.....................................................................................................................................................................Porque não só vives no mundo, mas o mundo vive em ti. .....................................................................................................

quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

O Exterminador de Bosquezinhos

-Tumblr.-

Samambaias e avencas solitárias enfeitam com verdes rendas limoso nicho.
Gotas de orvalho lembram pérolas, contas de rosário enfiadas em capim.
Aveludados musgos amaciam a face dura de rugosas pedras.
Alegres pássaros cantam afinados duetos c om cigarras estridentes.
Centelhas de ouro em pó, estilhas de prata laminada,
enchem de raro encanto
a folhagem molhada
daquele ameno recanto...
Décio Valente

Estalinhos de galhos secos eu podia sentir a cada pisada, e qualquer pequeno ruído fazia minhas orelhas ficarem bem atentas como a de um coelhinho acuado nas poucas vezes em que andei por lá. Um micro bosque eu tinha ali instalado, bem detrás da casa, num terreno íngreme, abrigo de bichinhos que passam imperceptíveis durante o dia, como; aranhas, rãs, lagartixas.  Acontece que a defensora aqui do mundo natural, tem medo de répteis e batráquios. Uma perereca rosa e saltitante pode levar meu coração a centenas de batidas por segundo e quem sabe até uma síncope!
Bela medrosa eu sou, reconheço! Mas, não posso nem pensar em pisar num sapo ou lagarto, como o que foi visto dias atrás pelo pedreiro que anda por lá, consertando o muro da casa. Ele  disse-nos que viu o bicho e que era bem grandinho, quase um jacaré. 
Já vi que não somente os pescadores mentem ou inventam tamanho de bicho, aquele pedreiro também. Mas, por via das dúvidas, nem chego perto onde o homem avistou o tal lagarto.

Muitos paus d'água, avencas agarradinhas neles, samambaias do mato verdinhas, alguns agapantos, um bouquê de hortências, um pé de pitanga que divide o meu terreno e o do vizinho que, ainda como nos tempos antigos, é demarcado apenas por uma cerca de arame verde entrelaçada, onde nela sobem trepadeiras, pequenos arbustos e plantas diversas que nasceram ali, trazidas talvez, pelos pássaros ou pelo vento. O verde era abundante.

De uma semana pra outra foi quase tudo devastado. E o lagarto, com toda certeza, já não se esconde mais lá, foi procurar outros verdes pra descansar durante o dia.

Sim, o pseudo-jardineiro que arranjamos, entendeu errado, quando dissemos: - Precisa desbastar um pouco o mato entre as plantas. 
Fiquei chocada quando olhei de dentro do meu quarto para aquele que era meu 'bosquezinho encantado'.

E o homem quando me viu no sábado pela manhã, foi logo perguntando se eu "gostei da limpeza". 
Conseguem imaginar a minha cara?  Pois é!  Mas, o marido para me consolar, prometeu que vai fazer ali uma espécie de jardim suspenso, livre de lagartos e pererecas.

Por enquanto, restou a pitangueira me olhando longe, meio deslocada, sem suas amigas avencas sempre agarradinhas e algumas outras arvorezinhas que foram poupadas do jardineiro-exterminador.











10 comentários:

chica disse...

Putz, imagino a tua cara! Essas limpezinhas assim, tão levadas ao pé da letra, sempre nos surpreendem. pena,rs Agora é esperar crescer e ver o maridão cumprir a promessa! bjs, lindo fds! chica

Maria Célia disse...

Oi Beth
Você me desculpe pelo seu sentimento de perda das suas avencas, samambaias e outras plantas, mas achei sensacional seu texto, uma verdadeira história, uma beleza sua descrição do bosquezinho e muito divertida a parte do jardineiro exterminador.
Um beijo.

Calu Barros disse...

Vixe,o jardineiro mãos de tesoura atacou...puxa vida, Betinha, que desolação, a do bosquezinho e a do teu coração.È fácil imaginar teu olhar diante da cena baseada na tua narrativa apurada e criteriosa.
Vamos lá, coragem, arregace as mangas e comece de novo a replantar teu lindo bosquezinho.
Bjkas solidárias, minha amiga.
Calu

Célia disse...

Seria cômico... se não fosse tão trágico! Esse jardineiro não é nem um pouquinho ecológico!! Que horror!
Abraço.

Wanderley Elian Lima disse...

Isso dá raiva demais. Sou igual a você, tenho verdadeiro pavor de sapo, não gosto de ver nem em gravuras rsrsrsrs
Bjux

Beatriz disse...

Oi Beth
Isso também já me aconteceu quando eu morava em casa, lá no sul da Bahia. Mas agora, morando em apartamento, não corro mais este risco, rs...
Um mini bosque no quintal de casa é tudo de bom, não é! Se eu tivesse um, certamente seria meu refúgio, e fingiria por uns instantes estar em plena floresta cheia de bichos!!!!

Beijocas e bons ventos!

<°))))< Bia

Cristina Pavani disse...

Acalme-se, Alfazema! estamos nas águas e tudo florescerá num instante... E o teiú - bichinho da paz, terá sua casinha de volta.

Bjs

pensandoemfamilia disse...

Beth querida
"Ordens dadas e cumpridas", trágico cômico. Muitas vezes, se damos uma tarefa e não acompanhamos, ficamos assim como nos conta. Pasmas!
Seu maridão, certamente lhe dará um belo jardim. bjs.

ML disse...

Ai, Beth, eu sinto muito, imagino... você!
O sujeito é um #$%**&(&(joga o telefone dele fora!
E deixa que seu "maridex" vai te dar um jardim mais lindo ainda...
Quanto à "histórias de pescador", uma senhorinha nordestina, me contou que um dia, ligou pro porteiro dizendo que tinha uma "víbora" no seu ap.O sr. chegou com um facão, mas descobriu que a tal "víbora" era uma... lagartixa... Se é caô eu não sei, só repetindo o que ouvi, mas acho que ela falava muito sério... ;) bjssss

Lúcia Soares disse...

Num instantinho tudo volta a florescer, ou era mesmo hora de repensar o bosque...
Beijo, Beth.