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terça-feira, 20 de novembro de 2012

Cozinha Colorida



Se tem um lugar da casa que me atrai sempre, e que inclusive já falei aqui, aqui e aqui, mas volto a falar porque não mudei em nada meu pensamento em todos estes anos, ou seja, continuo gostando cada vez mais de uma cozinha.  Nem sempre para cozinhar, porque não sou muito chegada, porém muito mais para comer ou ficar de papo, conversa fiada de família, café da tarde com uma amiga - lugar aquecido pelas chamas do fogão e do calor humano de quem come junto, ri e conversa sobre a vida.

Reacendeu-me esta paixão por escrever sobre as mesmas, depois que vi as belas imagens na galeria de fotos da Revista Casa e Jardim. Vejam e inspirem-se para uma nova decoração, cheia de cores e aconchegos.













E para mais deleite e inspirações sobre este tema, um belíssimo texto do meu escritor predileto - Rubem Alves.

 A Cozinha

Qual é o lugar mais importante da sua casa? Eu acho que essa é uma boa pergunta para início de uma sessão de psicanálise. Porque quando a gente revela qual é o lugar mais importante da casa, a gente revela também o lugar preferido da alma. Nas Minas Gerais onde nasci o lugar mais importante era a cozinha. Não era o mais chique e nem o mais arrumado. Lugar chique e arrumado era a sala de visitas, com bibelôs, retratos ovais nas paredes, espelhos e tapetes no chão. Na sala de visitas as crianças se comportavam bem, era só sorrisos e todos usavam máscaras. Na cozinha era diferente: a gente era a gente mesmo, fogo, fome e alegria.
“Seria tão bom, como já foi…”, diz a Adélia. A alma mineira vive de saudade. Tenho saudade do que já foi, as velhas cozinhas de Minas, com seus fogões de lenha, cascas de laranja secas, penduradas, para acender o fogo, bule de café sobre a chapa, lenha crepitando no fogo, o cheiro bom da fumaça, rostos vermelhos. Minha alma tem saudades dessas cozinhas antigas…
Fogo de fogão de lenha é diferente de todos os demais fogos. Veja o fogo de uma vela acesa sobre uma mesa. É fogo fácil. Basta encostar um fósforo aceso no pavio da vela para que ela se acenda. Não é preciso nem arte nem ciência. Até uma criança sabe. Só precisa um cuidado: deixar fechadas as janelas para que um vento súbito não apague a chama. O fogo do fogão é outra coisa. Bachelard notou a diferença: “A vela queima só. Não precisa de auxílio. A chama solitária tem uma personalidade onírica diferente da do fogo na lareira. O homem, diante de um fogo prolixo pode ajudar a lenha a queimar, coloca uma acha suplementar no tempo devido. O homem que sabe se aquecer mantém uma atitude de Prometeu. Daí seu orgulho de atiçador perfeito…” Fogo de lareira é igual ao fogo do fogão de lenha. Antigamente não havia lareiras em nossas casas. O que havia era o fogo do fogão de lenha que era, a um tempo, fogo de lareira e fogo de cozinhar.
As pessoas da cidade, que só conhecem a chama dos fogões a gás, ignoram a arte que está por detrás de um fogão de lenha aceso. Se os paus grossos, os paus finos e os gravetos não forem colocados de forma certa, o fogo não pega. Isso exige ciência. E depois de aceso o fogo é preciso estar atento. É preciso colocar a acha suplementar, do tamanho certo, no lugar certo. Quem acende o fogo do fogão de lenha tem de ser também um atiçador.
O fogão de lenha nos faz voltar “às residências de outrora, as residências abandonadas mas que são, em nossos devaneios, fielmente habitadas” (Bachelard). Exupèry, no tempo em que os pilotos só podiam se orientar pelos fogos dos céus e os fogos da terra, conta de sua emoção solitária no céu escuro, ao vislumbrar, no meio da escuridão da terra, pequenas luzes: em algum lugar o fogo estava aceso e pessoas se aqueciam ao seu redor.
Já se disse que o homem surgiu quando a primeira canção foi cantada. Mas eu imagino que a primeira canção foi cantada ao redor do fogo, todos juntos se aquecendo do frio e se protegendo contra as feras. Antes da canção, o fogo. Um fogo aceso é um sacramento de comunhão solitária. Solitária porque a chama que crepita no fogão desperta sonhos que são só nossos. Mas os sonhos solitários se tornam comunhão quando se aquece e come.

Nas casas de Minas a cozinha ficava no fim da casa. Ficava no fim não por ser menos importante mas para ser protegida da presença de intrusos. Cozinha era intimidade. E também para ficar mais próxima do outro lugar de sonhos, a horta-jardim. Pois os jardins ficavam atrás. Lá estavam os manacás, o jasmim do imperador, as jabuticabeiras, laranjeiras e hortaliças. Era fácil sair da cozinha para colher chuchus, quiabo, abobrinhas, salsa, 
cebolinha, tomatinhos vermelhos, hortelã e, nas noites frias, folhas de laranjeira para fazer chá.


****************



20 comentários:

Lúcia Soares disse...

O texto é perfeito, Beth, como todos do Rubem.
As cozinhas, adoráveis, todas, mas muito cenográficas, não parecem "usáveis".
Gostaria de ter uma como a segunda, grande, espaçosa, usando o moderno e o antigo, nos fogões, no móvel lindo de madeira, na geladeira branquinha. São ótimas as cozinhas grandes, onde possa ter uma mesa (a minha não cabe) e se pode ficar de papo, como vc tanto gosta.
Lindas todas as imagens, as cores, a profusão de panelas e enfeites. (Não deu pra deixar de pensar em como limpar aquilo tudo! rsrs)
Beijo!

Misturação - Ana Karla disse...

Ai Beth linda, as imagens são mesmo inspiradoras, mas aqui em casa é uma cozita que não dá nem pra variar.
Acho a melhor parte da casa para um bate papo, cafezinho. Na casa de Mamy a gente só se reúne na cozinha. (risos)
Saudades
Xeros

Somnia Carvalho disse...

Eu adoro cozinha colorida e tambem concordo que o local da casa onde mais gostamos de estar tem a ver com o que somos! pra este fim de ano to pensando numa mudanca na minha cozinha que seria colocar piso xadres preto e branco... e ai umas cores! ai que delicia falar de decoracao1

Somnia Carvalho disse...

Eu adoro cozinha colorida e tambem concordo que o local da casa onde mais gostamos de estar tem a ver com o que somos! pra este fim de ano to pensando numa mudanca na minha cozinha que seria colocar piso xadres preto e branco... e ai umas cores! ai que delicia falar de decoracao1

Maria Izabel Viegas disse...

Beth, sou apaixonada por cozinhas.
Amei todas, ah... uma casa deveria ter muitas cozinhas!!! rsrs
Bem eu tenho aqui a minha que gosto muito, é meu reino. Não é o ponto de reunião pois a sala de jantar é ao lado, a mesa é grande. é o ponto de encontro.
Algumas amigas me diziam que na minha cozinha sente-se a magia. deve ser poi para mim é um lugar de alquimia. Não gosto de ser escrava, isso neca! Gosto de cozinhar e o faço rápido. Uso todas as bocas do fogão e o microondas. E gosto de mesa variada. Todo dia. E eu canto muito!!! Mas detesto lavar louça. Todos já sabem e me ajudam, dividem, é justo!
Outro dia, conto pois foi comédia: perguntei ao meu marido, assim num bate-papo , sempre de manhãzinha, no café, quais as músicas que ele mais gostava. Ele quase não canta. e eu a querer saber qual a sua preferida. Ele me disse: ora, eu gosto de todas que você canta na cozinha. Fico te ouvindo... ah, Beth, deve ser a magia risos!
Você tem bom gosto para tudo, linda. Das cozinhas ao seu autor preferido: Rubem Alves. um texto belíssimo!
Beijos no teu coração.

Unknown disse...

Muito chique seu blog Beth, adoro uma cozinha bem decorada, o ambiente fica alegre e convidativo.. Parabéns!

chica disse...

Lindo texto de Rubens e gosto de cozinhas também. Podem ser aconchegantes e um ótimo local de papos e boas risadas mesmo!!

Gostei das mostradas e pena, em prédios, não temos a chance de tê-las com a porta para o pátio ou hortinha, mas...


beijos,chica

Pitanga Doce disse...

Beth, que post tão gostoso! E pelos comentários e texto do Rubens, até dá para sentir cheiro de café. Olha, quem pode ter uma cozinha espaçosa que dê para "encaixar" um fogão à lenha, é uma sorte de outro mundo. Adoro ver a cozinha do Olivier Anquier em seu programa no GNT. Junta o moderno ao antigo de uma maneira super aconchegante, mas como fazer isto num apartamento? Impossível. Gosto destas imagens que tens aqui, menos a "modernosa" que mais parece ter sido planejada por algum engenheiro da NASA. hehe

Ah, esqueci de dizer que as melhores conversa em familia (quando havia uma) foram na cozinha.

Beijos pitangueiros

Priscila Ferreira disse...

Dinda, sua cozinha é linda!
adorei as imagens, super coloridas, tbm adoro uma cozinha,rs
beijos

Toninho disse...

Beth, venho para deixar um convite no meu blog,mas fique a vontade para aceitar ou não. Volto aqui para ler com calma, mas já adorei a quarta imagem.
Inté mais tarde amiga.
Abraços.

Teredecorando disse...

Olá Beth,
Eu também amo uma cozinha bem organizada e bonita. Não gosto do estilo clean.
Gostei muito dos decalques que você colou no vidro.
O texto é demais. Cozinha mineira...ah!!! Tenho saudades da casa da minha avó. Uma cozinha com fogão a lenha. Um calor mais do que humano para aquecer longos papos.
Beijos...Saudades de tu cara de tatu.kkkk

Socorro Melo disse...

Olá, Beth!

Emocionante! Porque também gosto de cozinha, não pra cozinhar, mas para estar lá, kkk
São belíssimas as imagens... Cozinha nos lembra aconchego, comunhão, confraternização...
O texto do Rubem Alves me reportou a tempos de infância quando, na casa da minha avó, ficava rodeando o fogão a lenha, vendo o crepitar das chamas, as labaredas, e a atividade das minhas tias que com muita habilidade o mantinham acesso, atiçando, mexendo nas brasas, de fato, uma arte.
Por fim, quero agradecer o seu carinho, sua atenção, que me deram um empurrão, e que por isto estou aqui, kkk
Valeu, amiga!

Um grande abraço
Socorro Melo

Márcia Cobar disse...

Betinha!
Adorei o post! Quantas cozinhas lindas... Mas salvo a mais moderna, que era bem servida de armários, as demais são bem mais decorativas e emocionais... Sem muito espaço para guardar a coisarada que a gente acumula!
Passei por este dilema no meu ap. Queria uma cozinha fofa, cheia de cores e quadrinhos. Mas acabei colocando armário em tudo, uma vez que minha sala não terá muito espaço para guardar as coisas.
Que belo texto de Rubem Alves...
Achei isso aqui demais:
"Um fogo aceso é um sacramento de comunhão solitária. Solitária porque a chama que crepita no fogão desperta sonhos que são só nossos. Mas os sonhos solitários se tornam comunhão quando se aquece e come."
Beijos querida!

Cristina Pavani disse...

Ah, Beth... as cozinhas!
Voltei à infância, com guarda-comida, tampeiro na parede, talha com água, lenha atrás da porta.

Aqui em Pocinhos do Rio Verde, Rubem Alves tem (ou tinha) um sítio: Aquele perto da cachoeira, com porteira azul. Como será a cozinha?
Um abraço.

Regina Rozenbaum disse...

As imagens são mesmo lindas, mas como mineirinha que sou, gosto mesmo é das mais simples, rústicas,se possível com um fogão de lenha dusbaum... Rubem(mineiro dusbaum) descreve com maestria a "função" desse coração de uma casa!
Beijuuss

Toninho disse...

Tinha que voltar para reler esta perfeita inspiração do Rubem sobre esta parte da casa, que bem sei da realidade.É bem assim mesmo e onde tudo acontece, onde se estreita os laços familiares.Lá na casa da minha mãe é tudo isto.
Valeu Beth!!!
Já que passou o sumiço,rsrs já estou esperando para mais uma viagem no seu Taxi.
Um abração amiga.

Calu Barros disse...

Betinha,
ninguém descreve uma cozinha como o Rubem o faz.Estas que vivem em nossas melhores lembranças.
A cozinha é mesmo a intimidade da casa, lugar onde família e amigos querido compartilham grandes e alegres momentos;ao redor do fogo como nossos ancestrais citados no texto, em comunhão de sabores, aromas e pensamentos.
É um canto do coração da dona da casa que mora ali, na cozinha.
As fotos são muito inspiradoras.
Bjkas,
Calu

pensandoemfamilia disse...

Lindo o texto,. Eu gosto de cozinhas claras e não é o meu lugar predileto. Desde menina a reunião sempre foi em salas.
Mas as suas imagens estão interessantes em suas combinações.
bjs

Nina disse...

Eita que tu ta animando a minha memoria hoje, mulé!

Eu tbm adoro cozinha e sempre foi minha parte preferida da casa, eu gosto de cozinhar, mas nao é so por isso, é tbm por causa disso que tu falaste, do aconchego que a cozinhar traz, de sentar e conversar, e como na minha cozinha tem sempre musica, é tbm um lugar bom pra ficar pensando, dancando, cantado :-) Ah e a minha tbm é bem coloridinha. Nao gosto tanto porque ela é pequena demais, mas td bem...

Digo que tu animou minha memoria porque causa do texto maravilhoso que postou, me levou direto pra Minas, mais especificamente pra Ouro Preto, onde ficavamos no casarao do meu ex sogro, que ele dividia com uma prima (tinha a parte dele e a dela, bem separadas). Era um casarao enorme!! com jardim gigantesco que ee tratava com o maior afinco, a casa pertenceu ao poeta inconfidente Claudio Manoel da Costa. E a cozinha, menina, era tao assim, exatamente como diz o texto. E era o lugar mais cheio de vida do lugar.
Mineiro é assim mesmo como ele descreve, sabe?
Bateu uma saudade danada. Mas curioso, eu tbm tava pensando nessa casa e no meu sogro, que morreu há 5 anos, ainda ontem :-(

Maria Célia disse...

Oi Beth
Que postagem bacana, cozinha é um dos meus ambientes preferidos no lar, tanto é que pedi às arquitetas que planejassem uma cozinha bem grande na casa nova.
Belíssimas imagens de cozinhas coloridas, alegres e vibrantes.
O texto do Rubem Alves é um primor, maravilhoso.
Beijo.