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quarta-feira, 17 de julho de 2013

Você se lembra?

(Imagem GuaRantiga-Facebook)

A noite está tranquila, talvez pelo inverno que 'tenta' chegar numa cidade que não tem nenhuma vocação para o frio, mas que segue, embora indolentemente, o ritmo das estações que se repetem a cada ano em todos os lugares.  Eu disse tranquila, mas ainda ouço ao longe, vozes em algum bar ou restaurante e uma ou outra buzina de alguém sem noção que pensa que o ponteiro do relógio está marcando meio dia, mas na verdade já passa de meia noite, porém não há mais silêncio absoluto ou, pelo menos, a ilusão de ouvir apenas o murmúrio de um rio passando ao longe. Não, não há silêncio mais nas nossas cidades com populações superiores a 400.000 habitantes, ainda mais num Rio ou Niterói, cidades inchadas de gente, prédios e carros.

Na coluna de Arnaldo Bloch deste domingo em O Globo, ele fala justamente do peso que os ruídos fora de controle têm na trilha de angústias sobre as pessoas. No Rio, que antes era possível a um morador bem recuado da rua Santa Clara ouvir o som do mar de Copacabana, pois o mesmo alcançava, forte, os sentidos, o som e o ar chegavam aos fundos do bairro e a maresia misturava-se ao aroma herbário da aragem dos morros. Era um tempo em que a cidade, mesmo já crescendo no quesito imobiliário e populacional, era ainda uma cidade silenciosa.
Ele cita os muitos ruídos nocivos e que estão por todas as grandes cidades brasileiras, mas por aqui está num ranking bem mais à frente:  ". . .os motoboys, involuntariamente, maltratam, com um buzinaço incessante, transeuntes, passageiros de coletivos e motoristas com seu medo de morrer, imposto pela pressa gananciosa de seus empregadores.
A polícia soa suas sirenes mesmo sem necessidade e carros de passeio e motos munidos de sirenes aterrorizam a população a seu bel-prazer sem serem incomodados.
O horror começa pela manhã, quando todos os tipos de caminhões de entulho de mudança, de entregas, de lixo, começam a soar os seus detectores traseiros.  A infernal invenção que facilita as manobras de uma minoria de caminhoneiros inflige a milhares de moradores e transeuntes danos irreparáveis ao bem-estar, com consequências imprevisíveis para os nervos."

Eu ouço muito estes ruídos por aqui, mesmo estando no 13o.andar, mas eles sobem invariavelmente e é difícil se acostumar, principalmente quando me lembro dos sons agradáveis que me chegavam na infância, aqueles que entravam pela janela de casa, sempre bem vindos, deixavam um sorriso luminoso na nossa cara e não faziam mal nenhum a mente ou ao espírito.

Um desses sons maravilhosos era o grito do padeiro às três da tarde; Olha o pão! carregando nas costas um imenso cesto cheio de pães fresquinhos e um pão doce inesquecível.  Havia também o amolador de facas que operava uma máquina de barulho estridente sobre uma bicicleta e que logo em seguida, como num passe de mágica, algumas senhoras saiam de casa com  objetos nas mãos para ele afiar. Outro barulhinho simpático para a garotada era o chocalho de um vendedor de pirulitos, não lembro o nome daquilo, mas a criançada toda sabia quem vinha lá na esquina.
E havia o som da máquina de costura Singer de minha mãe que, primeiramente no pedal, depois no motor, fez para mim e meus irmãos roupinhas singelas e muito amorosas.

Um som que ouvi em muitas tardes de verão juvenil foi o da vitrola de uma vizinha em Copacabana que adorava Ângela Maria e todo dia tinha o tal "Babaluuuuuuuu êeeeeeê Babalu!" e eu vivia cantando este refrão debaixo do chuveiro.

E num belo dia meu pai chegou com uma máquina de escrever daquelas antigas, Remington, deu-me de presente, e eu treinava nela depois das aulinhas de datilografia no Senac, então este som também é muito simbólico na minha vida, tanto que o meu teclado no computador é com barulhinho de máquina de escrever, eu gosto, nem quero saber se encho o saco de alguém me ouvindo teclar, mas isso me traz uma recordação maravilhosa.

Os sons de hoje não se assemelham com os de outrora, os personagens são outros, menos românticos digamos assim, muito mudou, mas nossa memória sobrepõe-se em meio a todo este barulho e guardou lá no fundo, para nossa alegria e um pouquinho de nostalgia, os sons que marcaram nossas vidas.

E então eu pergunto a vocês, caros amigos, que sons agradáveis guardam na memória afetiva?

Como assim, não conhece Babalu, clica aí embaixo e, garanto que nunca mais vai esquecer!







18 comentários:

Calu Barros disse...

Deliciosa viagem, Betinha, aos sons passados, momentos afetivos que guardamos numa das queridas memórias.Lembrei-me do padeiro, do vendedor de pirulitos, do afiador de facas...ô saudades destes sons rápidos e marcantes que anunciavam coisas boas, coisas úteis, ritmos cadenciados da vida num tempo mais calmo, mais cheio de significados.
Enquanto, hoje em dia sofremos todas estas agressões auditivas e outras parecidas, no dia-a-dia estressante das grandes cidades.Há seis anos me considero privilegiada por morar num bairro onde o moderno convive com o antigo,e a natureza se sobrepõem aos sons antipáticos da cidade.Em dia de ressaca, ouço o rugir do mar daqui do meu quintal.Ô,alegria!!!

Que os bons sons te acompanhem, amiga.
jkas,
Calu

CamomilaRosaeAlecrim disse...

Acho que vc disse tudo na frase que os sons de hoje nada se assemelham com os de outrora...não mesmo!
Carro de som com anúncios o dia todo passando na rua e o volume alto da música que a vizinha tanto gosta de repetir todos os dias, enfim...
Suas recordações de infância tb são as minhas, principalmente do padeiro e da máquina de costura que minha mãe tanto usava.
Tudo muda e mudou rápido e tentamos nos acostumar, mas a alma as vezes pede o silêncio! Eu sinto necessidade dele!
Beijos e parabéns pelo seu post e texto gostoso de ler!
Boas energias em seu dia e canto de passarinhos!
CamomilaRosa

Maria Luiza disse...

Muito me comoveu vc trazer à tona seus sons e ruídos da infância, pois neles há o ruído da máquina de costura de sua mãe! Nos ruídos de minha infância e de toda a vida há o da máquina de costura de minha mãe também, que conseguiu me diplomar com aquele ruído! Hoje, porém há ruídos nervosos infernizando quem quer o silêncio. Quando a pureza se vai... sobra anarquia. Seu texto é de uma excelência impecável! Beijos amiga!

ManDrag disse...

Babaluuuuuuuuuuuu...

Nem me vou pronunciar sobre a nociva e criminosa poluição sonora...

O som que guardo, não da minha infância mas já adolescência, visto que fui para Portugal com 10 anos, é o pregão vespertino (sim ele passava ao fim da tarde, no regresso da venda, pois morava ao fundo da minha rua) do vendedor de derivados de petróleo (para uso doméstico), sabões, detergentes e demais artigos de higiene do lar, que passava à porta da casa onde vivia com a minha família de acolhimento: "petrolííííííno!" Encantavam-me não só os odores a desinfectantes, mas principalmente a presença do cavalo; era tudo transportado numa carroça adequada ao tipo de mercadoria comerciada. Por vezes a minha Tia pedia para ele me levar na carroça e lá ia eu feliz num curto passeio até ao fim da rua, voltando depois sorridente para casa, para jantar, ver um pouco de televisão e dormir.

Guardamos sempre pequenas glórias dos tempos de infância.

Beijos

Unknown disse...

Nossa que texto mais gostoso de se ler.
E enquanto lia voltei no tempo..
Tem toda razão.. os barulhos dos tempos passados eram barulhos que nos fazia feliz..

Eu me lembro do senhor que vendia quebra queixos.. passava pela rua quase ao fim do dia.. com sua bicicleta, fazendo a festa da criançada..

E quando eu ia passar férias na casa da minha avó.. o cantar do galo.. o barulho da água caindo na bica.. e ao entardecer os grilos e cigarras fazendo a festa..

Ai que saudade.. rsr

Um beijo minha linda.. e uma tarde super especial viu?

chica disse...

Lindo,Beth! Os sons do passado eram legais .O único que lembro de não gostar era o galo cantando.Me dava uma melancolia já em criança,estranho!!

Adorava o sino tocando cedinho e conforme tocava eu sabia que uma freira tinha morrido. Vibrava, pois aí não tinha aula!!rs bjs praianos, aqui tá bom mesmo e respondendo:água quentinha!TRIDI! Escrevo emquanto os guris descansa e o Kiko ronca,rssss...chica

Wanderley Elian Lima disse...

Me lembro de todos esses agradáveis sons que você sitou e também com saudades. Hoje o som infernal das cidades é capaz de deixar qualquer um louco.
Bjux

Maria Célia disse...

Ei Beth
Que texto sensacional, delicioso, também penso desta maneira.
Olha, Beth, o som que guardo na memória é o do padeiro gritando ao longe, que ele estava chegando.
Mesmo morando numa cidade pequena, interior de Minas, já não temos mais tanto sossego e silêncio como anos atrás.
É o preço do progresso.
Beijo

Lúcia Soares disse...

Certamente que o barulho da vida de hoje nos impede de ouvir os sons mais agradáveis do cotidiano. Também me lembro de todos os sons que citou. Havia também o homem que vendia os "bijus" e usavam a matraca para anunciar sua chegada. rs (por aqui, perto da minha casa, ainda passam, às vezes, vendendo algodões-doces também).
Beijo, Beth.

Taia Assunção disse...

Sempre morei em cidades pequenas, em casa, o barulho sempre foi da máquina de costura da mamãe e de panela de pressão no fogão...cheiro de café na cozinha e o radinho de pilha...bons tempos. Aqui no Congo, o barulho continua sendo de panela de pressão, dos meus dedos apressados no teclado do laptop (modernidade) e os empregados gritando em suaíli coisas que não tenho a menor ideia do que seja. Na praia, o som do mar, o farfalhar do coqueiro, coruja...a cadela brigando com o urubu que insiste em revirar o lixo depositado na lixeira, na frente de casa (preciso resolver isso)...só depois da mudança das crias de MG para o ES, é que me dei conta desses barulhos horrorosos das cidades maiores...buzina, funk da pior qualidade, portões se abrindo, caminhões e suas rés...realmente infernal, a vista do apartamento, é maravilhosa...mas para contempla-la em sossego, só mesmo levantando junto com o nascer do sol :-( beijos!

Yasmine Lemos disse...

Os sons que definem nossas historias e mudanças . Seu texto é emoção pura , o padeiro gritando ,lembrei da rua da minha avó , hj só buzinas e ladroes . Meu beijo Beth e um fim de semana de paz

Sileni Machado disse...

Oi Beth, que texto mais lindo e gostoso de ler! Você me levou a uma época de criança em que se ouvia a buzina do homem do algodão doce, lembro-me que saia correndo de casa para alcançá-lo e retornava feliz da vida com o algodão doce que ora era branquinho, ora cor de rosa... bons tempos. O barulho de agora é outro, apesar que onde moro a rua é sem saída, neste bairro a maioria delas são sem saída e por isso não se ouve barulho dos ônibus, caminhões, motoqueiros... mas tem uma população de corujas aqui que anda tirando o sono de mt gente! Elas começam a gritar a partir da 18:30h e vai até às 6 da manhã! Sem parar, os vizinhos já não sabem mais o que fazer, já tentaram mudar o ninho, mas elas acabam voltando e tbm tem as maritacas com seus gritos estridentes, hahaha, mas ao final prefiro o som dos animais do que qq outro!
Bjs querida e obrigada pela sua visita sempre tão querida em meu bloguito! =)
www.viveraprendendo.com
PS: Adorei a oração da Velhinha! rs

Márcia Cobar disse...

Que texto gostoso o seu, querida. Me fez lembrar de dois sons tão engraçados que eu escutava na infância... O primeiro era do leiteiro que, sentado numa carroça, apertava uma buzina de plástico vermelha que emitia um som agudo...
O segundo som que me veio à memória é o grito do picolezeiro. Ele gritava:
- Olha o picolé.
E a criançada respondia:
- Leite de mulher!
Ah, mas criança de interior é, como diz Guimarães Rosa, "tão imaginosa" kkk...
Atualmente não ouvimos som, ouvimos barulho. Um barulho que martela os ouvidos sem delicadeza alguma... Sirenes, buzinas, marteladas da construção civil...
Ao lado do meu prédio, há 2 construções Betinha. Às 8 da manhã começa a barulheira. É horrível.
Na sua casa de campo deve ser uma delícia acordar com o som dos pássaros...
Bjim
Márcia

Anônimo disse...

Muito legal esse texto, Beth, um passado que a gente lembra com carinho, não é? Nossa memória auditiva é mesmo fantástica! Durante a leitura fui lembrando também de alguns sons que marcaram minha infância. O afiador de facas, sem dúvida foi o mais marcante. Eu nasci e vivi bem no interiorzão de Santa Maria - RS, e a maioria dos sons que tu referiste também me foram muito familiares. Lembro dum realejo que passava às vezes e eu adorava o som que ele fazia. E o repicar do sino da MINHA Igreja, na MINHA rua, era demais! São lembranças boas de minha infância que guardo com muito carinho. Mas não tenho saudades. Tenho saudades das pessoas que compartilhavam comigo essas lembranças e que a morte as levou tão cedo. Só isso. Gosto muito dos tempos de agora e, graças a Deus continuo me mantendo conectada com os sons da natureza e ao mesmo tempo posso usufruir dos privilégios que a modernidade oferece e que me fascinam demais. Mas nada veio de graça, lutei muito para isso. Parabéns pelo texto, querida e obrigada por ter me chamado para comentar. (Me deu uma saudade de blogar novamente... rsrsrs)
Bjs
Marli

Cristiano disse...

Caramba... que foto!!!! :D

puxa vida.

Minha memoria afetiva sonora? Chuva e mar... sempre bom!

Anne Lieri disse...

Um texto gostoso de ler e trouxe boas recordações do quintal da casa de minha avó e seus passarinhos, galinhas,vaca...rss...triste essa violencia auditiva que temos que aguentar hoje!bjs,

ML disse...

Sons agradáveis: chuva, latidos, cocoricós (no prédio em frente ao que morei, um belo dia, surgiu um galo (parece que tentou voar do morro e aterrizou no play de um prédio em frente ao meu) que às 5 AM começava a cantar. Semanas depois, apareceu outro. Um "falava": FREDERICO! E ou outro "PETELECO"!
PArece historinha, mas é verdade: o cacarejo dos caras era assim mesmo. Muito engraçado. Eu adorava!

bjnhsssssssss

Selma Helena. disse...

Oi flor!

Que texto lindo!

Moro num lugar tranquilo e longe de barulho, mas o som da infância era o sininho do moço do sorvete. Geralmente passava às 17 horas e era tão bom o sorvete que ele fazia. Sorvete caseiro de fruta. E era justamente na hora que o sol baixava e a meninada toda se reunia na rua pra brincar.

Beijos!

Selma