A Arte de ser Feliz
Cecília Meireles
Cecília Meireles
Houve um tempo em que minha janela se abria sobre uma cidade que parecia ser feita de giz. Perto da janela havia um pequeno jardim quase seco.
Era uma época de estiagem, de terra esfarelada, e o jardim parecia morto. Mas todas as manhãs vinha um pobre com um balde, e, em silêncio, ia atirando com a mão umas gotas de água sobre as plantas. Não era uma rega: era uma espécie de aspersão ritual, para que o jardim não morresse. E eu olhava para as plantas, para o homem, para as gotas de água que caíam de seus dedos magros e meu coração ficava completamente feliz.
Às vezes abro a janela e encontro o jasmineiro em flor. Outras vezes encontro nuvens espessas. Avisto crianças que vão para a escola. Pardais que pulam pelo muro. Gatos que abrem e fecham os olhos, sonhando com pardais. Borboletas brancas, duas a duas, como refletidas no espelho do ar. Maribondos que sempre me parecem personagens de Lope de Vega. Ás vezes, um galo canta. Às vezes, um avião passa. Tudo está certo, no seu lugar, cumprindo o seu destino. E eu me sinto completamente feliz.
2 comentários:
Ah, Beth
Temos que nos curvar mesmo diante desse lindo texto.
Seu blog está tão lindinho!
Beijinhos.
Sylvia
Pois é, amiga Sylvia!
Lembrei-me desse texto hoje, porque quero incentivar as pessoas a olharem pelas suas janelas (suas vidas) e verem que há sempre coisas muito boas ao redor. Olharem mais a natureza e o privilégio que ainda temos de poder enxergar tantas maravilhas e saber aproveitar melhor a dádiva de "estarmos vivos".
Um abraço prá você, queridona.
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