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quarta-feira, 7 de janeiro de 2015

Menina de trança



"Dois horizontes fecham nossa vida: 

Um horizonte, — a saudade ... 

Do que não há de voltar; 

Outro horizonte, — a esperança 

Dos tempos que hão de chegar;" 

Machado de Assis. 

E para inaugurar o ano, deixo uma de minhas crônicas, lembranças de um passado feliz e dourado.

Menina de trança


Aos 15 anos a garota 'não queria saber de nada com a hora do Brasil".
Este era o jargão empregado por alguns pais ou pessoas mais velhas daquela década dos 60 para reclamar dos filhos alienados, ligados nas novas descobertas e vertentes musicais. E era assim a maioria dos jovens, que viam o mundo por uma janela mais ampla que a de seus pais, mundo este que se preparava para eles, para abraçá-los, com uma revolução musical e de costumes.

A menina estudava, voltava do ginásio, almoçava e já colocava o vinil de um dos ídolos que mexiam os corações das mais românticas, e um deles chamava-se Antonio Marcos. Um bonito rapaz nos seus 24 anos, cabelos longos, barbinha rala, um pãozinho e com um repertório que até mesmo as mães cantarolavam uma ou outra música quando ele aparecia nos programas das tardes de domingo do Chacrinha.
O pai vivia reparando na menina e rosnando baixinho, só pra infernizar, no ouvido da mãe: -Se esta menina se perder, se acontecer alguma coisa, você será responsável!
Coitada da mãe e coitada da filha! A menina nem pensava em namorar a sério, mas sonhava com príncipes cabeludos e de guitarra nos ombros.

A garota era tão pura que dormia às vezes ouvindo seus vinis, nas tardes mornas do verão carioca, e quem a olhasse em seu sono tranquilo,não dizia que já tinha 15 anos e sequer merecia ser chamada de senhorita, tal era seu semblante infantil. Dormia impune, podia o mundo desabar e ninguém a despertaria dos sonhos dos seus 15 anos.

O bairro em que moravam, longe do centro da cidade, não tinha muitos recursos, apenas cinemas e praças com coreto onde, geralmente, tinha um ou outro show de cantores desconhecidos.

A mãe ouviu falar que num dia daqueles, haveria show com o cantor Antonio Marcos e tentou se informar direitinho, para levar a filha à praça na tarde marcada. 
Quando a menina soube que um de seus cantores prediletos iria se apresentar logo ali, pertinho de casa, teve até o sono interrompido por alguns dias e agitada pela expectativa do dia.

Enfim chegou a tarde tão esperada, nem era só a menina que estava ansiosa, a mãe também, porque lá no fundo, era fã do rapaz bonitão e também queria vê-lo de perto.

Partiram rumo à praça, um pouco depois do almoço, para poderem achar um lugar bem pertinho do centro do coreto para ver melhor o ídolo. Sentaram-se no gramado, a mãe comprou dois guaranás e pipocas, e lá ficaram, um tempão esperando. Lá pelas 16:30hs, a praça já tinha um número considerável de pessoas, na grande maioria, mulheres e meninas e às 17 horas anunciaram a chegada do cantor Antonio Marcos.

Chega ao centro do coreto, um cara baixinho, cabeça chata, usando um chapéu de couro esquisito e segurando uma enorme sanfona. Junto com ele, dois outros, igualmente parecidos, com instrumentos de acompanhamento. O apresentador diz: -Pessoal, temos a honra de receber aqui hoje, Antonio Marcos, o novo rei do baião!

A garota se levantou empertigada, bem típica de sua idade, e abriu um bocão em direção à mãe, já perturbada:
- Mãe, este não é o Antonio Marcos!
Uma dona sentada ao lado, rapidamente corrige: -É sim, este é Antonio Marcos de Jesus e canta muito bem as músicas do Gonzagão!
A garota sai correndo, desembalada, decepcionada e chorosa. A mãe desce a praça atrás dela, preocupada com a desilusão da filha e com o jantar do marido e dos outros dois filhos que a esperavam fazia tempo.

Que rei do baião nada! A menina nos seus quinze anos queria rock, queria baladas românticas, um pouco do soul de Hendrix ... e nada com a hora do Brasil.



E quem quiser conhecer ou relembrar o bonito, clica no vídeo abaixo:








15 comentários:

Toninho disse...

Muito linda esta cronica de um tempo feliz de irreverências e mudanças de comportamento.Antonio Marcos com suas canções, logo após Marcio Greik causando frisson naquelas meninas que não queriam nada com a hora do Brasil.Como cantarolei estas canções naquela inicio de vida amorosa naquela dureza da época,rsrs. E tudo mudou, e tudo passou, mas ficaram esta belas lembranças que geram historias.
Gostei Beth. Que venham mais e mais.
Que em 2015 estejamos mais sintonizados e inspirados nesta bela viagem.
Um abração com carinho amiga.
Beijo.

Wanderley Elian Lima disse...

Olá Beth
Um 2015 cheio de realizações, e com muita saúde para você e família.
Bjux

Roselia Bezerra disse...

Olá, querida Beth
Tempo bom mas que não vivi como vc... fui muito presa e nem tinha liberdade de ousar sair dos esquemas a mim condicionados...
Eu tinha que querer tudo com a hora do Brasil... rs...
Bjm festivo e feliz Ano Novo!!!

chica disse...

Beth,adorei a poesia de Machado de Assis e tua cronica, tive que rir. Pra uma menina linda de 15 anos, sonhadora, trocar de Antônio assim? rsss. Imagina!!!

Adorei e quem não lembrado Antônio Marcos bj spraianos, tuudo de bom,chica

Marli Soares Borges disse...

Oi Beth!
Linda crônica, lembrei tanta coisa do meu tempo... ai, ai! Mas na minha época de jovem, eu não queria nada com o Antonio Marcos! Não gostava mesmo! Eu queria era os Beatles! Eu era (e ainda sou) louca por rock! Eu adorava Chubby Checker, Little Richard, Elvis, etc. -- O Antonio Marcos, por mim passava batido. Mas tinha umas colegas que eram gamadas, chegavam a chorar por ele...rsrsrsrs. (Tadinha dessa garota da crônica, que fria ela entrou hein!)
Bjsss
Marli
Blog da Marli

Teredecorando disse...

Olá Beth,
Linda crônica! Um tempo mais puro...
Outros tempos...
Beijos mil

Maria Célia disse...

Ei Beth
Adorei sua crônica, muito boa, imagino a decepção da garota com a entrada do Antônio Marcos genérico.
Consigo imaginar muito bem toda a cena que você descreveu.
Muito legal.
Um beijo.

Luma Rosa disse...

#euri!! A sua mãe nem aí para a hora do rock! kkkkkkk
Que triste essa música! Não conhecia. Fiquei pensando por onde anda a Vanuza.
A inocência do passado, evaporou-se no tempo!
:)
Beijus,

Beth/Lilás disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Cristina Pavani disse...

Ah, Alfazema, que saudade desse perfume aqui!

Voltei no tempo, porém eu aos 15 trabalhava de sol a sol e nem podia ouvir rádio...Também amava o Antonio Marcos e Cesar Sampaio!
A mãe tinha um bebê temporão e só me dava serviço. Mesmo com as dificuldades, morro de saudade daquela época sonhadora.

Beijos mil procê

Anete disse...

Beth, gostei de ler a sua alegre crônica! Foi bom relembrar o Antonio Marcos...
Também gostei à beça dos versos de M de Assis...

Obrigada pela visita por lá...
Boa Semana! Abraços

Calu Barros disse...

Ah, as primeiras brandas desilusões juvenis que fazem tanto barulho dentro dos jovens corações.
Uma deliciosa crônica dos costumes duma época tão nossa conhecida, Betinha.
Finalmente condigo retomar minhas visitas aos cantinhos queridos.

Bjkas, amiga,
Calu

Bia Jubiart disse...

Não estava na praça, mas até euzinha fiquei decepcionada (nada contra o Gonzagão rsrsrsrssr).
Delicada crônica que poeticamente fala mito de uma época de mudanças.
Beth, que venha boas revoluções e realizações para nós em 2015.
Bjões Tocantinenses!

Beth/Lilás disse...

Pessoal, este conto é metade eu e metade ficção, ok.
Só queria esclarecer isso.
beijos

silvioafonso disse...

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Voltei para te dar
um abraço e pedir
pra você me seguir
no blog, já que eu
há muito te sigo
no meu.

Beijos.






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