.....................................................................................................................................................................Porque não só vives no mundo, mas o mundo vive em ti. .....................................................................................................

segunda-feira, 6 de julho de 2009

Saudade é no singular

(Foto Remi Aerts/Bélgica)


"Numa casa portuguesa fica bem pão e vinho sobre a mesa.
Quando à porta humildemente bate alguém,

senta-se à mesa co'a gente.

Fica bem essa franqueza, fica bem,
que o povo nunca a desmente.
A alegria da pobreza
está nesta grande riqueza de dar e ficar contente.
Quatro paredes caiadas, um cheirinho à alecrim,

um cacho de uvas doiradas, duas rosas num jardim,
um São Pedro de azulejo, sob um sol de primavera,
uma promessa de beijos, dois braços à minha espera.

É uma casa portuguesa, com certeza!
É, com certeza, uma casa portuguesa!

No conforto pobrezinho do meu lar,

há fartura de carinho.

A cortina da janela e o luar,
mais o sol que gosta dela...
Basta pouco, poucochinho p'ra alegrar uma existência singela...
É só amor, pão e vinho
e um caldo verde verdinho a fumegar na tigela."



Em algum momento neste final de semana pus-me a cantarolar esta música portuguesa que não me saiu da cabeça depois que li um trecho do livro que levei para as noites tranquilas lá na serra. Os mais jovens que aqui frequentam não devem conhecê-la, mas ela fez muito sucesso no passado e na minha infância, no convívio que tive com várias famílias lusitanas, volta e meia ouvia alguém cantarolando um pedacinho dela. Acho-a linda e tem tudo a ver com o modo de viver dos portugueses, simples e caloroso.


Eu via e sentia como aquelas pessoas tinham amor pelo seu país e viviam contando casos ou recitando versinhos bem ao seu estilo, fazendo comidas com gosto da terra distante(eu adorava a filhóses que Dona Deolinda fazia), usando a maneira de seu povo nas suas expressões do dia a dia. Só agora que entendo melhor a vida, imagino a medida exata para avaliar as suas perdas e seus sentimentos. O Atlântico é o mesmo oceano que separa estes dois países irmãos, mas a cultura deles é muito diferente da nossa e eu não entendia porque moravam todos uns em cima dos outros, quer dizer, construiam sempre mais um puxadinho para um filho que casava ou algum parente que chegava de Portugal. Era um tempo em que a família abrigava as pessoas. Atualmente ainda vemos alguns morando com avós, pais, filhos e netos e, geralmente muito felizes em suas relações afetivas.


Lembrei-me de um fato interessante que um dia uma amiga que nasceu lá, acho que é Trás dos Montes, contou-me. Veio ainda bebê com os pais aqui pro Brasil começarem uma nova vida depois da Segunda Guerra Mundial e, tanto seus pais quanto ela própria sonhavam um dia poder voltar à querida terrinha e reverem os lugares lá deixados, os parentes, suas raízes, enfim. Seus pais foram uma única vez e não mais voltaram, viviam das lembranças e do contato que faziam das cartas e telefonemas. Fincaram os pés aqui na terra brasileira e criaram seus filhos. Assim que teve uma oportunidade foi com seu marido em viagem à Portugal nos idos de 80, levando presentes brasileiros para a avó, tios e primos. Passaram por lá uns vinte e poucos dias, comendo batatas, azeitonas graúdas, bacalhau regado a azeite puro. Depois de uma dezena de dias já estavam enjoados daquilo, pois na aldeia que os parentes moravam não tinha lá muita variedade e quase todos os dias vinham as batatas cozidas, que já não surtiam o prazer das primeiras vezes. Chegaram a ter um certo 'piriri' de tanto azeite que ingeriram. Claro que hoje, até mesmo as aldeias têm variedades comestíveis e até de países distantes.


Mas o que os marcou profundamente foi perceberem que nas conversas com os tios e primos, não eram mais considerados portugueses e sim brasileiros. Ficaram confusos, coitados, pois os dois, ela e o marido, eram registrados como portugueses, viveram aqui no estilo português, com seus pais legitimamente portugueses e com sotaques completamente distintos do português brasileiro que falamos. Voltaram pro Brasil meio decepcionados em descobrirem que não tinham mais uma nacionalidade definida - lá não eram portugueses e aqui não eram brasileiros - foi então que resolveram se naturalizar de vez brasileiros e acabar com essa história.


Hoje, muitos brasileiros sairam do Brasil em busca de novas e boas oportunidades no exterior. Alguns não podem voltar com tranquilidade ou porque estão ilegais ou não têm condições financeiras para bancar passagens de ida e volta facilmente e há aqueles que podem e estão sempre vindo, mesmo vivendo felizes e com as vidas estabelecidas, às vezes até famílias prontas com filhos nascidos em outro país, mas todos, sem exceção, volta e meia usam a palavra que só existe na nossa língua e que é usada no singular para expressar tudo aquilo que vai na alma com relação ao Brasil - Saudade - sem o s, pois saudades, no plural, são lembranças, cumprimentos que se mandam.


Vejo que ocorre então um movimento contrário aquele do meio do século passado e que com a globalização fortaleceu-se em todo o mundo. Penso, como será a visão daquele que passa muitos anos fora daqui e quando retorna, mesmo vindo com tanta saudade, o que sente diante do país atual que também está diferente nas mudanças sociais e culturais, devido a todo este movimento global! Por um acaso sentem-se assim, meio divididos, brasileiros lá fora e aqui um estrangeiro?!

"Onde você se encontra, onde você está, é exatamente aí que está sua vida, não importa quão penosa esteja sendo ou quão prazeirosa. Isso é o que é."
(Taizan Maezumi, Ensinamentos da Grande Montanha, Editora Religare)

(Ao fazer este post lembrei-me com saudade de meus amigos de sempre, portugueses e brasileiros de coração, e homenageio Dona Deolinda, Sr. João, Tereza, Lourdes, Belarmino, Maria, Fátima, Vera, Sr. Ernesto, Dona Rosa, Sr. Joaquim e Dona Alina).






25 comentários:

aminhapele disse...

Gostei do seu poste e,no essencial,estou de acordo.
De facto,apesar de toda a nossa proximidade,temos uma cultura e,acima de tudo,uma maneira de estar na vida diferentes.
Claro que o tempo da "casa portuguesa" já lá vai,felizmente.A interpretação que faz da letra da canção é muito diferente da que eu faço.Eu "senti-a" aqui na terrinha.Quando se "sente" de fora,mesmo pelos portugueses emigrantes,a interpretação é diferente.Esses tempos,da pobreza e miséria,do analfabetismo,do país orgulhosamente só,do país dos 3 F's(Fátima,fado e futebol),não me deixam quaisquer saudades...
Este é um desabafo de quem viveu,cá dentro,nesse tempo.
E vai direitinho,aqui do Algarve,com um abraço.

Luma Rosa disse...

Eu lembro da melodia, mas já não sabia a letra e agora lendo, foi tudo novidade e é muito bonita!

Saudade é coisa complicada! Às vezes sentimos saudades de coisas que já não existem mais, como alguém que morreu, por exemplo.

Uma pátria pode morrer para nós? Acho que sim, se a decepção for muito grande. E para não deixar a pátria morrer, talvez fosse melhor morrer de saudades.

Muitos brasileiros se decepcionam quando retornam ao Brasil, outros não. Tudo depende da vida que levaram fora do Brasil e da que tiveram aqui antes de irem para o exterior.

Tenho um amigo italiano que agora se acha brasileiro. Não quer voltar nunca mais para a Itália, porque? Ele era filho único, ficou orfão de pai e mãe e criado pela tia. Só existia a tia, mais ninguém! A tia morreu. Morreu a família, morreu vontade de retornar à Itália.

Acho que é isso, saudade está ligada à aconchego familiar!

Boa semana! Beijus

Beth/Lilás disse...

Caro Rui,
Relmente a letra da música deve ter sido sentida de maneiras diferentes daqueles que estavam dentro, com as dificuldades que eram do momento e daqueles que aqui estavam, saudosos, mas com vidas novas, porém muito difíceis também, pois a vida para eles no início de Brasil não foi mole!
Obrigada pelo abraço vindo do lindo e ensolarado Algarve!
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Luma,

Tens razão! Meus avós, por exemplo, vindos da Itália não tinham a mínima vontade de lá voltarem, devido às tristezas e dificuldades da 2a.guerra, por isso, acho, esqueceram de vez tudo aquilo e morreram felizes aqui.
beijão
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Somnia Carvalho disse...

Lindissimo post super Lilas!

inspirado e inspirador!

talvez eu continue a ideia no borboleta tombem! e recontinue...

Sim, o que sinto e como se quando visitasse o Brasil, exatamente como seus amigos portugas, eu nao fosse mesmo mais brasileira. Nao como era...

aqui tb nao sou completa, faltam os meus, a lingua, a cultura embora eu me adeque super bem e seja tao feliz...

duplos sentimentos... completude e vazio... identidade e perda de identificacao...

angelo n me deixa escrever ais... bjjjjs

Somnia Carvalho disse...

Acho que a musica era cantada pelo Roberto Leal nao era? eu achava essa musica tom linda!

http://saia-justa-georgia.blogspot.com/ disse...

Beth querida, que post magnífico.

Eu me lembro bem da música minha mae a cantava apesar de ser brasileira. Meu pai era um legítimo português vindo De Trás dos Montes, Vila Real; chegou no Brasil com meus avós com 12 anos; aos 21 ele se naturalizou, nunca voltou à Portugal; ele dizia que nao conhecia ninguém lá; mas tinha saudades dos verdes campos daquela regiao, sempre falava sobre isso.

Eu, já por outro lado, me sinto estrangeira no Brasil, os quase 16 anos na Alemanha deixam uma margem enorme de distância. Mesmo que isso tenha melhorado muito com o blog, ligar para minha família toda semana, a gente aprende e apreende muito da outra cultura; nao temos como negar. Por outro lado nossos amigos no Brasil também nao conseguem nos entender; pensam que estamos dando ataque de bestialidade; mas na verdade nao é; quando voltamos ao nosso país, mesmo em visita, percebemos com tristeza o quanto as pessoas no Brasil, continuam vivendo querendo dar "aquele jeitinho", o que nós que vivemos aqui fora, nao contamos mais com isso. Acreditamos muito na nossa forca, acreditamos muito que temos que meter a mao na massa se queremos alguma coisa melhor na vida.
Mas eu, procuro aproveitar o m´ximo quando estou ai na minha terrinha. Talvez os 3 primeiros dias ainda me choco, mas depois eu digo: Eu estou de férias e nao vou mudar esse país, entao aproveite tudo, rs.

Parabéns pelo post, maravilhoso.

Um beijao

Laura disse...

Nossa Beth, tão profundo é muito emocionante seu post meus olhos estao aqui cheios de agua e nem sie o que dizer.

Estou aqui ha pouco tempo, mas ja sinto essa sensação de nao caber em lugar algum. Gosto daqui, cada dia que passa me sinto mais habituada e acostumada com tudo. Sinto saudade de muita coisa, no entanto das vezes que fui ao Brasil ja senti que tudo mudou.

Beijosss

Luciana disse...

Sinceramente não sinto saudade do Brasil, mesmo tendo tido uma vida muito boa lá, muito alegre e animada, mas foi um tempo que passou e não volta mais. Na minha cabeca o Brasil é um lugar, igual a outro do mundo, assim como o lugar onde vivo, provavelmente se mudasse pra outro lugar e tivesse a vida tão boa quanto tenho aqui, não sentiria saudade da Noruega também, mas isso tem muito a ver com minha personalidade.
Vou ao Brasil a cada dois anos, mas somente mesmo pra ver minha família. Muitos brasileiros que vivem aqui comentam dessa saudade, saudade do lugar, da comida, da ida à praia nos domingos, do encontro com amigos, etc, coisas que para mim não seriam mais da mesma forma, o mundo gira e as coisas mudam e novas acontecem. Aquela tarde de domingo tomando uma cervejinha e comendo camarão com as amigas na praia, foi muito boa, fica na memória, mas se eu tivesse lá não estaria mais acontecendo, as pessoas não estão mais lá, assim como eu não estou.
Também não sou muito patriota, e também acredito que se a gente sai de uma situacäo boa no nosso país e vai ter uma negativa em outro, claro que vai ter a tal saudade, mas se voltarmos, nada mais é igual.
Em conversa com brasileiros que estão aqui a mais tempo que eu, e outros nem tanto, vejo que alguns falam de um Brasil que não existe, tendem a apagar na memória as coisas negativas, enaltecer as positivas, e também não perceberem as mudancas, talvez por não terem contato, como eu tenho pois sempre leio blogs, sites, e vejo TV brasileira, e outros mesmo indo todo ano ao Brasil, um mês de férias não dá pra percebermos os acontecimentos.
Ih, escrevi demais.

Beijo

dani dutch disse...

Beth, tudo bem?
Estou com quase meus pezinhos aí ... sabado eu chego,
Sempre tive um sonho de morar for do Brasil, de trabalhar com relacções internacionais, alguma coisa desse tipo...
Prestei vestibular e não formou a turma, optei por Administração, depois corri pra pós-gradução, também não formou a turma, optei por Recursos Humanos, mas não gostei do curso e fui pra Unicamp fazer Qualidade de vida na Empresa.. quando estava quase terminando o curso, não estava feliz comigo mesma, estava faltando alguma coisa. Fui corri atrás,e pedi pra DEus me guiar para o melhor caminho e hoje estou aqui na Holanda.. Gosto do friozinho daqui, gosto daqueles dias nublados...Os meus amigos, minha família toda dizia que eu não passaria dos 3 primeiros meses, mas acredito que por tudo que vivi no Brasil, as decepções com meu emprego.. que não era bem aquilo que eu queria... meu pai que bebeu durante 23 anos dos meus 25 atuais.. Acredito que tudo isso me fortaleceu ainda mais pra buscar e correr atrás do meu sonho.
Mas eu sinto falta do Brasil, sinto falta dos meus pais, da minha família dos amigos, mas quando em penso em tudo que eu passei e sofri.. tenho mais vontade de ficar aqui.
Mas não sei o dia de amanhã, como será, se um dia vou voltar ou não.
Bjusss

Kálita disse...

Ai Beth, uma coisa estranha no coração.talvez consegui sentir um pouco do que seu texto sugere.
Saudade...sentimento que evoca tantos outros...

Gostei muito

beijos

ML disse...

Legal esta análise, Beth: quem vive em outro país, fica um pouco "estrangeiro" lá e na sua terra também.
O turista tem seu charme, geralmente é tratado muito bem e muita gente ajuda.
Mas um expatriado sofre preconceitos.
Acho que não no Brasil, onde a gente acha um charme alguém pedir "caipirrinha" e se desdobra para entender o que o sujeito quer dizer.
Coisa de povo colonizado ou gentil por natureza?

bjnhs

Lucia disse...

Olha Web-mae, minha resposta daria um post inteiro, mas deixa eu tentar dar a minha versao:

Por onde comecar? Eu sai dai um mes depois que completei 17 anos. Chorei horrores, fiquei deprimida nos primeiros anos fora, pois tinha minha vidinha no Brasil, sabe? Tinha acabado de me formar no segundo grau (e nem tive oportunidade de fazer vestibular, pois nos mudamos literalmente assim que me formei).

Acabar o segundo grau em si, ja eh uma grande mudanca na vida de uma pessoa, pois voce nao vera mais todo dia aqueles amigos com quem estudou junto desde os 9 anos de idade ou tera uma vidinha igual de ir todo dia pro colegio estudar e nao ter mais nenhuma outra responsabilidade.

No meu caso, alem dessa fase estar acabando, eu ainda recebo a noticia de que minha familia estaria se mudando de pais. E ai? E meu namorado de 2 anos e meio da epoca? Confesso que foi muito, mas muito dificil no comeco.

Mas quando comecei a me abrir e realmente aceitar o fato que estava tendo uma oportunidade nova (isso meses e anos ja depois de estar aqui), foi quando tudo comecou a melhorar.

Se voce se muda e nao comeca a tecer uma vida, tudo continua ruim e a saudade do pais e da vida antiga te devoram. Eu comecei a fazer amizade, fazer faculdade, arrumei meu primeiro empreguinho... essas coisas foram mt gostosas e fui me entrosando, aprendendo e crescendo cada vez mais. Vivia a experiencia e as oportunidades que eram me dadas sem questionar como seriam se estivesse no Brasil.

Eu acho que ter a minha familia do meu lado fez toda a diferenca do mundo em eu conseguir criar raizes aqui. Aqueles que aventuram um pais novo sozinhos e conseguem fazer uma familia e ter uma vida legal, deixando os pais e irmaos pra tras, tenho que tirar meu chapeu pra eles, pois nao eh facil.

Hoje em dia, depois de quase 17 anos morando fora do Brasil, eu me sinto em casa aqui. Me sinto que realmente achei meu cantinho no mundo e eh onde pertenco. Nao me sinto estrangeira de maneira alguma e eh raro alguem me perguntar da onde sou, pois meu sotaque eh muito sutil.

O que sinto em relacao ao Brasil? Vivi a melhor epoca da minha vida ai. Minha infancia, minha adolescencia... fiz amizades que tenho certeza que durarao pro resto da vida. Tenho saudade dessa epoca, desses momentos, mas se fosse voltar hoje em dia, me sentiria como um peixe fora d'agua. Sabe por que?

- Primeiro: Nao tenho familia onde nasci e cresci: no Rio e Niteroi. Meus parentes sao todos de SP e MG.

- Segundo: Nao teria ninguem ai, pois meu pai e minhas irmas moram aqui e nunca voltariam pro Brasil. So teria meus amigos que apesar de queridos, tem suas proprias vidas.

- Terceiro: que tipo de vida levaria ai? Sozinha, tendo que reaprender a viver num pais que nao eh mais familiar pra mim, pois lembre-se que sai com 16/17 anos e nunca trabalhei, nunca dirigi, nem vivi uma vida adulta ai. Acho que ate estragaria as memorias tao deliciosas que tenho de quando cresci no Brasil.

- Quarto: estou acostumada com tudo sendo facil: com as oportunidades, conveniencias, eficiencias, paz... moro num pais onde posso dizer que sou mimada, pois nao ia conseguir lidar com certas burocracias brasileiras (as que meus amigos e pai me falam a respeito).

Nao conseguiria lidar com a violencia, pois aqui eu posso sair pra onde quero, usando o que quero, com um carro legal novinho em folha sem me preocupar com nada. Como conseguiria acostumar com algo diferente?

Continua...

Lucia disse...

Tive que postar em duas partes pois escrevi demais e o blog nao estava aceitando meu comentario, hahaha.

Continuando:

A saudade que tenho eh mesmo da vidinha que levava ai, aquela vidinha de crianca e adolescente sem responsabilidade alem dos estudos. Saudades dos maravilhosos amigos que fiz naquela epoca e que fazem parte da minha vida ate hoje (sao eles que fazem meu coracao doer de saudade, e nao o pais em si).

Tenho saudade dos lugares onde vivi, frequentei com aqueles que amo, por onde passei, por onde andei! Parece que cada um desses lugares me faz voltar no tempo, pois tenho muitas lembrancas boas em cada cantinho.

Sao as pessoas ao seu redor que fazem toda a diferenca do mundo. Foram essas que me deram as melhores memorias que tenho daquela epoca e sao as pessoas que tenho aqui do meu lado que me faz sentir em casa. Voce cria raiz, voce cria um laco forte e conecta com o lugar onde mora, pois essas pessoas estao ali tb, sabe? Se pudesse ter meus amigos aqui juntinho de mim, nossa!!! Seria mais do que perfeito!

Pra ilustrar mais ainda o que quero dizer, darei o exemplo das minhas irmas. Quando saimos do Brasil, Alice e Laura tinham 14 e 10 anos, respectivamente. Nao fizeram lacos fortes de amizade como eu, nao passaram por certas coisas de colegio com a mesma turminha desde a quinta serie ou mais, como eu passei.

Elas nao tem vontade nem de visitar o Brasil, pois nao formaram um elo muito forte assim, sabe? Sei que Alice ainda tem uma certa saudade, mas saudade da nossa vida de antigamente. E eh dificil pra ela voltar pro Brasil agora que perdemos nossa mae, pois absolutamente tudo la a faz lembrar da mamae. E isso eh doloroso pra Alice - outro motivo que a faz nao ter vontade de voltar ao Brasil.

Agora a Laura, saindo de la com 10 anos de idade, ela nao criou raiz nenhuma. E diz que nao tem vontade de sequer visitar o Brasil.

Entao eh isso. Falei que meu comentario seria tao longo como um post? Posso dizer que hoje em dia, apesar da saudade dos amigos, dos parentes, dos lugares onde vivi e cresci e apesar de tb ser brasileira, eu nao me sinto mais em casa no Brasil.

As coisas familiares como sons, cheiros, gostos que experiencio quando estou no Brasil, alegram meu coracao, mas sao coisas que fazem as memorias do meu passado vir a tona. E isso eh muito bom tb e a razao pela qual acho importante voltar pro seu lugar de origem de vez em quando.

bjinhos

Sonho Meu disse...

Amiga,
Saudade pode ser escrita de diferentes formas conforme a lingua que se fala...mas o sentimento é o mesmo em cada coracao.
Eu vim pra cá no ano 2000. To completamente adaptada aqui. Amo esse país, mas tambem tenho meus laços de sangue com o Brasil que é minha terra mae. Uma vez por ano volto lá pra matar as saudades e rever todo mundo. Com referencia a Portugal, já viajei duas vezes pra lá e tambem adorei o povo, a terra, a comida... tudo reunido faz um país muitissimo lindo. Estamos pensando até em passar uns anos por lá quando o mariudo se aposentar. Em Portugal, cada cidadezinha tem seu charme e em cidades maiores como Lisboa e Porto, encantos e fascinios te deixam boquiabertos, como a casa do fado, os casaroes antigos, os bares, os restaurantes a comida estraordinariamente gostosa.Me apaixonei por Portugal.Amei seu post.
bjs,
me

Anônimo disse...

Eh assim mesmo que nos sentimos...
E engracado que eu nunca tinha pensado nisso assim dessa maneira.
Aqui, me sinto brasileira. Gosto de tudo brasileiro. Mas tenho certeza que se for ao Brasil, vou me sentir um peixe fora dagua, jah querendo voltar "pra casa", pois sinto que aqui agora "eh" a minha casa. Mas eh uma sensacao diferente... Legal vc aborbar esse tema... As vezes nem penso muito nisso pra nao ficar nostalgica e consequentemente bater a tristeza...
beijos web-mamaezinha.
=o)

Camila Hareide disse...

Puxa vida, Beth... Agora fiquei pensativa! Passei quase 9 anos rodando o mundo sem me fixar, vida de marinheira, né? E a cada 6 meses voltava pra casa por 6, 8 semanas. E sempre senti saudade sim. E essa saudade tem muito a ver com a família, como você disse...

Agora que mudei de vez, estou aqui pensando se isso vai acontecer, ficar no limbo, semse sentir pertencendo a lugar nenhum. Mas de novo, a sensação de pertencer está relacionada com aconchego, família, amor. Ao se estabelecer numa nova família, num novo lugar, acho que a pessoa deve deixar pra trás certas memórias, ou nunca conseguirá ser feliz de verdade.

Saudade das coisas boas é inevitável - até os que permanecem a vida toda no mesmo lugar tem sempre saudade (de um tempo que não volta, da infância, dos parentes falecidos, enfim...), não tem?

Colocação profunda a sua,me pegou pelo pé!

Eduardo disse...

Ola, Beth, estou entrando de penetra no seu blog, porem ja experimentei seu conteudo em algumas ocasioes e gosto muito do pensamento expresso nos temas que voce apresenta.

Saudades! Saudade que se sente! O passado!

Para buscar ilustrar essa sensacao recorro ao poeta Casimiro de Abreu, da Barra de Sao Joao, RJ e que, embora falecido de TB com apenas 21 anos, deixou este tesouro de emocao referindo-se aos seus 8 anos - e que se aplica a todos nos;

Meus oito anos

Oh ! Que saudades que tenho
Da aurora da minha vida,
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais!
Que amor, que sonhos, que flores,
Naquelas tardes fagueiras,
À sombra das bananeiras,
Debaixo dos laranjais

……………………

Mudar de pais eh como mudar de cidade so que mais radical. O resultado sera o mesmo conforme a maneira de ser de uma pessoa. Quem nao esta afeito a mudancas e teima em viver do passado nao consegue viver bem. Passa a amargurar o que nao tem e depreciar o que tem. A medida que vivemos vamos construindo uma historia: pessoas, lugares e acontecimentos, e o que vem a mente sao sempre as memorias mais marcantes sejam elas positivas ou negativas. A saudade eh a ausencia do que foi positivo; mesmo na morte, temos saudade da pessoa quando estava viva e somente das coisas boas com as quais ela esta associada. Visitando a localidade do passado, inconscientemente esperamos encontrar como deixamos, como esta registrada em nossa mente e a decepcao sera tanto maior quanto maior for o intervalo, pois na vida, como em todo o universo conhecido, o processo eh dinamico e esta sempre em mudanca.
Para se viver bem acredito em viver o momento, onde estamos e com quem estamos e usufruir o mais possivel do que existe de positivo, sem comparacoes ou avaliacoes de valor: devemos usufruir a realidade.
A memoria nos fara sonhar com as boas recordacoes e isso eh otimo pois significa que fizemos muita coisa positiva em nossa vida. Eu vivo em Pittsburgh, USA, desde 92 e estou muito bem aqui, assim como ja estive bem no Rio e Niteroi (trabalhando), em Itajuba (MG) (estudante universitario), em Santos (infancia e juventude), em Laranjal paulista (fazenda do meus tios), Sao Paulo e outros. Todos esses lugares deixaram otimas lembrancas, porem pouca coisa permanece como era; esse passado intacto so existe em minha mente e assim protegido permanecera para sempre. Viajei e viajo muito pelo mundo (em media mais de 100 mil milhas de voo por ano) e conheco muitas culturas, cada uma com sua particularidade e todas em constante mutacao. A brasileira nao foge a regra e se muita coisa basica ainda permanence – afinal estamos falando de memorias de uma geracao apenas – a maior parte dos detalhes esta diferente e, por isso mesmo, eh um motivo maior de conhecer e apreciar. Nao devemos esperar encontrar o passado mas conhecer o presente e compara-lo de forma positiva com o passado; com isso evitamos decepcoes.
Sou brasileiro e mantenho a tradicao da familia que la chegou em 1624, e tambem sou Norte Americano pois moro aqui, e porque nao? Curto todos os paises e tambem observo os problemas que tem em maior ou menor grau, porem acredito na evolucao deste primata do qual somos parte e da sua capacidade de se superar com o passar do tempo.

Saudade eh bom e todos nos temos, o que fizermos com ela dira se seremos capazes de sermos felizes ou nao.

Fecho com um trecho de “A Valsa” do mesmo poeta (afinal todos tivemos um namorico de infancia e juventude, nao?)

Quem dera
Que sintas
As dores
De amores
Que louco
Senti!

Quem dera
Que sintas!...
— Não negues,
Não mintas...
— Eu vi!...

Um abraco
Eduardo

Beth/Lilás disse...

Oi, Eduardo!
Poxa, é um prazer tê-lo aqui neste pedaço, enriquecendo com suas palavras sábias e vida bem vivida deixando o seu comentário sincero.
Obrigada!

Você, como as demais que aqui deixaram seus comentários, têm uma coisa em comum que é estar consciente de que estão fazendo para as suas vidas um mundo num momento melhor e por isso a saudade não é tão sentida, porque estão bem onde estão.

Ótimo isto, e é o que desejo a todos que vão daqui para tentar uma vida melhor!

Abri este post, para dar oportunidade de ver aqui reunidos todos os amigos que estão longe, mas sempre perto através da troca de informações e palavras amáveis e educadas.

De minha parte concordo com o início do provérbio: "A felicidade está onde nós a pomos"

abraço a todos e obrigada pela participação.

Fátima disse...

Olá minha queridinha!!!
Emocionante seu post e muito verdadeiro. Meus pais tb sentiram a esquisitice, de serem considerados "brasileiros" em Portugal. Lendo as respostas de seus leitores, percebo a singularidade no sentir de cada um e aqui tb não é diferente, meu pai é muito mais saudoso de sua "terra" do que minha mãe.
Ouvi muitoooooooo essa música e outras tantas, na época em que Roberto Leal morava aqui e lançava seus discos meus pais sempre compravam. Outro ponto que reconheço em minha família e em outras familias portuguesas, é esse querer estar junto, ou melhor, viver junto. Será que herdei isso? Rsssssss...
Vou mostrar o post para meus pais, e muitoooooo obrigada pela homenagem, vão ficar felizes com seu carinho.
Mil beijinhos com SAUDADE!!!

Eduardo disse...

Beth, conforme falamos hoje, fui rapidamente ver o video das lesbicas na propaganda de sapato. Confesso que demorei um pouco para perceber a associacao (eh a idade...), mas depois me deu um estalo;

SAPATÃO ...

Tem tudo a ver...

Um abraco
Eduardo

Heloísa Sérvulo da Cunha disse...

Beth,
Adorei seu post. Eu penso muito nesse assunto, e estava esperando uma ocasião para fazer um post sobre ele.
Uma vez ouvi uma brasileira, que transferiu residência bem jovem para a França, acompanhando seus pais, dizer que na França sentia-se brasileira, e no Brasil, quando vinha de férias, sentia-se francesa.
Acho uma situação bem complicada, que é facilitada quando a pessoa está acompanhada pela família, ou quando constitui uma família.
Beijos.

Ciça Donner disse...

Beth quando a gente sai do Brasil nos transformamos em NADA. Somos estrangeiros nos dois paises e ficamos completamente mimados querendo juntar as coisas boas de cada pais e formar um terceiro onde, quem sabe, finalmente seriamos considerados cidadao

gabriela disse...

Olá amiga adorei o teu post, essa canção é linda sabes quem cantava uma casa portuguesa? Amália e depois o Roberto Leal adaptou para ele.
Olha eu tenho muitos amigos Brasileiros, que moram cá eu adoro a vossa cultura, a vossa maneira de ser, afinal somos um País irmão.
Beijo

Mírian Mondon disse...

Muito interessante seu post e essa observaçao sobre o desenraizamento. Tenho uma postagem sobre o assunto no meu blog Tudo Sobre Imigração.
Vou colar uma parte aqui:

- Nunca fui imigrante antes, mas vivi por alguns anos na Europa, o que poderia chamar de imigracao temporaria. Como fiquei quatro anos sem voltar ao Brasil, conheci algumas das principais caracteristicas da vida de imigrante, a perda de contato com a historia do país, o desenraizamento, a sensaçao de nao fazer mais parte de lugar nenhum!

Isso é um fato, nos desvinculamos do nosso país de origem, e por mais informação que tenhamos sobre o nosso país, deixamos por algum tempo de fazer parte da sua historia... Mas sem dúvida quanto maior o tempo passado fora, maís pronunciada é a crise.

Beijos e otimo final de semana!

anlene gomes disse...

Oi Beth, que bonito post! Não deu tempo de ler todo os comentários e talvez repita opiniões. Acho que depois de viver muito tempo fora, a gente acaba ficando desatualizada, mas não deixa de ser brasileira. É claro que ganha distância e ao voltar leva um tempo pra se adaptar, mas isso é normal. O mais chato é que vamos de férias e não dá mais tempo de fazer tudo o que gostariamos, com calma.

Aqui em Madrid, não sou a típica brasileira saudosa, aquela que gosta de ficar 100% ligada no Brasil, mas acho que é importante não perder nossa cultura de vista! Beijos e boa semana pra ti!