.....................................................................................................................................................................Porque não só vives no mundo, mas o mundo vive em ti. .....................................................................................................

sexta-feira, 4 de março de 2011

Variações sobre o prazer

Em tempos de BBB poesias soam como algo antiquado! Muitos não gostam, não leem e quando abrem um blog que tem alguma postada, imediatamente se retiram e não deixam comentários. 

Mas vejam o que diz o grande pensador e filósofo Rubem Alves, meu preferido, a respeito disso:


"Faz alguns anos que um grupo de amigos se reúne comigo para ler poesia.  Para que ler poesia?
Para a gente ficar mais tranquilo e mais bonito.  Mas não me entendam mal.  Já observaram os urubus - como eles voam em meio à ventania?
Eles nem batem as asas.  Apenas deixam-se levar, flutuam.  Esse jeito de ser chama-se sabedoria.
A poesia nos torna mais sábios, retirando-nos do torvelinho agitado com que a confusão da vida nos perturba.
Drummond, escrevendo sobre Cecília Meireles, disse: "Não me parecia criatura inquestionavelmente real; por mais que aferisse os traços de sua presença entre nós, marcada por gestos de cortesia e sociabilidade, restava-me a impressão de que ela não estava onde nós a víamos.  Por onde erraria a verdadeira Cecília, que, respondendo à indagação de um curioso, admitiu ser seu principal defeito 'uma certa ausência do mundo'?  Do mundo como teatro, em que cada espectador se sente impelido a tomar parte frenética no espetáculo, sim; mas não, porém, do mundo das essências, em que a vida é mais intensa porque se desenvolve em um estado puro, sem atritos, liberta das contradições da existência".

Pois é isso que a poesia faz: ela nos convida a andar pelos caminhos da nossa própria verdade, os caminhos que mora o essencial.  Se as pessoas soubessem ler poesia é certo que os terapeutas teriam menos trabalho e talvez suas terapias se transformassem em concertos de poesia!
... encontramos essa afirmação de Ghandi: "Eu nunca acreditei que a sobrevivência fosse um valor último.
A vida, para ser bela, deve estar cercada de vontade, de bondade e de liberdade.  Essas são coisas pelas quais vale a pena morrer".  Essas palavras provocaram um silêncio meditativo, até que um dos membros do grupo, que se chama "Canoeiros", sugeriu que fizéssemos um exercício espiritual.  Um joguinho de 'faz de conta'.  Vamos fazer de conta que sabemos que temos apenas um ano a mais de vida.  Como é que viveremos sabendo que o tempo é curto - tempus fugit?

Aí eu comecei a pensar nas coisas que amo e que abandonei - vejam só: neste exato momento me dei conta de que, por causa desta crônica, não liguei a fonte que faz um barulhinho de água e nem pus nenhuma música no meu tocador de CDs, a pressa era demais, a obrigação era mais forte.

Tudo bem agora, a fonte faz o seu barulhinho e o Arthur Moreira Lima toca minha sonata favorita de Mozart, em lá maior, KV 331 - coisas que amo e abandonei.  Eu, mau leitor de poesia!  Poesia lida e não vivida!  Não levei a sério o dito pelo Fernando Pessoa: "Ai, que prazer não cumprir um dever.  Ter um livro para ler e não o fazer! Grande é a poesia, a bondade e as danças ... Mas o melhor do mundo são as crianças..."


(Livro Variações sobre o Prazer-
Rubem Alves - pág.11 e 12)


Portanto, se não quiser ler, ouça, e deslumbre-se com as palavras.



Reinvenção


A vida só é possível reinventada.
Anda o sol pelas campinas e passeia a mão dourada pelas águas, pelas folhas. . .
Ah! Tudo bolhas que vêm de fundas piscinas de ilusionismo... – mais nada.
Mas a vida, a vida, a vida, a vida só é possível reinventada.
Vem a lua, vem, retira as algemas dos meus braços.
Projeto-me por espaços cheios da tua Figura.
Tudo mentira! Mentira da lua, na noite escura.
Não te encontro, não te alcança...
Só - no tempo equilibrada, desprendo-me do balanço que além do tempo me leva.
Só - na trevas fico: recebida e dada.
Porque a vida, a vida, a vida, a vida só é possível reinventada.
Cecília Meireles



15 comentários:

Bia Jubiart disse...

Boa noite Bety!

O refletir, o pensar, o pará faz toda diferença... Um ano de vida? Nossa até me assustei! Realmente o que é essencial se torna necessário e imediato.

Acredito que quem escreve tem um mundo paralelo, individual, onde os sentimentos se formam...

Um fim de semana poético p/ vc.

Beijosssss

pensandoemfamilia disse...

Que muitos poetas nos inspirem e que a que reiventar a vida possa trazer mais curas da alma.
Bjs,
Bom descanso.

Obs.Pode me dar notícia da poossibilidade de se fazer um passeio à Petrópolis.
Todos os anos ( no carnaval) vamos um dia a uma das Serras para um passeio. Este ano estamos com receio.
Isto pode apagar docomentártio,só me dá uma reposta, se possivel nomeu espaço.

Beatriz disse...

Que delícia de ler Beth!
Adoro poesias e também boas crônicas. Aliás acabo de ler um livro ótimo de Rubem Alves: "Ostra feliz não faz pérola".... e é a mais pura verdade!!!
Beijocas
Bia
www.biaviagemambiental.blogspot.com

Glorinha L de Lion disse...

Esse Rubem Alves é mesmo um homem sábio...quantas vezes ao longo da vida nos deparamos com a impossibilidade? Com o intangível, com o inalcançável? E, nesses momentos só a poesia nos salva. Só ela para nos levar tal como os pássaros a voar, voando sem sentir que o fazem...só a poesia para nos fazer ver a dimensão de quem somos...Amei! e amei tua declamação do poema da Cecília...beijos, boa viagem!
PS: viu só? não consegui colocar nenhum template bonito no meu blog...ficou aquela joça...mas ainda descubro, ora se não...hehe teimosa que sou! bjs,

Ângela disse...

Beth, Nada como os dizeres de Rubem Alves!
Nada como ouvir sua doce voz a declamar Cecília.

beijos e carinhos e um ótimo feriado.

lolipop disse...

Querida Beth,
Quando li seu texto de hoje, lembrei-me do filme do sul coreano Lee Chang-dong, chamado "POESIA", que conta a história de uma mulher com Alzheimer que quer aprender a escrever poemas. Numa entrevista, o realizador diz que sente que a poesia está a morrer, porque está a morrer também o olhar e a atitude de procurar as belezas invisiveis da vida.
Talvez a poesia seja isso...para mim é a expressão da própria vida, e sim, como diz Cecília, a sua reinvenção.
Bem haja por nos trazer poesia!
Beijossssssssssssss

Luciana disse...

Beth, linda crônica.
Eu acho que o BBB já está antiquado, pelo menos as pessoas que são escolhidas para estar ali dentro, a ideia deles de sexo e como deve ser o comportamento feminino está antiquada, ultrapassada, mofada, precisando de um pouco de ar fresco, tanto de um estremo quando ao outro, ou seja, tanto as mulheres que banalizam o sexo por apelar, como as mulheres e homens que acreditam e pregam que mulheres não podem ter uma postura sexual liberal, fazer sexo quando quer e como quer, com tanto que não agrida nem ofenda o outro.

Bom, voltando ao principal que é a poesia. Eu gosto de poesia, mas tem que ser uma boa poesia. Lia muito mais quando era mais jovem, quando era crianca e adolescente. Eu sou uma que geralmente fecho blogs quando vejo poesia, mas eu leio o início para ver se é interessante, não é fecho mesmo. Hoje em dia com essa facilidade de levar a nossa escrita a todos e a qualquer lugar, muita gente escreve poesias, crônicas e até conseguem lancar livros, mas que não agradam, talento não ficou pra todos.

Mas uma boa poesia eu aprecio e muito.

Beijo e um ótimo feriado de carnaval.

Lu Souza Brito disse...

Beth, bom dia!

Adorei começar o meu dia ouvindo sua voz recitar esta poesia.
Quando adolescente eu gostava mais de poesia, depois acabei perdendo o hábito de lê-las, sentí-las. E olha só, foi só com a descoberta da blogosfera (e tantas poesias de diferentes tipos que encontramos por aqui), que voltei a apreciá-las.
Mas sabe, você falou sobre entrar e nao cmentar. Eu leio sempre as poesias, mas nao gosto de comentar - nao sei, não me sinto a vontade. Gosto simplismente de lê-las, de imaginar o que a pessoa sentia ao escrevê-la.
Beijos minha amiga! Por aqui....cai chuva.
Delicia para ficar em casa, fazendo nada!

Pitanga Doce disse...

Tanta poesia num sábado de carnaval mais fresco e chuvoso...só um amor para melhorar isso!

Olha Beth, há um blog de uma querida de Sampa que ias adorar. É o Em Prosa e Verso da amiga Dulce. Conheces? Ela transborda Cecília, Drummond, Pessoa e outros. Quando não, é prosa para dar e vender. Vai lá que vai gostar. Está nos meus "blogs amigos".

Beijos e... que chuvinha tão boa, sô!

Pitanga Doce disse...

IH! Que mancada! Já o tens aqui nos teus favoritos! Vou saindo de fininho. hehehe

Bombom disse...

Esta tua reflexão sobre a poesia, soube-me tão bem como um doce a um guloso!Para se fazer ou compreender Poesia, é preciso antes de mais, ter muita sensibilidade. Não basta ter vocabulário e saber jogar com as palavras. É preciso algo mais, talvez um dom especial...aquilo que distingue a técnica, da arte.
Obrigada por teres transcrito o poema da Cecília Meireles, pois eu não posso ouvi-lo nem à tua voz. Com muita pena minha...
Um bom fim de semana. Bjs. Bombom

Maria Célia disse...

Boa tarde, Beth
Confesso que não gostava de poesia até algum tempo atrás.
Ganhei um livro de poemas de um amigo aqui da minha cidade, e fiquei encantada com a beleza.
A partir daí comecei a apreciar poesias, admirá-las, e gostaria tanto muito ter nascido com este dom especial.
Excelente postagem, aliás, tudo que você escreve é sempre muito bom dar prazer vir aqui.
Bjo

She disse...

Queridaaaaaa apesar de ser assumidamente BBBmaníaca eu tb curto uma boa poesia... ;)
Bjo, bjo!
She

Dani dutch disse...

OI web-mãe, tudo bem?
Eu vou ser sincera, passo bem longe do BBB, mas ficava pra fora de todas as conversas na escola e no trabalho, porque todo mundo assistia e depois comentavam.
Gosto sim de poesia, e gosto de ler blogs que tenham poesias. Pois vejo os autores como verdadeiros artistas.
bjuss

ML disse...

Mega sincera e ignorantemente,sou meio preguiçosa com poesias. Mas gosto do modo com que elas são apresentadas no canal Futura. Hoje falaram muito do Drummond e me lembrei, advinha? Daqui, né? bjnhs