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terça-feira, 17 de agosto de 2010

Cuidar sim, discriminar não.





Às segundas-feiras, os salões de cabeleireiros não costumam abrir aqui na cidade, acho que em todo Brasil, geralmente trabalham muito até aos sábados e só abrem na terça-feira.  Mas existe um salão que abre sempre de segunda a domingo e tem vários turnos e fica num Shopping aqui próximo ao meu bairro e isto é ótimo para quem precisa cortar ou fazer qualquer coisa num salão num final de semana ou, alguém como eu, que quando cisma que tem que fazer algo na cabeça tem que ser no mesmo dia e hora que 'dá na telha'.  E lá fui eu hoje à tarde para este salão do Shopping.

A moça que me atendeu e fez minhas luzes já é minha conhecida de outras vezes e é super gente boa, delicada e de fala mansa.  Depois de alguns minutos, seu ajudante me serviu um delicioso cafezinho com direito à água gelada e biscoitinho amanteigado.  Uma delícia de café!

Quando ele foi lavar minha cabeça, ao meu lado apareceu uma mulher, mais ou menos 60 anos e muito simpática, conversando com ele e com a cabeleireira que estava ali também por perto, enquanto o rapaz lavava cuidadosamente meus cabelos.  E foi aí que ele perguntou a esta mulher se ela vendia o tal café servido ali no modo avulso.  Ela traz o café semanalmente ou mensalmente, não sei bem, mas segundo ela o informou o café é da torrefação de seu irmão que tem uma fazenda e produz lá mesmo o tal delicioso café.  E ela começou a destrinchar os lugares famosos do Rio onde ela vende e entrega pessoalmente, inclusive a Academia de Letras, Café da Saraiva, Bistrôs, etc.  E não vendia em pequenas quantidades, só em pacotes grandes como aquele que estava trazendo naquela hora para o salão.

Aí, a cabeleireira disse assim para ela:  Ah, sempre quem vem aqui é seu filho, não é?   Ao que a mulher respondeu que sim.  Então a cabeleireira emendou: Mas ele entra aqui, entrega, recebe e sai correndo sempre, não fala com ninguém.
Para minha surpresa e das pessoas que estavam ali em volta, a mulher respondeu naturalmente:  Ah, meu filho é esquizofrênico!  Mas, ele é medicado e trabalha comigo fazendo as entregas e recebendo.

Neste ponto, o rapaz auxiliar já tinha acabado de lavar meus cabelos e me conduzia para outra cadeira a fim de secá-los.  Nisso, a cabeleireira voltou a mexer nos meus cabelos e comentou comigo baixinho, que ficou espantada com o modo natural que aquela mãe falou do problema mental de seu filho, assim tão abertamente.

Eu concordei, mas não pude deixar de fazer uma observação interessante, dizendo a ela que isto era um bom sinal, afinal ela agindo assim, de forma tão franca e honesta ao falar de seu filho, fazia com que as pessoas o vissem por outro ângulo, ou melhor, no sentido de que aquele rapaz estava inserido na sociedade, trabalhando e levando uma vida feliz e produtiva.  Coisa que toda família de pessoas com transtornos mentais como aquele, se encarasse o fato, não escondendo, nem sentindo vergonha, ajudará em muito para que a pessoa tenha uma vida sem barreiras e sem estigmas ou rótulos negativos. Não devemos esquecer que hoje existem muitos medicamentos que auxiliam no tratamento dessas pessoas.

Foi isso que pude notar naquela mulher, mãe e trabalhadora - que seu filho era um ser humano amado e respeitado e suas palavras acabaram por ajudá-lo mais uma vez, pois assim as pessoas agora entenderiam quando ele entrasse com seu jeito apressado e sem conversas, mas sabiam que ele estava ali trabalhando e superando-se nesta complexa vivência de um esquizofrênico.

Infelizmente, mesmo no século XXI ainda vemos o preconceito reinar com relação à certas doenças da humanidade, muitas vezes a própria pessoa que é portadora também o é, retraindo-se e abstendo-se do convívio na sociedade, mas temos que entender que nenhuma pessoa é igual a outra e reconhecendo assim, estaremos compreendendo e respeitando os diferentes.











Leia e se informe mais sobre Esquizofrenia aqui.

26 comentários:

Unknown disse...

Bethinha,
Aqui tá um frio do cão!!! rsrs... nem lareira dá jeito na coisa. Mas, é muito gostoso e não troco por nada.

Que interessante mesmo o jeito da mãe falar. Eu tb acho que certas coisas precisam ser naturais, assim como a limitação do filho dela foi algo natural. Não acho bom pra ninguém a pessoa tratar a outra com menosprezo por ela ser diferente. Aliás, diferente todos nós somos, né mesmo?

beijocas congeladas!!!

Nilce disse...

Oi, Beth

Maravilhoso deve ser esse menino. E também essa mãe que conseguiu inserí-lo na sociedade, cuidando para que tome direitinho seus medicamentos e conviva naturalmente com os chamados "normais", como lhe é de direito.
Ainda bem que existem pessoas que conseguem ver o lado positivo das coisas.
Tenho muita pena de quem não consegue ver nada além do próprio nariz.
Muito bom seu post, menina!

Bjs no coração!

Nilce

Ivana disse...

Bethinha, eu nunca vi, convivi ou tive contato, mesmo que superficial, com uma pessoa portadora deste transtorno. Mas imagino o quanto deva ser sofrido não somente para o portador, como para todos os que convivem com ele. E como há preconceito, né Beth? Que maravilha que esta mãe, amorosamente, é capaz de dar um depoimento como o que deu! Graças a ciência, como dissestes, estas pessoas já tem chance de ter o mínimo de convivência social e possibilidade de felicidade (por que não?).
Beijos!

Anônimo disse...

É Beth, esquizofrenia é uma doença muito difícil. Meu irmão mais velho é esquizofrênico e vive à parte do mundo. Não é fácil para a família, pois além de conviver com o problema dentro de casa, temos que lidar com o preconceito na rua.

Quando eu era mais nova, tinha até vergonha de falar sobre o meu irmão mais velho, pois sentia na pele o preconceito. Crescendo e amadurecendo fui mudando o meu jeito de lidar com essa questão. Não é tão ruim como se pensa. O ruim é o preconceito, que torna tudo mais difícil.

Fazemos de tudo para que ele se sinta muito confortável em casa. Infelizmente ele não sai e só vive no seu mundo de fantasia;então fizemos em casa uma estante de livros e filmes que ele gosta muito. Fazemos atividades de leitura nos fins de semana com assuntos que ele gosta.Ele escreve bastante também. Não se adaptou ao computador, tem muitos cadernos de textos e estórias escritas à mão.É assim que ele se comunica com o mundo, bem quieto mas escrevendo.

Gostei e me emocionei com a atitude dessa mãe. Certamente é uma mulher de fibra como a minha, que tb fala sempre abertamente sobre essa doença.

Tati disse...

Grande texto e grande reflexão, Beth! Que mais pessoas sejam capazes de encarar as diferenças com naturalidade: a mãe, você, eu, os demais... Só temos a ganhar com isso!
Adorei a história.
Beijos.

chica disse...

Uma pena, mas existe isso sim. Há tantos ttabus a serem desbloqueados ainda...beijos,lindo dia,chica

Beatriz disse...

Oi Beth,
Parabéns à essa mãe! Temos que ver a vida com naturalidade, seja ela como for.
Beijos,
Bia
www.biaviagemambiental.blogspot.com

Lu Souza Brito disse...

Olá Beth,

É diferente mesmo ouvir a a mãe falar assim e como você mesma disse, um bom sinal. Quantas outras no lugar dela diriam baixinho, ou de forma envergonhada ou mesmo vendo se nao tinha muitas pessoas prestando atenção no assunto.
Muito bacana a atitude dela.

** E o encontro das blogueiras, foi este fim de semana????
Beijooos

Cynthia Totus Tuus Mariae disse...

Essa mãe é um exemplo!
Bom Dia!!
Começarei a ler nosso livro hoje...
Tenha um ótimo dia
bjo
Cynthia

ManDrag disse...

Beth!

Comovente post. Comovente história, pela coragem, pelo amor, pela naturalidade saudável com que essa mãe vive a vida como ela é mesmo, sem recusas nem artifícios. Comovente exemplo.
Dá para perguntar: quando aprenderemos todos a viver assim, com essa naturalidade sincera e expontânea?

Um abraço com amizade e admiração

Carolina Pombo disse...

Excelente post Beth! É muito importante falarmos sobre isso, e tornar mais natural o convívio com as pessoas que sofrem de transtornos mentais graves. Às vezes, nossos preconceitos só pioram a condição dessas pessoas. Legal saber que a mãe lida de forma tranquila com a inserção social do filho.

Beijos

Socorro Melo disse...

Olá, Beth!

Muito interessante o exemplo dessa mãe. Uma maturidade impressionante. Esse é o tratamento que deve ser dispensado a pessoas portadoras de deficiências, de qualquer ordem. Na maioria das vezes a própria família discrimina, e isso, de certa forma, faz com que a pessoa se sinta inúltil.

Bia disse...

Beth, eu fiz uns trabalhos num manicomio que tem aqui em Salvador (Juliano Moreira) e era a coisa mais triste que ja vi na vida. Desisti totalmente de trabalhar com saude mental depois desses trabalhos.

As familias largam mesmo o familiar la, dao enderecos falso so para nao ter como acha-las e a pessoa portadora do transtorno fica la, abandonada. Sao tantos pacientes, mulheres e homens. Aquilo la me chocou tanto que eu nunca mais quis voltar, nem para ajudar eu conseguiria.

Achei lindo essa mae nao ter vergonha e ajudar o filho a se inserir na sociedade. Se metade das familias com pessoas portadoras de transtorno fizesse um esforcinho e ajudasse seus familiares, a realidade deles ia ser tao diferente.

bjs

Luciana disse...

Beth, fiquei curiosa pra saber mais sobre essa doenca. Eu tinha um colega de classe, no colegial que tinha, mas vivia de forma bem normal. É característica essa de näo dar papo pros outros?
Curiosa que sou vou ler rapidinho lá no link que você deixou.
Beth, queria um favor seu, é simples. Bom, algumas pessoas me avisaram que quando abrem meu blog o anti-virus bloqueia, outras que são direcionadas para outro endereco e fica bloqueado em seguida, aconteceu alguma coisa desse tipo quando você abriu meu blog por esses dias?

Obrigada desde já.

Beijo

Lúcia Soares disse...

Beth, eu sinto na pele. Também tenho uma irmã com algum tipo de doença, bem próxima à esquizofrenia. A maioria dos seus sintomas é de transtorno bipolar, mas ela também tem umas 2 características de esquizofrenia. Minha mãe a colocou numa redoma, não a deixava fazer nada, nem sair, nada. Aos poucos ela começou a ir à igreja, que é o único "passeio" que pode fazer sozinha.
Atualmente, com a fragilidade da mamãe - envelheceu muito, "de repente" - , de uns meses para cá (vai fazer 85 anos dia 30), minha irmã está sendo de muita valia, ajuda no que pode. Mas a vida toda foi tratada como incapaz por minha mãe, no desejo de protegê-la.
Nós sempre a tratamos de igual pra igual (falei dela, num dos meus primeiros posts, deve estar em Aniversário).
É muito duro se ter doentes mentais em casa. E ainda tenho um irmão que nasceu com um problema neurológico. Por isso não é fácil nossa vida, mas levamos bem.
Minha mãe mora há anos na mesma rua, a vizinhana tem o maior crinho por eles, não são discriminados por ninguém.
O mais difícil é a própria família aceitar. Quando lidam bem, como a senhora que viu no salão, a sociedade também trata.
Beijo!

Kelly Kobor Dias disse...

Adorei a história que dividiu conosco. Infelizmente hoje em dia ainda há muito preconceito em torno do deficiente, sendo que já está provado que eles podem e devem ter uma vida normal.
essa mãe realmente é uma MÃE!!!
beijos

pensandoemfamilia disse...

Olá Beth

De volta, tentando dar conta das leituras dos amigos, mas não com muito tempo.
Seu post traz uma questão muito importante: aceitação da família e da sociedade pelas pessoas doentes; vê-las como ser humano e não ver a doença em si. O primeiro passo para desmistificação é a forma da família lidar com o seu membro, a partir daí a boa auto-imagem ajuda a pessoa a se integrar. Atitudes como a sua são louváveis.
bjs,

ML disse...

Sábia mulher. E sortudo do rapaz que tem uma mãe assim, inteligente acima de tudo.

bjnhs

Macá disse...

Beth
Que post mais rico esse que dividiu com a gente. Muita boa a sua observação para a cabelereira. É com exemplos assim que a sociedade se educa. Parabéns também a essa mãe, que tratando o filho como um ser normal, o faz se sentir feliz e não rejeitado.
um beijo

Vivi disse...

Oi Bethinha
Concordo contigo com todos pontos e vírgulas viu!!!
É tão deprimente saber q há seres humanos que são "escondidos" !!!! não é verdade???
e essa MÃE ( sim... com letras maiúscula!!!)
de maneira tão natural e amável propiciou ao filho uma aceitação maior!!!!
Muito bom !!!
bjs paulistas
rs

Unknown disse...

Para mãe não há barreiras .Bonito texto.

Beijo.

Manuela Freitas disse...

Beth,
Como todos os outros comentaristas, só posso dizer que gostei imenso do post. Há uns anos, os deficientes começaram a sair à rua, a aparecer em todos os locais, mas antes não era assim, estavam fechados em casa e às vezes em condições degradantes.
Podemos e ainda muito, criticar a sociedade, mas entretanto passos importantes na mentalidade das pessoas foram dados e outros virão a ser. Deixas-te-me optimista!
Beijinhos,
Manú

Teredecorando disse...

Pois é, às vezes algumas pessoas ficam lamentando e alimentando de maneira errada algumas doenças.
A inclusão é fundamental para o crescimento de pessoas com alguma deficiência.
Tudo de bom.
Bjs mil

Ana disse...

Sensibilidade em cada palavra, Beth...
E é disso que mais precisamos, principalmente das pessoas com quem convivemos.

Beijo!

ecosteira disse...

Maravilha! Eu trabalho como arquiteta e fazendo a supervisão de manutenção predial no Instituto Pinel e no Instituto Nise da Silveira, aqui no Rio. Porisso, depois de um grande espanto inicial, estou muito acostumada a conviver com estas pessoas diferentes. As duas instituições tem artistas plásticos, bloco de carnaval, arte em papel reciclado, radio, etc. Esta mãe é um exemplo e este rapaz teve a felicidade de ser aceito e amado como qualquer filho. Os nosssos internos nem sempre tiveram esta sorte mas garanto que a maioria superou tudo. Eles são muito felizes. Você precisa ver os blocos de carnaval quando saem pelo bairro. Alegria pura e aceitação das diferenças que é o que deve ser feito numa sociedade justa.

Glorinha L de Lion disse...

Beth, que mãe viu? Quando me contou essa estória, fiquei surpresa, pq essa doença não é brinquedo não...tantos aí em cima relataram que cconhecem ou tem alguém na família. É uma doença limitante. Todo mundo tem medo de um esquizofrênico. Ainda existe muito preconceito, em todos os âmbitos, é essa doença é um estigma. Ainda bem que o filho está sendo e se sentindo útil, não é? Mas deve ser difícil demais assumir isso. Admiro a coragem dessa mulher. Belo post. bjs.