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sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

Das pequenas Mortes diárias


 Cristina Troufa; Acrylic, 2011, Painting "Pedestal

A noite passada eu vi novamente o filme A menina que roubava livros, porque eu queria prestar mais atenção em alguns detalhes da filmagem e algumas falas, principalmente as que o narrador, a Morte, diz nos momentos finais da história. A mais intrigante talvez seja esta: "Está aí uma coisa que nunca saberei nem compreenderei - do que os humanos são capazes."

Os humanos realmente são capazes de coisas que até a morte se surpreende ou duvida, como o incrível poder de superação e de resiliência de algumas pessoas. Algumas sofrem tanto no decorrer de sua existência, mas vão em frente, resistem, buscam o lado luminoso da vida, reagem com garra, otimismo e conseguem viver muito, como foi o caso da personagem do livro, a menina, que viveu mais de 90 anos para contar sua história.

Porém, há os que são fracos, os que morrem cada dia absorvendo a mente com poluições que só fazem mal ao corpo, pois se não tivermos um perfeito domínio sobre isto, adoecemos ou vivemos morrendo a cada amanhecer.
Por isso estou na tentativa de não ser assim, tento espantar fantasmas da mente, tento viver os dias lendo e buscando, através do otimismo, não deixar que se instale em meus dias, o lado negro e desagradável dos pensamentos, que às vezes insistem em matar-nos um pouquinho.

"Quando a morte conta uma história, você tem que parar para ouvi-la." - Esta é mais uma das frases incríveis deste filme/livro - Por esta razão trago abaixo, um texto absolutamente incrível e inspirador para todos nós, a fim de combatermos com garra nossas 'mortes diárias'.
O texto é de Roberta Simão e está no Site Obvious, que transcrevo abaixo:



Ensaio sobre nossas pequenas mortes diárias


Há um mistério que intriga a maioria dos seres racionais desse planeta: a falta de controle sobre a nossa morte. Intelectuais e poetas sempre manifestaram sua admiração por este tema. Enxurradas histéricas de novas invenções tecnológicas são nossas cúmplices no sentimento cego de poder e controle sobre todas as coisas. Juntas e tacanhas convivem a era do controle, a era touch, a era glass e tantas outras histerias tecnológicas, que nos fazem sentirmos capitães das fragatas nas ondas da internet e de nossas vidas.
O fato é que muita gente já morreu alguma vez e nunca desconfiou disso. Inclusive você, não obstante eu. Porque a gente morre quando levanta da cama e já corre para olhar o celular. Morre de monotonia, de inércia, de marasmo, de falta de sonhos e de sonhos não realizados. A gente morre de medo de por o dedo em riste na cara do próprio medo e de pegar a coragem e seguir caminhando.
Morremos de medo de trocar hábitos, de mudar de ideias, convicções, de ver as coisas por outra perspectiva e damos um repeat automático nos comportamentos viciados e ranzinzas. Morremos de medo de olhar para o espelho da consciência e encarar os olhos nada atrativos das verdades de nossa alma, pois os reflexos geralmente são indigestos e desagradáveis. Morremos de medo de colocar em pratos limpos as mazelas de uma relação corroída, mas sustentada, apesar do visível desgaste, devido à insistência do amor que já não é mais o mesmo, mas que poderia voltar a ser ainda melhor se fossemos viscerais e honestos com nós mesmo e com o outro. Morremos na reincidência infinita de conhecidos ranços e defeitos, dos outros, e nossos. Morremos quando não somos coerentes com o que sentimos.
Chico Buarque já cantava sobre o tema em sua música Cotidiano: “Todo dia ela faz tudo sempre igual, me acorda às 6 horas da manhã”. Também na música Construção: “Beijou sua mulher como se fosse lógico. Ergueu no patamar quatro paredes flácidas. Sentou pra descansar como se fosse um pássaro. E flutuou no ar como se fosse um príncipe. E se acabou no chão feito um pacote bêbado. Morreu na contramão atrapalhando o sábado”.


Na verdade, vivemos cercados de óbitos commoditizados, sem cara nem desejos. E não sabemos de que forma sair de tão grande e paraplégica falta de competência de atitudes. Morremos de frio na alma e de falta de verdades. De amor encoberto e não depurado pela falta de coragem e por excesso de orgulho. De afeto endurecido e estancado. De gentileza não manifestada numa fala que deveria ser doce. Morremos de egoísmo e de falta de sensibilidade. Morremos de silêncios e escapismos. Não botamos para fora o que não nos agrada por medo de julgamentos. Morremos de preconceitos, de inveja, de ódios e opilações de fígado. E juramos que esses sentimentos, totalmente anti-civilizados e sem elegância, se manifestam e pertencem apenas aos outros. Também se morre de arrogância, de presunção, de soberba. Morre também quem permite que a paixão morra no sexo e que faz amor fingindo prazer, como quem come um mil folhas com o nariz completamente entupido.
Muita gente também morre de mediocridade. Pessoas que não são capazes de reconhecer o valor e os grandes feitos do outro. Sem saber que esta atitude só demonstra sua fraqueza comissiva de alma e que a mediocridade anda de mãos dadas com inveja. Muita gente morre de orgulho e nunca pensa na possibilidade de ceder. Gente que nunca conheceu a grandiosidade do ato de perdoar, do conforto de um abraço de perdão e do discurso sem máscaras.
Urgente! É preciso ter coragem e força de personalidade para olhar para dentro de si e, identificar essas pequenas mortes diárias. Fazer delas o combustível para catarses existenciais que melhorem cada um como ser humano. Que nos possibilite ver e ter uma vida com mais honestidade, ética, sensibilidade, poesia, densidade e amor. Ter a coragem de trocar nossas pequenas mortes de cada dia por sobressaltos cheios de cores, beijos úmidos e risadas altas, prontas para ocupar os palcos de uma vida mais verdadeira e se refestelarem soltas ao sabor do vento sem nenhuma amarra ou máscara. Vida longa e muito amor a todos que se dispuserem ao desafio.










14 comentários:

Jeanne Geyer disse...

perfeito texto, somos assim mesmo, por mais que queiramos nos apegar às rotinas, todos os dias morremos para algumas atitudes e formas de encarar a vida, até para dar espaço para novas experiências. eu acho fantástico! estou com novo endereço: http://caoticossemrumo.blogspot.com.br/
bjs

chica disse...

Beth , esse é um tema que sempre nos interessa. E não podemos deixar que a tristeza e desesperança se instalem e façam morada em nós. Não podemos ficar amargos, azedos, tristes. Vamos que vamos, vendo o que não nos agrada, sabendo ver e reclamar., lutar pra que as coisas melhores,mas sem perder momentos de nossa vida que não voltam mais! beijos,tuuuuuuuuuuuuuuuudo de bom, lindo fds! chica

chica disse...

Beth , esse é um tema que sempre nos interessa. E não podemos deixar que a tristeza e desesperança se instalem e façam morada em nós. Não podemos ficar amargos, azedos, tristes. Vamos que vamos, vendo o que não nos agrada, sabendo ver e reclamar., lutar pra que as coisas melhores,mas sem perder momentos de nossa vida que não voltam mais! beijos,tuuuuuuuuuuuuuuuudo de bom, lindo fds! chica

Ivone disse...

Belo post amiga Beth, verdade, precisamos estar sempre lendo e aprendendo, amei assistir ao filme, assim como você, fico a imaginar o que é a coragem, pois é!
A coragem nos ajuda a viver!
Ah, as nossas pequenas mortes, mas viver é um dom como costumo dizer e escrever, sendo assim é preciso ter coragem, muita coragem para não morrer demais!
Abraços linda amiga!

Escritora de Artes disse...

Oi Beth,

Gostei da indicaçao do filme, vou assistir com certeza.

Sobre o texto, simplesmente perfeito..era tudo que precisava ler hoje...

Abçs

Toninho disse...

Um belo desafio do Roberto Beth que você belamente compartilha.
É preciso todos os dias ao acordar dar um banho de alegria em nossa vida, que possa acordar nossos mais belos sentimentos e determinações.
E morre um pouquinho todos os dias e não é fácil mesmo evitar esta morte em vida.
Beth quero agradecer sua bela companhia em mais este ano nesta nossa família e que o Natal aconteça em seu coração no seio de sua família, com a paz e alegria empurrando a cooperação e acelerando a harmonia em cada dia.
Renovada alegria de poder continuar em 2015 nesta sintonia.
Obrigado amiga.
Meu terno abraço mineiro de flor.
Beijo de paz amiga.

Elisa no blog disse...

Não assisti o filme, mas fiquei interessada. Obrigada pela informação. Feliz Natal para v também. Elisa

pensandoemfamilia disse...

Assisti este filme. e falar sobre a morte é sempre difícil. Ela anda a espreita, como vc traz no seu texto, a cada dia com as inércias diante da vida.
Não podemos esmorecer diante dos acontecimentos que teimam bater a nossa porta nos mostrando o que desejamos que não existisse.

Aproveito para desejar a vc e a sua família um feliz Natal repleto de esperanças e amor. bjs

Clara Lúcia disse...

Realmente um texto lindo pra gente refletir.
É um aprendizado diário, uma luta diária pra não deixar a morte nos atingir e nos deixar vivos ainda...

Beth, um Feliz Natal e um maravihoso ano novo! Com muita saúde e paz, pra vc e sua família!
Beijos

Teredecorando disse...

Olá minha amiga,
Devemos mesmo abrir novos horizontes e não deixar a mente absorver somente pensamentos negativos. A vida é muito bela. A morte é um fato, portanto a vida deve ser vivida da melhor forma possível.
Assisti esse filme e assim como você tenho que ver novamente para perceber novos detalhes.
Belo texto.
Desde já, desejo um Feliz Natal!
Beijos mil

Silvana Haddad disse...

Beth:
Aceito o desafio.
Concordo plenamente com a frase: Morremos quando não somos coerentes com o que sentimos.
Autenticidade, espontaneidade e aceitação são as bases para uma existência saudável e digna.
E isso é o que eu desejo á VOCÊ, uma vida equilibrada e plena de satisfação.
BOAS FESTAS!
Bjs.:
Sil

Regina Rozenbaum disse...

Sejamos corajosos, garridos, para receber o novo ano (previsões nada auspiciosas né?!)e cada amanhecer. Bethit_amaaada! Não poderia deixar terminar esse ano sem vir aqui e registrar minha gratidão por seu carinho, amizade (já renovei nosso contrato viu?!) palavras de encorajamento e amor. Desejo um natal de muita LUZ, AMOR E PAZ. Que em 2015 nosso PAI continue a cobrir você e seus amados de bençãos! Beijuuss

Beatriz disse...

Que belo texto e reflexão Beth! Acredito que certas mortes diárias são necessárias. Assim renovamos a vida e seguimos em frente!

Grande beijinho e um Natal bem feliz para você e sua amada família!!!!

<°))))< Bia

Jeanne Geyer disse...

Beth, te desejo um Natal maravilhoso e um próspero Ano Novo! Que em 2015 estejamos juntos na caminhada da blogosfera, tendo em comum fazer de nossos blogs uma forma de expressão e acolhimento. Abraço na alma
http://caoticossemrumo.blogspot.com.br/