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quarta-feira, 26 de março de 2008

A massacrante felicidade dos outros



Ao amadurecer, descobrimos que a grama do vizinho
não é mais verde coisíssima nenhuma.
Estamos todos no mesmo barco.
Há no ar um certo queixume sem razões muito claras.
Converso com mulheres que estão entre 40 e 50 anos, todas com
profissão, marido, filhos, saúde,
e ainda assim elas trazem dentro delas
um não-sei-o-quê perturbador,
algo que as incomoda, mesmo estando tudo bem.
De onde vem isso?
Anos atrás, a cantora Marina Lima compôs com o seu irmão, o poeta
Antonio Cicero, uma música que dizia:
"Eu espero acontecimentos
só que quando anoitece
é festa no outro apartamento".
Passei minha adolescência com essa sensação:
a de que algo muito animado estva acontecendo em algum lugar
para o qual eu não tinha convite.
É uma das característica da juventude:
considerar-se deslocado e impedido de ser feliz
como os outros são - ou aparentam ser.
Só que chega uma hora
em que é preciso deixar de ficar tão ligada na grama do vizinho.
As festas em outros apartamentos são frutos da nossa imaginação,
que é infectada por falsos holofotes, falsos sorrisos e falsas notícias.
Os notáveis alardeiam muito suas vitórias, mas falam pouco das suas angústias,
revelam pouco suas aflições, não dão bandeira de suas fraquezas,
então fica parecendo que todos estão comemorando
grandes paixões e fortunas,
quando na verdade a festa lá fora não está tão animada assim.
Ao amadurecer, descobrimos que a grama do vizinho
não é mais verde coisíssima nenhuma.
Estamos todos no mesmo barco,
com motivos pra dançar pela sala e também
motivos prá se refugiar no escuro, alternadamente.
Só que os motivos prá se refugiar no escuro raramente são divulgados.
Pra consumo externo, todos são belos, sexys, lúcidos, íntegros, ricos, sedutores.
"Nunca conheci quem tivesse levado porrada
todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo".
Fernando Pessoa também já se sentiu abafado pela perfeição alheia,
e olha que na época em que ele escreveu estes versos
não havia esta overdose de revistas que há hoje,
vendendo um mundo de faz-de-conta.
Nesta era de exaltação de celebridades - reais e inventadas - fica difícil
mesmo achar que a vida da gente tem graça.
Mas tem.
Paz interior, amigos leais, nossas músicas, livros, fantasias, desilusões e recomeços,
tudo isso vale ser incluído na nossa biografia.
Ou será que é tão divertido passar dois dias na Ilha de Caras
fotografando junto a todos os produtos dos patrocinadores?
Compensa passar a vida comendo alface para ter o corpo que a profissão de modelo exige?
Será tão gratificante ter um paparazzo
na sua cola cada vez que você sai de casa?
Estarão mesmo todos realizando
um milhão de coisas interessantes
enquanto só você está sentada no sofá
pintando as unhas do pé?
Favor não confundir uma vida sensacional
com uma vida sensacionalista.
As melhores festas acontecem
dentro do nosso próprio apartamento.

(Martha Medeiros, gaúcha, 44 anos, jornalista, poeta e gente fina).


Interessante o texto, né mesmo?

Já houve dias que pensei assim, mas descobri também que não sou Roberto Carlos para ter 1 milhão de amigos e que não tenho tudo que amo, mas amo tudo que tenho e quando vem os pensamentos nublados, busco claridade na música, na conversa com alguém que muito amo e esteja próximo ou saio a ver vitrines que é também uma excelente terapia para esquecer problemas. Lembrem-se que estamos todos no mesmo barco - a Vida.
















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