijao!

Gina disse...

Beth,
Que gracinha! É preciso ter sensibilidade para ver os outros e não ficar só voltado para si.
Fiquei acompanhando seu texto cheio de ternura. Foi importante para o rapaz seu diálogo.
Bjs curitibanos.

Bombom disse...

Fiquei emocionada com este acontecimento que partilhaste connosco. Como não ser tímido e estar triste quando somos desenraizados para ir procurar trabalho e pão tão longe de casa e da família? Como não ter medo de se mostrar numa floresta de gente insensível e hostil? Beth, tu foste o Anjo que lhe sorriu, lhe falou, o incentivou... Que bom poderes voltar a encontrá-lo, a acolhê-lo com um sorriso e a perguntar-lhe "Como vai você?"
Talvez isso faça a diferença na vida dele e na sua adaptação a um "novo mundo". Bjs. Bombom