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quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Para aprender com o poeta


Para viver um grande amor, preciso é muita concentração e muito siso, muita seriedade e pouco riso - para viver um grande amor.
Para viver um grande amor, miste
r é ser um homem de uma
só mulher; pois ser de muitas, poxa ! é de colher ... - não tem nenhum valor.
Para viver um grande amor, primeiro é preciso sagrar-se
cavalheiro e ser de sua dama por inteiro - seja lá como for. Há que fazer do corpo uma morada onde clausure-se a mulher amada e postar-se de fora com uma espada - para viver um grande amor.
Para viver um grande amor, vos digo, é preciso atenção como
o "velho amigo", que porque só vos quer sempre consigo para
iludir o grande amor. É preciso muitíssimo cuidado com quem quer que não esteja apaixonado, pois quem não está, está sempre preparado para chatear o grande amor.
Para viver um amor, na realidade, há que compenetrar-se da
verdade de que não existe amor sem fieldade - para viver um grande amor. Pois quem trai seu amor por vaidade é um desconhecedor da liberdade, dessa imensa, indizível liberdade que traz um só amor.
Para viver um grande amor, il faut, além de fiel, ser bem
conhecedor de arte culinária e de judô - para viver um grande amor.
Para viver um grande amor perfeito, não basta ser apenas
bom sujeito; é preciso também ter muito peito - peito de remador. É preciso olhar sempre a bem-amada como a sua primeira namorada e sua viúva também, amortalhada no seu finado amor.
É muito necessário ter em vista um crédito de rosas no
florista - muito mais, muito mais que na modista ! - para aprazer ao grande amor. Pois do que o grande amor quer saber mesmo. É de amor, é de amor, de amor a esmo; depois, um tutuzinho com torresmo conta ponto a favor...
Conta ponto saber fazer coisinhas: ovos mexidos, camarões,
sopinhas, molhos, estrogonofes - comidinhas para depois do amor. E o que há de melhor que ir pra cozinha e preparar com amor uma galinha com uma rica e gostosa farofinha, para o seu grande amor ?
Para viver um grande amor é muito, muito importante viver
sempre junto e até ser, se possível, um só defunto - pra não morrer de dor. É preciso um cuidado permanente não só com o corpo mas também com a mente, pois qualquer "baixo" seu, a amada sente - e esfria um pouco o amor. Há que ser bem cortês sem cortesia; doce e conciliador sem covardia; saber ganhar dinheiro com poesia - para viver um grande amor.
É preciso saber tomar uísque (com o mau bebedor nunca se
arrisque !) e ser impermeável ao diz-que-diz-que - que não quer nada com o amor.
Mas tudo isso não adianta nada, se nesta selva oscura e
desvairada não se souber achar a bem-amada - para viver um
grande amor.

Vinicius de Moraes


6 comentários:

Anônimo disse...

pois é.. o amor mudou, os costumes mudaram, so o que a gente quer´é que continua sendo a mesma coisa - amar e ser amada. ai, nem fala...rsss beijo!

Ana disse...

Vinícius... O poeta da minha adolescência!
Exaustivamente lido, relido, decorado, citado, copiado...
Mas foi na maturidade que eu o entendi melhor!!

Kenia Mello disse...

Com essa parte de que precisa de pouco riso, não concordo. Uma relação amorosa precisa, sim, de muito riso e bom humor. É fundamental.
Beijos.

Anônimo disse...

Ahhhhhhh o poetinha,
bjks

olhodopombo disse...

e assim ele encantou a todos,,,,

ML disse...

Soberbo, Beth!

Vinícios não tem idade, né?
Nem nacionalidade.
É um ser "plural" e cosmopolita.
Palmas, de pé, ao poetinha.

E à Você!

bjnhsssssssssssssss